Unicórnios vão às compras sem medo de recessão na América Latina

Chilena Betterfly, de benefícios corporativos, comprou a Flexoh, e a Frete.com tem R$ 300 milhões para comprar empresas no Brasil

M&As da América Latina cresceram em maio de 2022 em relação ao mesmo período do ano passado
11 de Julho, 2022 | 06:45 PM

Bloomberg Línea — O mercado de fusões e aquisições para empresas de tecnologia segue aquecido em meio a um cenário mais complexo de juros e alta inflação. O unicórnio de transporte rodoviário Frete.com (ex-CargoX) tem R$ 300 milhões em caixa para comprar empresas de tecnologia no Brasil. E o novo unicórnio chileno, a Betterfly, comprou a fintech Flexoh para iniciar suas operações na Europa.

Nesta segunda-feira (11), a startup de mobilidade mexicana Urbvan foi comprada pela Swvl Holdings Corp por US$ 82 milhões, proporcionando uma saída para a Kaszek, Angel Ventures, DILA Capital, Mountain Nazca, Capria, Liil Ventures e o investidor anjo Kevin Efrusy, que investiram na startup.

Na sexta, a fintech brasileira Creditas comprou a operação brasileira do Andbank por R$ 500 milhões e também adquiriu a Kzas, por um valor não divulgado, para entrar no mercado de crédito imobiliário.

Na semana passada, o também unicórnio Hotmart comprou a eNotas, companhia que oferece soluções para emissão automática de notas fiscais eletrônicas. No final de maio, a empresa norueguesa Visma comprou a startup peruana Mandü, uma empresa de software para recursos humanos.

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De acordo com o relatório Transactional Track Record (TTR), os M&As da América Latina cresceram em maio de 2022 em relação ao mesmo período do ano passado. Brasil, México, Chile, Colômbia e Argentina são, respectivamente, os cinco países com maior volume de operações ocorridas desde janeiro.

No Brasil, metade dos M&As no primeiro semestre tiveram uma startup como compradora, segundo dados da plataforma de inovação Distrito.

Nos seis primeiros meses do ano, no Brasil, a Gupy comprou sua concorrente Kenoby por R$ 500 milhões; a fintech VADU comprou a Gesplan por R$ 40 milhões; e a JSL (JSLG3) comprou a logtech Truckpad por R$ 10 milhões.

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“A correção nos valuations que as empresas de tecnologia estão sofrendo as torna mais acessíveis às oportunidades de aquisição”, disse Gustavo Araújo, CEO do Distrito.

As empresas de fora também têm interesse em aproveitar “preços mais baixos” para comprar no país. A colombiana Truora recentemente anunciou a aquisição da ZapSign no Brasil e o decacórnio israelense Rapyd disse que estava avaliando possíveis aquisições no país.

Companhias vão às compras

Já a Frete.com pretende analisar mais de 20 transações nos próximos 24 meses, segundo o CEO e cofundador da empresa, o argentino Federico Vega.

A Frete.com é uma plataforma que ajuda caminhoneiros a encontrarem carga em tempo real. “O caminhoneiro não fica viajando vazio, ele encontra carga para ir e para voltar e assim tem um lucro até 50% a mais do que o mercado offline”, disse Vega, em entrevista à Bloomberg Línea. “No mercado offline hoje a capacidade ociosa é entre 40 a 60%, porque eles ficam procurando cargas”. O modelo de negócio é similar ao da empresa chinesa Full Truck Alliance, que captou US$ 1,6 bilhão em seu IPO em janeiro do ano passado.

Para o dono da carga, a economia é de cerca de 25%, segundo a Frete.com. “Além de não ficar vazio, o caminhoneiro tem certeza que vai receber o dinheiro daquele frete e o dono da carga tem certeza que não vai ser roubado”, contou Vega.

Hoje a empresa tem mil funcionários e este ano contratou pouco mais de 400. Até o final do ano, a ideia é contratar mais 350 pessoas. Segundo Vega, a startup não deve fazer layoffs, mas constantemente há “trocas” por performance. Até o final do ano, a Frete.com deve ter 1.400 pessoas. Para o CEO, a ideia das aquisições não é comprar a base de clientes, mas as equipes. Ele afirma que não fará como a Loft, que demitiu atribuindo às redundâncias causadas pelas aquisições.

Vega afirma que a Frete.com é diferente das demais startups que tiveram que vender mais barato para ganhar escala - e que necessitavam de capital externo para fazer isso. A Frete.com conecta duas partes em uma plataforma e cobra por essa conexão, por isso não teve que comprar algo e vender mais barato para crescer. “Sempre tivemos uma margem grande. Em um momento em que o mercado vira e há menos investimento, basicamente o que fazemos é contratar mais devagar e investir menos em marketing para perder menos dinheiro”.

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Segundo o CEO, os R$ 300 milhões separados para as aquisições vêm dos pouco mais de R$ 2 bilhões que a startup recebeu nos últimos anos, dinheiro que não tinha sido gasto justamente por conta da margem alta.

“Tem um monte de empresas que não estão conseguindo levantar dinheiro mas tem boas tecnologias. Essas empresas podem se beneficiar do nosso dinheiro e da nossa operação”, disse.

A Frete.com não divulga faturamento, mas diz que tem 140 mil empresas clientes que publicam cargas todo mês em sua plataforma e mais de 800 mil caminhões ativos. Esses caminhoneiros ganharam mais de R$ 100 bilhões na plataforma em 2021, segundo Vega.

“Eu não quero comprar empresas tradicionais ou empresas que usam tecnologia para melhorar as operações. Procuramos empresas de software, nativamente digitais”, disse o executivo, que pretende, com as aquisições, montar um ecossistema para o transporte de cargas no Brasil.

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“Podemos comprar várias empresas ou só uma, dependendo do que a gente encontrar. Não somos um venture capital. Estamos à procura de M&A e empresas que podem se beneficiar do capital”.

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Isabela  Fleischmann

Jornalista brasileira especializada na cobertura de tecnologia, inovação e startups

Yanin Alfaro (BR)

Jornalista com experiência em startups e tecnologia