Bancos apostam em compensações únicas para seus executivos
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Bloomberg Opinion — O aumento dos salários e dos bônus foi um choque indesejável para os acionistas durante a temporada de resultados de 2021 dos bancos dos Estados Unidos. A maioria das grandes instituições europeias também deve reclamar do custo explosivo da retenção de seus talentos em seus resultados nas próximas semanas.

A grande preocupação para os investidores - depois de obterem os melhores lucros bancários em anos - é que a extravagância salarial hoje resultará em custos mais altos, que são mais difíceis de eliminar quando os negócios inevitavelmente diminuirem. Já existem sinais de que o mercado para novas listagens está paralisado.

Mas os ganhos salariais das manchetes mascaram uma imagem subjacente mais sutil. A última década testemunhou mudanças assustadoras nos tipos de trabalho que os banqueiros fazem e na maneira como muitos deles são pagos. Mesmo no Goldman Sachs (GS), a grande maioria de seus 45 mil funcionários agora é remunerada como todos os outros – com um salário regular – em vez de serem pagos como banqueiros de investimento em busca de bônus, de acordo com o presidente e CEO, David Solomon.

Isso ajudou a reduzir o custo do pagamento como proporção da receita – o índice de remuneração – de uma média de quase 40% em 2011 para 36,5% no ano passado para os cinco grandes bancos dos EUA mais o Deutsche Bank (DB), que divulgou os resultados do ano passado na última quinta-feira (27). Atribui-se a maior parte desse declínio ao Morgan Stanley (MS) e o Goldman Sachs.

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Parte dessa mudança se deve à grande recuperação da receita nos últimos dois anos. Mas até 2021, o custo médio por funcionário em alguns dos maiores bancos dos EUA ficou estagnado por vários anos. No caso do Goldman Sachs, estava até caindo.

Há várias coisas acontecendo. Os que estão em posições mais privilegiadas ainda recebem recompensas insanas: alguns dos principais operadores do Goldman Sachs receberam mais de US$ 30 milhões em 2021, informou a Bloomberg, enquanto o próprio Solomon ganhou US$ 35 milhões - o dobro de seu salário no ano passado - embora ele tenha tido que pagar US$ 10 milhões, em 2020, como multa pelo papel da empresa no escândalo do fundo de investimento 1MDB, da Malásia.

Mas em meio à alta competição pelos funcionários mais requisitados de Wall Street, os bancos estão empregando táticas destinadas a manter os custos dessas pessoas flexíveis no futuro.

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Durante os booms anteriores, os executivos seduziam seus alvos com bônus garantidos, às vezes, por vários anos. Isso não está acontecendo desta vez, de acordo com headhunters e banqueiros. Em vez disso, os bancos concentraram recursos na retenção em vez de fazerem isso no momento do recrutamento, oferecendo promoções e promessas de rápido desenvolvimento de carreira às pessoas que desejam ficar, adoçadas, é claro, com dinheiro extra.

“As contra-propostas são muito generosas”, disse Michael Karp, CEO do Options Group. “As melhores pessoas são retidas por um prêmio com um bônus muito maior do que o que o concorrente estava oferecendo no primeiro ano.”

Essas ofertas podem ser garantidas, mas apenas por um ano – depois é matar um leão por dia, como dizem. No entanto, para quem recebe o prêmio, a maior remuneração será o ponto de partida para as negociações do ano seguinte. Isso é inflacionário.

Mas alguns bancos também estão tentando se proteger contra a inflação ampla entre os mais bem pagos, caracterizando alguns pagamentos em 2021 como ganhos inesperados de um ano muito frutífero, e não como um bônus que vai servir como parâmetro para a próxima vez. A Goldman Sachs está fazendo isso com bônus especiais baseados em ações para seus sócios – o mais alto ranking de 1% dos funcionários da empresa.

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Da mesma forma, o Credit Suisse (CS) está criando um bônus único baseado em ações para todos os banqueiros experientes nos cargos de diretor administrativo e diretor, que será pago no longo prazo se os banqueiros ficarem e o Credit Suisse se recuperar de seu atual mal-estar. Isso foi pensado para que os funcionários continuem comprometidos com uma reviravolta difícil e duradoura, que pode incluir bônus menos competitivos ao longo do caminho.

O Credit Suisse também está condicionando alguns de seus bônus iniciais em dinheiro para que alguns funcionários permaneçam na empresa - se as pessoas saírem dentro de três anos, devem pagar uma parte. Isso não é apenas no setor bancário: o escritório de advocacia Freshfields Bruckhaus Deringer está pagando a seus especialistas em private equity um bônus extra que pode ser recuperado pelo escritório se eles saírem dentro de um ano, de acordo com o Financial Times.

A inflação mais ampla está elevando os salários de um maior número de pessoas com salários mais baixos, por exemplo, nas redes de agências de varejo. Algumas das pessoas mais mal pagas do JPMorgan Chase & Co. (JPM) receberam “aumentos por mérito” nos salários no ano passado, que custaram ao banco US$ 1 bilhão, ou 2,6% de sua folha de pagamento total. Mas estes também soam mais como acordos especiais do que aumentos que se repetirão periodicamente.

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Em todo o setor, benefícios extras e grandes aumentos salariais para banqueiros de investimento e traders menos experientes foram bem documentados, mas há em todos uma cláusula que faça referência a devoluções condicionadas. Sem dúvida, os banqueiros mais jovens são muito bem pagos em comparação com a maioria dos outros setores, mas seus pares mais velhos dizem que a remuneração não mudou muito em termos de dólares desde antes da crise financeira global em 2008.

Consultoria para aquisições e captação de recursos sempre vai ser um negócio volátil e o salário dos maiores talentos sempre vai flutuar. Mas nesse ramo de trading, uma maior presença de algoritmos e negociações eletrônicas automatizadas, com menos riscos em jogo, significam menos humanos se estapeando por bônus gigantescos. A receita deve ser mais estável e os custos de compensação mais baixos e menos voláteis também.

Se 2022 for outro ano de prosperidade para os banqueiros, será mais difícil para os executivos resistirem às piores práticas de remuneração que geram custos de longo prazo menos flexíveis. Mas, no final das contas, os investidores devem se consolar com o fato de que, por enquanto, os bancos parecem estar se protegendo contra a inflação excessiva.

Paul J. Davies é colunista da Bloomberg Opinion, cobrindo bancos e finanças. Trabalhou anteriormente para o Wall Street Journal e o Financial Times.

Os editoriais são escritos pela diretoria editorial da Bloomberg Opinion

Esta coluna não reflete necessariamente a opinião do conselho editorial ou da Bloomberg LP e de seus proprietários.

– Esta notícia foi traduzida por Marcelle Castro, Localization Specialist da Bloomberg Línea.

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