Pague Menos: Reajuste de remédios pode atingir até 12% em abril

CFO diz que consumidor vai migrar para remédios genéricos, mais baratos, e que companhia vai abrir 120 lojas em 2022

Pague Menos diz que novo reajuste dos remédios deve ser suficiente para cobrir aumento de custos do setor em meio ao cenário de pressões inflacionárias
10 de Março, 2022 | 01:13 PM

São Paulo — O próximo reajuste médio dos medicamentos, a vigorar a partir do dia 1º de abril, pode ficar entre 10% e 12%, segundo expectativa da Pague Menos, terceira maior rede de farmácias do país. A estimativa é do CFO da companhia, Luiz Novaes, em entrevista nesta quinta-feira (10) à Bloomberg Línea. Ele disse que o governo deve divulgar a variação exata do reajuste dias antes do início da vigência.

Dos quatro componentes da fórmula para calcular o reajuste, só falta a divulgação de um deles, segundo Novaes. Em novembro, a Pague Menos esperava um reajuste menor, de 9%, considerando projeções elaboradas pelos bancos para o IPCA (inflação oficial do país) acumulado em 12 meses. A CMED (Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos), órgão interministerial responsável pela regulação econômica desse setor, é responsável pela autorização do ajuste dos preços.

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Sobre o impacto do reajuste e do novo cenário macroeconômico (pressões inflacionárias e aumento dos juros) no comportamento do consumidor, o executivo diz que os remédios genéricos e similares ganham a preferência dos clientes devido aos preços menores em relação aos produtos de referência, que são mais caros.

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Ele exemplifica o caso do omeprazol, remédio para problemas gástricos, cujo produto de referência oferece à Pague Menos uma margem de lucro de 18%, enquanto o genérico propicia uma margem maior, de 50%. “Com menos dinheiro no bolso, o consumidor migra de medicamentos de referência para genéricos, que nos dá uma margem maior de lucro”, afirmou Novais.

Guidance

Mesmo com a piora da inflação, o CFO diz que a companhia está otimista com 2022, justificando que o varejo farmacêutico cresce com a maior demanda por produtos e serviços de saúde com a pandemia da covid e o envelhecimento da população.

A Pague Menos divulgou um guidance (projeção) de abrir 120 lojas neste ano, acima dos 80 do ano passado. A estratégia, segundo o CFO, é inaugurar lojas no percurso de seus caminhões de entrega de medicamentos para as unidades, aumentando a eficiência da logística. Municípios de pequeno e médio porte, no Norte e Nordeste, berço da companhia, são citados como prioridade no calendário de abertura de novas unidades.

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Novais diz que a previsão para o crescimento anual do varejo farmacêutica é de 16%, acima dos 10% dos anos anteriores. Ele explica que o medicamento é o último item a ser cotado pelos consumidores em momentos de contração da renda, e que o setor tem apostado na oferta de produtos complementares, como vitaminas e serviços para o controle de doenças crônicas, o que tende a melhorar o sortimento das farmácias, bem como reforçar a composição de suas receitas.

Sobre a queda do lucro da companhia no quarto trimestre (de 30,8% para R$ 20 milhões, em relação ao mesmo período do ano passado), o CFO explicou que essa redução se deve à concentração de inaugurações (48) de novas lojas no quarto trimestre. “Uma loja gera um faturamento médio de R$ 800 mil por mês, mas em seus primeiros naos de vida, a unidade ainda entrega resultados negativos, entre R$ 100 mil e R$ 150 mil por mês, levando de seis a sete meses para atingir o break even [ponto de equilíbrio financeiro”, disse o executivo.

Em 2021, o lucro da Pague Menos somou R$ 176,6 milhões, aumento de 83,9%, com expansão de margem líquida de 0,9 ponto percentual, atingindo 30%. No ano passado, o Ebitda somou R$ 671 milhões, alta de 17,2%, com aumento de margem de 0,5 ponto percentual. O crescimento total de vendas foi de 10,3% em 2021, sendo 9,9% em mesmas lojas e 9,3% em lojas maduras. A operação digital atingiu 8,8% das vendas totais no quarto trimestre, com aumento de 85,3% em 2021.

Extrafarma

O CFO também falou sobre a expectativa de conclusão da compra da Extrafarma, anunciada no primeiro semestre do ano passado. O Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) declarou o o negócio como “complexo” e ainda não julgou a operação. Novaes espera que a Superintendência Geral do Cade tome uma decisão definitiva provavelmente no segundo trimestre deste ano e que até o terceiro trimestre haja o fechamento da operação. A expectativa dele é que o órgão antitruste não recomende a adoção de remédios para garantir condições pontuais de concorrência.

Sobre a ômicron, a Pague Menos foi alertada por uma consultoria norte-americana em novembro sobre a nova onda da covid com a descoberta da variante e conseguiu reforçar seus estoques de testes para o começo de 2022. Janeiro foi o mês recorde de demanda por testes e medicamentos para gripe e influenza, segundo Novais, mas em fevereiro começou a cair e março já voltou ao nível normal de demanda. “Fomos a rede que menos sofreu com a escassez de testes”, diz o CFO.

Em 2021, 2% da receita da Pague Menos foi oriunda de testes de detecção da covid, segundo o executivo. A ômicron provocou um aumento de absenteísmo na companhia no começo deste ano. Novais disse que normalmente a companhia registra, por dia, ausência de 3% a 4% de seu pessoal. Com a onda da ômicron, isso subiu para 20% dos funcionários afastados devido à doença.

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Market share

No ano passado, a Pague Menos perdeu participação de mercado. O market share caiu para 5,4%, redução de 0,3 ponto percentual. Novais diz que isso ocorreu devido à maior participação de farmácias independentes em bairros de periferia, refletindo uma tendência vista desde o início da pandemia de menor deslocamento dos consumidores de baixa renda para farmácias em regiões mais centrais, preferindo realizar suas compras em seus próprios bairros.

“No ano passado, foram abertas cerca de 4.000 farmácias novas no Brasil, principalmente independentes”, afirmou o CFO.

As vendas originadas nos canais digitais totalizaram R$ 623,4 milhões em 2021, registrando crescimento de 85,3% na comparação com o ano anterior. Segundo a companhia, o bom desempenho em vendas foi acompanhado em melhoria em rentabilidade, qualidade (taxa de conversão e tráfego orgânico) e nível de satisfação de clientes.

No quarto trimestre, os canais digitais atingiram 8,8% das vendas totais, 3,5 ponto percentual acima do mesmo período do ano anterior. Segundo a companhia, o destaque do trimestre foi a campanha de Black Friday promovida no e-commerce, com volume recorde de vendas e atração de novos clientes, alavancando a participação digital para 13,5% das vendas no principal dia de evento.

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Em 2021, a Pague Menos também aumentou sua capacidade logística por meio de parcerias com operadores de last mile em todo o país. No 4T21, ampliou a operação com “smart lockers” para mais de 150 pontos em São Paulo (SP) e Rio de Janeiro (RJ). Além disso, iniciou um piloto de entrega não poluente com veículo Tuk Tuk em Fortaleza (CE). No 4º trimestre, 92% das entregas foram realizadas em menos de 24 horas.

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Sérgio Ripardo

Jornalista brasileiro com mais de 25 anos de experiência, com passagem por sites de alcance nacional como Folha e R7, cobrindo indicadores econômicos, mercado financeiro e companhias abertas.