Revolução alimentar: Como covid, guerra e inflação mudam a forma como comemos

Economia mundial amarrada pela escassez envia ondas de choque pelos mercados de commodities e prejudica o sistema alimentar global

Trabalhadores abastecem lojas no centro velho de Lviv
Por Anuradha Raghu e Pratik Parija
29 de Março, 2022 | 08:06 AM
dfd

Na Índia, os donos de restaurantes de beira de estrada estão reduzindo pela metade o uso de óleo de palma e mudando para lanches cozidos no vapor.

Os padeiros da Costa do Marfim querem reduzir o tamanho padrão de sua baguete. Sanduíches das barracas de fast food dos EUA vão usar menos fatias de bacon e as pizzas, uma pitada mais parcimoniosa de calabresa.

Com a economia mundial já amarrada pela escassez relacionada à covid e agora sofrendo com a invasão da Ucrânia pela Rússia, os preços de itens básicos como pão, carne e óleos de cozinha saltaram em todo o mundo, enviando ondas de choque pelos mercados de commodities e prejudicando o sistema alimentar global.

Para as sociedades mais vulneráveis – como o Iêmen, que importa 90% de seus alimentos em meio a um conflito opressivo e desvalorização da moeda – isso representa um risco genuíno de fome. Em outros lugares, isso desencadeia preocupações sobre o que os economistas chamam de destruição de demanda, um fenômeno que acontece quando as mercadorias ficam muito caras para serem compradas.

PUBLICIDADE

“Os armários estão vazios”, disse Julian Conway McGill, chefe da consultoria LMC International no Sudeste Asiático, “e os consumidores terão que reduzir sua ingestão.”

Tanto nas residências quanto nos restaurantes, os óleos vegetais tornaram-se indispensáveis, usados para fritar macarrão instantâneo, deixar bolos mais úmidos e dar textura a folheados.

Exportadores já enfrentavam escassez de mão de obra e o mau tempo. O ataque à Ucrânia abalou ainda mais o comércio global de safras e elevou os preços dos dois óleos mais comuns, de palma e de soja, a níveis recordes.

PUBLICIDADE

Os governos estão começando a intervir, restringindo exportações, controlando preços e sendo mais duros com quem está estocando. Mas, à medida que os custos mais altos chegam aos supermercado e os festivais na Ásia se aproximam, os consumidores estão sendo forçados a fazer cortes.

Raju Sahoo, de 48 anos, dono de um restaurante de beira de estrada no estado indiano de Odisha, no leste da Índia, conseguiu reduzir pela metade suas compras diárias de óleo de palma para 15 quilos ao vender menos salgadinhos fritos e mais alimentos cozidos no vapor.

“Atualmente, estou fazendo de 300 a 400 bolinhos fritos por dia, comparado a cerca de 1.000 antes”, disse Sahoo. “Comecei a fazer idlis e upma para dar mais opções aos meus clientes”, acrescentou, referindo-se a bolos de arroz cozidos no vapor e de sêmola, populares no café da manhã.

Cliente embala latas de óleos de cozinha comprados em uma loja em Nova Déli (Anindito Mukherjee/Bloomberg)dfd

A guerra também está exacerbando um aumento recorde de preços de fertilizantes, o que só vai encarecer os alimentos. O agricultor brasileiro Zilto Donadello planeja reduzir as aplicações de fertilizantes de 30% a 50% na próxima safra de soja, provavelmente resultando em rendimentos mais baixos em sua fazenda de 400 hectares no norte de Mato Grosso, coração agrícola do maior produtor mundial de soja.

Donadello não comprou insumos para o plantio em setembro porque estava esperando uma queda de preço após a alta do ano passado – e então enfrentou o novo choque da invasão. Os preços da soja subiram, mas não o suficiente para compensar os custos mais altos.

“Os riscos são muito altos para uma margem pequena”, disse Donadello.

Fertilizante em depósito em fazenda no Brasil (Andressa Anholete/Bloomberg)dfd

Veja mais em bloomberg.com

Leia também