Bolsonaro encara realidade fiscal na corrida pela reeleição

Pedidos de contenção de gastos têm sido feitos pelo ministro da Economia e equipe, com diferentes graus de sucesso

Popularidade de Bolsonaro atingiu um recorde histórico de 40% em setembro de 2020 quando seu governo estava ajudando os trabalhadores informais a lidar com o impacto econômico da Covid-19
Por Daniel Carvalho e Martha Beck
16 de Dezembro, 2021 | 03:14 PM

Bloomberg — O presidente Jair Bolsonaro tem sido alertado por assessores políticos de que aumentar ainda mais os gastos sociais pode acabar prejudicando suas chances de reeleição no ano que vem.

O governo está sempre em busca de oportunidades para expandir e fortalecer as políticas sociais - incluindo o principal programa de Bolsonaro, o Auxílio Emergencial, que pagará R$ 400 para 17 milhões de famílias - mas isso não pode ser feito sem responsabilidade fiscal, afirma o Ministro da Cidadania João Roma.

“As áreas social e econômica são as duas faces da mesma moeda”, disse Roma em entrevista em seu gabinete em Brasília. “As melhorias sociais têm que vir com responsabilidade fiscal, caso contrário, você estará dando com uma mão e tirando com a outra.”

Pedidos de contenção de gastos têm sido feitos repetidamente pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, e sua equipe, com diferentes graus de sucesso. Mas Roma e outros membros do gabinete presidencial agora também expressam preocupação com o impacto dos gastos públicos sobre os mercados financeiros e as expectativas de inflação.

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Embora Bolsonaro saiba que seu novo programa social não terá tanto sucesso quanto o auxílio emergencial de R$ 600 pago aos mais pobres em 2020, ele foi alertado sobre os riscos inflacionários de aumentar agressivamente os gastos públicos novamente, de acordo com outro ministro da ala política, que pediu anonimato porque a discussão não é pública.

A popularidade de Bolsonaro atingiu um recorde histórico de 40% em setembro de 2020, quando seu governo estava ajudando os trabalhadores informais a lidar com o impacto econômico da Covid-19. Agora, enquanto o presidente está perdendo nas primeiras pesquisas para as eleições, Bolsonaro prefere limitar os pagamentos a R$ 400 reais e evitar uma reação negativa do mercado do que aumentá-los para R$ 600 se isso significar que o real se desvalorize para além de R$ 6 por dólar, disse a fonte.

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O estímulo do ano passado, maciço para um país emergente, levou a pobreza a uma baixa histórica. Mas também teve consequências sobre as contas públicas: a dívida pública cresceu para 88,8% do PIB no final de 2020 e investidores nervosos se desfizeram do real, exacerbando um problema de inflação que assombra o mundo pós-pandemia. Subindo mais de 10% ao ano, os preços ao consumidor se tornaram a principal dor de cabeça de Bolsonaro na corrida presidencial.

Os esforços de Bolsonaro para garantir o pagamento de R$ 400 no próximo ano, o que incluiu mudanças na regra do teto de gastos, novamente enervou os mercados nos últimos meses, levando o Banco Central a alertar que um estímulo fiscal adicional poderia alimentar ainda mais a inflação no próximo ano. Os ativos brasileiros estão entre os de pior desempenho do mundo, e a moeda está caminhando para o quinto ano consecutivo de perdas.

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