PF reforça buscas por jornalista e indigenista desaparecidos no Amazonas

Dom Phillips e Bruno Araújo Pereira estão desaparecidos há mais de 50 horas; eles viajavam próximo à fronteira entre Brasil, Colômbia e Peru

Indigenista desaparecido teria recebido ameaças de morte por seu ativismo contra a mineração ilegal, caça ilegal e extração de madeira na região
Por Andrew Rosati
07 de Junho, 2022 | 04:51 PM

Bloomberg — A Polícia Federal informou na tarde desta terça-feira (7), em nota, que irá adicionar reforços às buscas do indigenista Bruno Araújo Pereira e do jornalista inglês Dom Phillips, do The Guardian, através do envio de uma aeronave com integrantes da PF e também do exército brasileiro. A nota diz ainda que, “com a evolução do caso, novas informações serão divulgadas”.

Dom Phillips, colaborador do jornal britânico The Guardian, e Bruno Araújo Pereira estão desaparecidos desde domingo, quando foram vistos pela última vez pela manhã viajando pelo estado do Amazonas, de acordo com um comunicado da associação de indígenas Unijava do Vale do Javari.

Pereira, que trabalha para a Fundação Nacional do Índio do Brasil (Funai), teria recebido ameaças de morte por seu ativismo contra a mineração ilegal, caça ilegal e extração de madeira na região. Os dois viajavam de barco no rio Itaquaí, no Vale do Javari, próximo à tríplice fronteira entre Brasil, Colômbia e Peru. A rota é conhecida por ser usada por traficantes de drogas para contrabando.

“Conheço bem a região e sei que vários acidentes podem acontecer. Mas estou preocupado com as ameaças que ele recebeu”, disse a antropóloga Beatriz de Almeida Matos, sócia de Pereira, à Folha de São Paulo.

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As notícias do desaparecimento da dupla se espalharam rapidamente por todo o país na segunda-feira (6), com políticos e lideranças expressando suas preocupações. “Espero que sejam encontrados em breve, que estejam seguros e bem”, escreveu no Twitter o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que Phillips entrevistou em 2017.

Nesta tarde o Instituto Igarapé, think and do tank com foco em segurança pública, climática e digital, emitiu uma nota dizendo que vê “com atenção as informações relacionadas às buscas e à prisão de possíveis suspeitos envolvidos com o desaparecimento”, e pediu uma mobilização urgente das autoridades brasileiras.

Mais cedo, o presidente Jair Bolsonaro disse à imprensa que a viagem de Philips e Pereira foi uma “aventura” não recomendada, e afirmou ainda que o desaparecimento pode ser fruto de execução ou acidente. O fato vem sendo largamente repercutido na mídia internacional.

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Contexto

Phillips, que faz reportagens sobre o Brasil há quase 15 anos, trabalha atualmente em um livro sobre meio ambiente. Ele e Pereira estavam na região para realizar entrevistas com as comunidades locais sobre o monitoramento da pesca ilegal e das operações de caça.

Veterano da Funai, Pereira supervisionava a região para a agência. Mas a dupla foi ameaçada durante sua viagem de reportagem, disse a Unijava, sem fornecer mais detalhes. Em nota, a Unijava disse que eles deixaram a comunidade de São Rafael com destino à cidade de Atalaia do Norte, em uma viagem que deveria levar duas horas.

O Ministério Público Federal disse em comunicado que abriu uma investigação sobre o desaparecimento da dupla com forças que incluem as polícias federal, civil e marinha, que estão conduzindo as buscas.

Ontem (6), um porta-voz do Guardian News & Media foi citado no jornal dizendo que estava “muito preocupado e está buscando urgentemente informações sobre o paradeiro e a condição de Phillips”. “Estamos em contato com a embaixada britânica no Brasil e autoridades locais e nacionais para tentar apurar os fatos o mais rápido possível.”

-- Com reportagem de Melina Flynn

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