França: Le Pen se apresenta como defensora dos pobres na luta por votos de esquerda

A candidata ao governo disse que seu rival, Emmanuel Macron, “matou os sindicatos, matou completamente o diálogo social”

disputam votos da esquerda em acalorada eleição francesa
Por Samy Adghirni
12 de Abril, 2022 | 11:11 AM

Bloomberg — A líder nacionalista Marine Le Pen se apresentou como a única candidata capaz de defender os pobres em um discurso claro para eleitores de esquerda nesta terça-feira (12), quando uma disputa acirrada pela presidência francesa entra em sua fase final.

“Estou fundamentalmente ligada ao diálogo social”, disse Le Pen durante uma entrevista de uma hora à rádio France Inter. Seu rival, o presidente Emmanuel Macron, “matou os sindicatos, matou completamente o diálogo social”, disse ela. “Quero devolver o dinheiro ao povo francês.”

A menos de duas semanas da votação final do segundo turno em 24 de abril, Le Pen e Macron estão de olho nas 7,7 milhões de pessoas que apoiaram o veterano de extrema esquerda Jean-Luc Melenchon no primeiro turno da eleição de domingo (10). O presidente passou horas conversando com os eleitores sobre poder de compra, aposentadoria e emprego nos antigos centros industriais do norte, na segunda-feira (11).

Quando perguntada como ela conquistaria essa parte do eleitorado, Le Pen disse que só ela pode oferecer “proteção”.

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Emmanuel #Macron fez da aposentadoria aos 65 anos a medida exata de seu projeto para os próximos 5 anos! Esta é uma reforma profundamente injusta. @FranceInter #Elysée2022

— Marine Le Pen (@MLP_officiel) 12 de abril de 2022

A postura protecionista de Le Pen em questões econômicas já permitiu que ela alcançasse alguns eleitores que tradicionalmente apoiaram candidatos de esquerda e ficaram irritados com o apoio de Macron a negócios e investimentos.

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A nacionalista de 53 anos ficou 4,7 pontos percentuais atrás de Macron no domingo (10). Melenchon ficou em terceiro. Embora as pesquisas deem vantagem ao presidente, Le Pen já avançou mais de 10 pontos desde a última pesquisa, deixando a disputa mais acirrada do que o esperado.

Le Pen atacou Melechon na entrevista por trair seus partidários ao não apoiá-la - o esquerdista instou seus eleitores a não dar “um único voto” a ela em seu discurso de concessão, ao mesmo tempo em que não endossou Macron, a quem ele acusou de favorecer os ricos.

“O comportamento de Melenchon foi uma grande fonte de espanto para mim”, disse ela. “Ele foi mais duro com Macron cinco anos atrás”, acrescentou ela em referência às eleições de 2017. Le Pen chamou o plano de Macron de aumentar a idade de aposentadoria para 65 anos de profundamente injusto.

Pesquisas mostraram que o poder de compra é uma das principais preocupações dos franceses, já que a guerra na Ucrânia exacerba os custos crescentes de energia e alimentos. Le Pen tem insistido em uma plataforma que colocou o custo de vida à frente da imigração, historicamente sua principal causa. A ênfase inicial de Macron estava nas relações exteriores e sua condução bem-sucedida do país durante a pandemia e a guerra.

Mas à medida que ele avança em sua campanha, a economia está ocupando o centro do palco.

O ministro das Finanças, Bruno Le Maire, falando na TV quase ao mesmo tempo que Le Pen, disse que sua agenda econômica aumentaria a pobreza e aprofundaria as divisões sociais. “Nossas propostas sobre poder de compra são mais eficientes e justas do que as de Marine Le Pen”, disse.

No norte da França na segunda-feira (11), em outro esforço claro para atrair os eleitores da classe trabalhadora que seriam mais afetados, Macron, de 44 anos, disse que pode estar disposto a ajustar seus planos de reforma previdenciária. “Estou abrindo a porta muito claramente”, disse ele. “Talvez, se houver muitas tensões, tenhamos que parar em 2027 e não continuar” com a reforma. Isso elevaria a idade de aposentadoria para 64 anos, em vez de 65.

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O grupo Medef, de lobby empresarial, disse em comunicado que ponderou os programas econômicos de Macron e Le Pen e concluiu por unanimidade que as políticas do presidente em exercício eram preferíveis “para garantir o crescimento econômico e de empregos”.

“Mesmo que tenha algumas lacunas, é a melhor posição para preparar a França para os desafios do futuro, escolhendo a competitividade e o crescimento sustentável”, declarou o Medef.

“O programa econômico de Marine Le Pen levaria o país a ficar atrás de seus vizinhos e o colocaria à margem da União Europeia. Isso prejudicaria a confiança entre os atores econômicos, reduzindo assim o investimento e a criação de empregos. O aumento muito forte e não financiado dos gastos públicos arriscaria colocar o país em um beco sem saída.”

Dois ex-pesos-pesados da política francesa também se reuniram em torno do presidente na terça-feira (12): o ex-primeiro-ministro Lionel Jospin, um socialista, e o ex-presidente de direita Nicolas Sarkozy. Somente Macron é capaz de navegar em uma complexa crise global e propõe um plano econômico que valoriza o trabalho, disse Sarkozy em sua página no Facebook. “Nunca erramos quando escolhemos clareza e consistência.”

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– Com a colaboração de James Regan.

– Esta notícia foi traduzida por Marcelle Castro, Localization Specialist da Bloomberg Línea.

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