Crise de fertilizantes: Agricultor troca milho por soja para economizar nos EUA

Alguns fazendeiros começaram a fazer a troca antes mesmo da invasão da Ucrânia pela Rússia, que selou salto nos preços

Soja requer menos fertilizantes no plantio
Por Kim Chipman e Michael Hirtzer
30 de Março, 2022 | 06:39 PM

Bloomberg — Nos Estados Unidos, o milho e a soja dominam a agricultura do país. O primeiro exige enorme quantidade de fertilizantes, mas a oleaginosa exige muito pouco.

O aumento astronômico nos preços dos fertilizantes — 27% este ano e 130% no ano passado — forçou fazendeiros a reavaliarem o quanto vão semear de cada cultura na primavera que se inicia no país. Segundo pesquisa da Bloomberg, eles vão dedicar cerca de 800 mil hectares a mais este ano à soja e 800 mil hectares a menos ao milho.

Nos EUA, agricultores raramente plantam mais soja que milhodfd

A mudança está acontecendo na fazenda de Tim Gregerson na planície do estado de Nebraska. Gregerson sempre planta mais milho do que soja. Mas quando os preços dos fertilizantes dispararam novamente em janeiro, ele resolveu plantar metade de cada cultura. E ele tomou a decisão antes de a Rússia, a maior produtora mundial de fertilizantes, invadir a Ucrânia e acelerar a alta de preços desse insumo.

“O fertilizante está fora de controle”, diz Gregerson, citando também outros custos que estão subindo: combustível, peças de máquinas, herbicida e ração para o gado.

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Os preços das commodities agrícolas também estão em alta. Milho e soja acumulam valorização de 22% neste ano porque a demanda global está em expansão enquanto as limitações de oferta são agravadas pela guerra. O trigo, que representa a terceira maior safra dos EUA, teve alta ainda maior, de 31%.

Diante da valorização do milho neste início de ano, John Gilbert planejava expandir o milharal na fazenda da família em Iowa. Mas assim como Gregerson, ele optou pela soja por conta do aumento do custo dos fertilizantes em janeiro.

Para alguns analistas, é possível (embora improvável) que a plantação de soja supere a de milho, o que só aconteceu duas vezes em quase um século.

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Oleaginosa é uma das principais culturas no paísdfd

Ainda assim, o tumulto que o mercado de fertilizantes vem causando nos EUA é menos grave do que em outras potências agrícolas como o Brasil, onde os agricultores temem não encontrar quantidade suficiente de fertilizantes este ano.

A situação deve aumentar ainda mais a inflação de alimentos e o número de pessoas que passam fome no mundo, que já vinha subindo por causa da pandemia e de secas no Brasil, México, Canadá, Rússia e EUA.

Nos últimos anos, os agricultores americanos aplicaram em média 116 quilogramas de fertilizantes nas plantações de milho e apenas 29 quilogramas nas plantações de soja, de acordo com estudo da Bloomberg Green Markets a partir de uma sondagem do Departamento de Agricultura.

“Eu posso não ganhar tanto com a soja, mas ao mesmo tempo não tenho as mesmas despesas”, diz Kenneth Hartman, responsável por aproximadamente 1,5 mil hectares de terras agrícolas no Estado de Illinois. “Estamos preocupados com os custos porque não queremos entrar no vermelho se tivermos uma colheita ruim.”

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