Mercado Livre recebe US$ 233 mi do Goldman Sachs para avançar em crédito

Mesmo em ambiente com juros altos, empresa de e-commerce tem conseguido manter inadimplência perto da média história, diz Facundo Cuppi à Bloomberg Línea

Centro de logística do Mercado Livre em Cajamar (SP): aumento dos empréstimos para consumidores e empresas
11 de Julho, 2022 | 03:00 PM

Bloomberg Línea — O Mercado Livre (MELI) receberá uma linha de financiamento privado de US$ 233 milhões (cerca de R$ 1,250 bilhão ao câmbio do dia) do Goldman Sachs (GS), em informação antecipada pela Bloomberg Línea. Os recursos serão direcionados para o aumento da concessão de crédito a consumidores e empresas pelo gigante de e-commerce da América Latina em dois de seus maiores mercados, Brasil e México, que vão receber US$ 106 milhões e US$ 127 milhões, respectivamente.

Com os novos recursos, o Mercado Livre chega à marca de US$ 1 bilhão em capital para bancar os negócios de crédito, disse Facundo Cuppi, diretor de Estratégia de Empréstimos & Operações para América Latina do Mercado Livre, em entrevista à Bloomberg Línea. A companhia dispõe também do acesso ao mercado de capitais na Argentina e linhas com o Citi (C) no México e no Brasil.

O financiamento representa um acréscimo à linha anunciada em 2020 também com o Goldman Sachs, levando o volume total a US$ 485 milhões. A nova linha, na modalidade de revolving credit facility, tem prazo de dois anos, com extensão de mais dois, enquanto as taxas de juros não foram divulgadas pelas partes. O Mercado Livre pode pagar os recursos durante o período e tomar novamente.

O crédito tem como garantia a própria carteira de empréstimos concedidos a empresas e consumidores. “A operação representa uma aposta forte do banco, que confia no nosso crédito e por isso está tomando o risco com essa carteira em um contexto como o atual”, disse Cuppi. Trata-se de uma das maiores operações de capital do banco americano em uma fintech da América Latina.

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Segundo ele, as linhas com o banco de investimento americano representam um instrumento distinto ao de uma emissão no mercado de capitais, com taxas consideradas competitivas.

O foco dos empréstimos serão consumidores e pequenas e médias empresas sem acesso ao sistema financeiro tradicional, de acordo com o Mercado Livre. Segundo Cuppi, três em cada quatro consumidores que tomam dinheiro para suas compras têm uma nota de crédito (credit score) tão baixa que não conseguiriam no sistema bancário tradicional.

Ao promover o acesso a empréstimos, por sua vez, o Mercado Livre consegue fidelizar o cliente e criar uma recorrência. “De cada 100 vendedores que tomam crédito conosco pela primeira vez, 80 voltam a pedir emprestado depois”, afirmou o diretor da companhia.

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A estratégia para conseguir emprestar para esse público sem que as taxas de inadimplência saiam do controle, segundo o executivo, é fazer uso de modelos de análise de risco que levam em conta cerca de 2.500 variáveis, com inteligência artificial; e começar com oferta de valores médios mais baixos, da ordem de US$ 5 no caso de pessoas físicas, e prazos curtos, de três meses, para que seja possível construir um histórico de relacionamento e então ampliar o tíquete médio com o passar do tempo. Para pessoas físicas, o valor médio é de US$ 24. No caso de empresas, de US$ 730.

Cuppi disse que os índices de inadimplência da carteira continuam em linha com médias históricas do Mercado Livre. No primeiro trimestre, a taxa dos chamados non performing loans (NPL) subiu 3,3 pontos percentuais, para 27,6%, em níveis próximos aos do segundo e do terceiro trimestres de 2021.

“Estamos conscientes sobre o contexto atual e acompanhando muito de perto esses indicadores [de atrasos], mas não houve nenhum desvio significativo. Não estamos sendo agressivos nem cautelosos, mas tomando decisões de acordo com a evolução do mercado”, disse Cuppi.

“O Mercado Crédito e todo o ecossistema do Mercado Livre são uma plataforma única para melhorar o fluxo de capital para empresas sem acesso a crédito no sistema financeiro tradicional”, disse Santiago Rubin, diretor gerente e head de Technology Media e Telecom para América Latina do Goldman Sachs, em nota.

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Marcelo Sakate

Marcelo Sakate é editor-chefe da Bloomberg Línea no Brasil. Anteriormente, foi editor da EXAME e do CNN Brasil Business, repórter sênior da Veja e chefe de reportagem de economia da Folha de S. Paulo.