Brasil perde R$ 1,7 bilhão com suspensão de cruzeiros, estima associação

Após surtos de Covid-19 em navios, temporada nacional de viagens pela costa brasileira é interrompida; retorno dos cruzeiros ainda é incerto

Surtos em cruzeiros leva Anvisa a interromper temporada nacional, embora armadoras ainda tentam convencer o governo a relaxar regras e retomar as atividades
04 de Janeiro, 2022 | 07:02 PM

São Paulo — O fracasso da temporada brasileira de cruzeiros, suspensa por surtos de Covid-19 nas embarcações e pelos temores com a variante ômicron, representa um impacto negativo de R$ 1,7 bilhão na economia nacional. O valor havia sido estimado pelos representação brasileira da CLIA Global (Cruise Lines International Association), entidade que reúne as empresas armadoras do setor, considerando a realização de 106 roteiros e 409 escalas que estavam previstos até o próximo mês de abril. O retorno dos navios turísticos ainda é incerto, pois a principal autoridade sanitária do país vê riscos elevados de contaminação e recomenda o fim da temporada, mas o setor ainda negocia novas regras com o governo.

A suspensão das viagens não só frustrou as empresas do setor e os cruzeiristas. Havia a expectativa de geração de 24 mil empregos com o retorno dos navios turísticos ao litoral brasileiro, segundo a Clia. A temporada começou no dia 5 de novembro, após intensas negociações entre as armadoras e o governo federal quanto aos protocolos sanitários para embarques dos turistas. A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) via riscos na volta dos cruzeiros e se manifestava contrária a relaxar regras para o setor, mas acabou sendo voz vencida dentro do governo no quarto trimestre do ano passado.

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Até dezembro, com pouco mais de 30 dias do início da temporada em Santos (SP), a Clia já contabilizava mais de 50 mil cruzeiristas embarcados em roteiros feitos pelo Costa Fascinosa, MSC Preziosa e MSC Seaside, três das cinco embarcações que pretendiam navegar por águas nacionais até o próximo mês de abril.

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Os protocolos traziam exigências como a vacinação completa obrigatória para hóspedes e tripulantes e testagem pré-embarque (PCR até três dias antes ou antígeno até um dia antes da viagem), além de testagem frequente de, no mínimo, 10% das pessoas embarcadas e tripulantes. Também se fixava como regra a ocupação máxima de 75% da capacidade da embarcação, o distanciamento de 1,5m entre grupos e uso obrigatório de máscaras.

Surtos

Os esforços para a retomada das atividades foram insuficientes para evitar contaminações dentro das embarcações. Cinco navios registraram mais de 300 casos de Covid-19. No dia 30 de dezembro, a Anvisa interrompeu as atividades da embarcação MSC Splendida. No dia seguinte, foi a vez de suspender o Costa Diadema, que ficou atracada no Porto de Salvador após uma investigação epidemiológica concluir pela declaração de transmissão comunitária de Covid-19, a bordo. Diante desse caso, a Anvisa recomendou ao Ministério da Saúde a suspensão da temporada de navios de cruzeiro.

A mídia brasileira passou a divulgar relatos do descumprimento de protocolos sanitários pelas embarcações que operam cruzeiros marítimos ao longo da costa brasileira. A Anvisa prometeu apurar os fatos e punir as empresas, se constatadas irregularidades, com multas e até mesmo a suspensão das atividades das embarcações. No último domingo (2), a autoridade sanitária reforçou, em nota, a urgência da imediata interrupção da temporada de navios de cruzeiro no Brasil.

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“Em que pesem os esforços da Agência nos últimos dias para controlar a situação sanitária das embarcações, as ações são gravemente impactadas por falhas no cumprimento dos protocolos pactuados para início da temporada. Em razão do grave risco à saúde da população, a Anvisa já recomendou ao Ministério da Saúde, desde o dia 31/12, que a posição sobre a temporada de navios de cruzeiro disposta na Portaria GM/MS 2.928/2021 seja revista até que o cenário sanitário e epidemiológico seja reavaliado”, citou a Anvisa.

Com alinhamento aos argumentos das armadoras, o ministro do Turismo, Gilson Machado, tem se manifestado contra as avaliações da Anvisa. Em entrevista publicada ontem pelo jornal Folha de S. Paulo, ele defendeu o afrouxamento das regras e a retomada da temporada de cruzeiros. “É preciso adequar (a portaria) com a ômicron, porque ela não está gerando pressão nos hospitais. Mas a palavra é do ministro da Saúde. Eu torço para que haja esse entendimento”, disse o ministro ao jornal.

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Sérgio Ripardo

Jornalista brasileiro com mais de 25 anos de experiência, com passagem por sites de alcance nacional como Folha e R7, cobrindo indicadores econômicos, mercado financeiro e companhias abertas.