Medidas econômicas de Erdogan saem pela culatra e custos de empréstimos disparam

Rendimento dos títulos do governo de 10 anos subiu mais de 7 pontos percentuais desde que o banco central do país começou a cortar as taxas em setembro

Erdogan enfrenta desafios ao colocar em prática sua teoria econômica nada convencional
Por Asli Kandemir
30 de Dezembro, 2021 | 11:09 AM

Bloomberg — O custo de tomar dinheiro emprestado na Turquia está aumentando, um sinal de que a política do presidente Recep Tayyip Erdogan de reduzir as taxas de juros está começando a sair pela culatra.

Desde que o banco central começou a cortar as taxas em setembro, o rendimento dos títulos do governo de 10 anos subiu mais de 7 pontos percentuais, atingindo o maior recorde histórico de 24,9% na quarta-feira (29). Está em mais de 10 pontos percentuais acima da recompra de referência do banco, o maior prêmio já registrado.

O aumento nos rendimentos dos títulos ocorre em um momento em que os investidores temem que a política monetária continue frouxa demais para conter a inflação, que está se aproximando da maior em uma década e corroendo o valor de seus ativos em moeda local.

Isso chama a atenção para os desafios que Erdogan enfrenta ao colocar em prática sua teoria econômica nada convencional. Ele acredita que as taxas baixas restringem os preços ao consumidor e forçou os legisladores a cortar as taxas em 500 pontos-base nos últimos quatro meses, para 14%, dizendo que uma política mais fácil estimulará o crescimento. Mas mesmo suas medidas mais recentes para sustentar a lira pouco fizeram para controlar o redimento.

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“A Turquia desistiu de usar sua arma de taxa de juros e o banco central perdeu o controle sobre a inflação”, disse Ogeday Topcular, gerente de capital da RAM Capital. O aumento dos custos dos empréstimos no mercado é um “resultado natural”, disse ele.

Com a inflação já em torno de 21%, as famílias e as empresas se preparam para receber mais estímulos. Os depositantes estão exigindo taxas mais altas em suas contas de poupança e os investidores estão cobrando um prêmio de risco mais alto, o que pode minar quaisquer benefícios de uma política frouxa do banco central.

Enquanto isso, algumas taxas de empréstimos bancários saltaram para 35%, segundo infomrou Rifat Hisarciklioglu, o presidente da União das Câmaras e das Bolsas de Mercadorias, ao jornal Dunya nesta semana. Isso se compara a uma média ponderada de cerca de 21% antes do início do ciclo de afrouxamento, de acordo com dados do banco central.

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A lira perdeu quase um terço do valor neste trimestre, conforme os investidores correram para comprar dólares para proteger suas economias. A depreciação elevou o custo das importações, o que apenas ameaça gerar novos ganhos de preços. A mediana das estimativas de uma pesquisa da Bloomberg prevê que a inflação ao consumidor suba seis pontos percentuais, para 27,3% ao ano em dezembro.

Para ajudar a conter a corrida à moeda, Erdogan anunciou um conjunto de medidas extraordinárias, incluindo um novo tipo de conta bancária em lira, por meio da qual o governo compensa as perdas cambiais que excedam a taxa de juros do depósito. O banco central e os credores estatais também intervieram no mercado de câmbio neste mês com a venda de dólares.

Embora as medidas tenham oferecido uma trégua para a moeda, analistas dizem que elas correm o risco de pesar no orçamento e aumentar a inflação.

“Em vez de aumentar as taxas de juros, o governo introduziu depósitos vinculados ao câmbio - este é um método de tentativa e erro”, disse Topcular. “O custo de tentativa e erro pode ser muito caro.”

A moeda enfraqueceu pelo quarto dia seguido na quinta-feira (30). Caiu até 5,8%, para 13,4262 por dólar, aparando uma alta que o empurrou de uma baixa recorde de 18,3633, em 20 de dezembro, para uma alta de 10,2512 na semana passada. O rendimento dos títulos do governo de 10 anos caiu 28 pontos base para 24,5%.

--Com a colaboração de Burhan Yuksekkas.

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