Investimento de VCs cai 19% até junho na América Latina, mas há otimismo

Dados da LAVCA mostram que startups da região receberam US$ 5,4 bilhões em 541 rodadas no primeiro semestre; ano caminha para ser o segundo melhor da história

Vista aérea de São Paulo, um dos principais hubs para o investimento de VCs em startups
17 de Agosto, 2022 | 07:15 PM

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Bloomberg Línea — O investimento de empresas de capital de risco em startups na América Latina caiu 19,4% no primeiro semestre deste ano, para US$ 5,4 bilhões, contra US$ 6,7 bilhões investidos no mesmo período no ano passado. Os dados são da LAVCA (Associação Para Investimento em Capital Privado na América Latina). Foram 541 transações no primeiro semestre.

Queda de 19% nos investimentos de VC na LatAm no primeiro semestre.dfd

Apesar da queda, a associação está otimista: considera que 2022 está a caminho de ser o segundo maior ano de investimento de capital privado na América Latina, depois de 2021, impulsionado pelo aumento de negócios em infraestrutura digital, energia renovável e startups em estágio inicial (early-stage).

“Momentos difíceis sempre vão existir na vida de qualquer empreendedor. Este, sem dúvida, é um deles. Se você tem uma história de quatro anos de empresa, você só viu a bonança”, disse Camila Junqueira, diretora da Endeavor Brasil, em entrevista à Bloomberg Línea.

“O dinheiro ficou mais caro e eu não acho que foi em um nível desproporcional. Estamos voltando para uma média histórica antes do montante recorde que tivemos para empresas de tecnologia na América Latina”, ponderou.

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Dados da própria LAVCA apontam que as perspectivas são de fato positivas: LPs (Limited Partners, como family offices) ainda estão investindo em fundos. Mais de US$ 2 bilhões foram arrecadados em 47 fundos que foram fechados no primeiro semestre, aproximando-se do recorde de US$ 2,6 bilhões arrecadados em 56 fundos em 2021. Os fechamentos de fundos notáveis incluíram Lightrock, Valor Capital Group, Headline Brazil, MAYA Capital e 17Sigma.

Os dados da LAVCA também apontam que, embora o VC tenha desacelerado de janeiro a junho, a dívida de risco (venture debt) continuou crescendo, chegando a quase US$ 700 milhões no semestre em comparação com US$ 826 milhões em todo o ano de 2021 e US$ 110 milhões em 2020.

Rodrigo Baer, cofundador e sócio-gerente da Upload Ventures (um spin-off do SoftBank), concordou que o mercado está voltando ao que deveria ter sido antes de 2020. “Tinha muita coisa que não fazia sentido sendo investida em 2020 e 2021 e agora estamos voltando para a razoabilidade. Isso é saudável e vai tornar as startups mais sólidas. Tinha muita gente que estava vendo um caminho de ficar rico rapidamente vindo para venture capital. Não é assim que funciona”, disse à Bloomberg Línea.

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Considerando todos os investimentos em capital privado - contando venture capital, private equity e outros - na América Latina na primeira metade do ano, a região captou US$ 15,9 bilhões em 636 transações. Foi um aumento de cerca de 45% em relação ao mesmo período do ano passado, quando US$ 11,1 bilhões foram investidos, segundo a LAVCA.

Investimento em capital privado na América Latinadfd

Contudo, em comparação com o último semestre de 2021, houve uma desaceleração de cerca de 15%: um recorde de US$ 18,7 bilhões havia sido investido em capital privado na região.

Os dados da associação mostram um interesse crescente de gestores de fundos em energia renovável: o volume investido nessa indústria na região foi de US$ 1,3 bilhão no primeiro semestre, mais que o dobro em relação aos US$ 616 milhões em todo o ano de 2021. O investimento se concentrou no desenvolvimento de novos projetos de energia solar fotovoltaica e de parques eólicos.

Entre os investimentos notáveis no primeiro semestre deste ano estão a aquisição de US$ 334 milhões do dos ativos hidrelétricos da Contour Global no Brasil pelo Patria Investimentos e a de US$ 200 milhões da BlackRock em um portfólio de projetos fotovoltaicos no Chile, além do investimento de US$ 260 milhões da EIG na empresa chilena HIF Global.

No primeiro trimestre, a LAVCA destacou que a Actis vendeu duas plataformas de energia no Chile (Aela Energia) e no Brasil (Echoenergia) por um valor combinado superior a US$ 2 bilhões.

Ritmo mais lento

Em linha com as tendências globais, a LAVCA apontou que o investimento em rodadas Série C em diante teve “um ajuste significativo” na América Latina.

A exceção, de acordo com o CB Insights, é o México, cujo volume quase dobrou no segundo trimestre em relação ao primeiro graças a duas mega-rodadas.

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Fonte: CB Insightsdfd

No entanto o CB observa que os negócios em estágio inicial dominam a atividade de investimento no México em 2022 até agora.

A LAVCA complementou que, no primeiro semestre, o investimento em Seed e em fase inicial se manteve forte na região, com 113% e 48% de crescimento, respectivamente, quando comparado com o capital investido no mesmo período de 2021.

O tamanho médio de uma rodada de VC em estágio inicial também foi ajustado para baixo, atingindo US$ 7,5 milhões no segundo trimestre de 2022, abaixo do valor histórico de US$ 12,7 milhões no quarto trimestre de 2021, de acordo com a LAVCA.

Cresce investimento em startups de mulheres

Além disso, quase um terço do capital de risco foi para startups lideradas por mulheres no primeiro semestre de 2022, um recorde desde que a LAVCA começou a rastrear essa métrica em 2019.

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Entre as startups lideradas por mulheres que receberam financiamento de capital de risco estiveram a plataforma de Buy Now, Pay Later KEO Mundial, que fica em Miami, a proptech Habi, com sede na Colômbia, a HRtech Sólides, que fica no Brasil, e a fintech Kushki, do Equador.

De acordo com a LAVCA, em tempos turbulentos, os VCs estão optando por aplicar mais capital em fundadores experientes. No primeiro semestre de 2022, empreendedores seriais levantaram 43% do volume em dólares do capital de risco investidos na região, um novo recorde para a região, de acordo com o Latin American Startup Directory 2022 da LAVCA.

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Isabela  Fleischmann

Jornalista brasileira especializada na cobertura de tecnologia, inovação e startups