Milho ganha importância na produção de etanol do Brasil

Mesmo com quebra na safra de grãos e aumento dos preços, biocombustível à base do cereal já tem fatia superior a 10% da oferta nacional

A parcela do biocombustível produzida a partir do cereal já supera os 10%, fazendo com que o milho ganhem importância na produção nacional, mesmo em um ano de quebra de safra e melhor oferta do grão
19 de Agosto, 2021 | 12:47 PM

São Paulo — Ainda que a estimativa de produção nacional de etanol seja de queda em relação ao ano passado, o Brasil está ampliando as apostas no etanol de milho. A oferta do biocombustível a partir do cereal deve chegar a 3,36 bilhões de litros na safra 2021/22, volume 11,2% maior do que no ciclo anterior, quando foram produzidos 3,02 bilhões de litros, conforme dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).

Assim, o etanol de milho passa a representar 11,5% da produção total de etanol do Brasil, ampliando sua presença na oferta nacional que, no ano passado, foi de 9,2% e mantendo a polêmica sobre a destinação de alimentos para se produzir combustível.

O milho foi a cultura mais prejudicada pela instabilidade do clima neste ano. Em outubro do ano passado, quando a Conab divulgou sua primeira estimativa, a previsão era que o Brasil produzisse 105,1 milhões de toneladas do cereal. Hoje, a oferta nacional é estimada em 86,6 milhões de toneladas, 7,2% a menos do que o previsto em julho e 15,5% menor que o ano passado. A seca e as geadas fizeram com que o Brasil deixasse de colher o equivalente a toda a produção da região Sul do país.

Veja mais: Brasil não terá mais uma safra recorde de grãos
O aumento da participação do milho na produção nacional de etanol deve reascender o debate sobre o uso de alimentos para a produção de combustível, principalmente em um ano de quebra na safra de grãodfd

Foi exatamente por uma menor oferta de milho que o Brasil não conseguirá colher uma safra recorde de grãos neste ano. O último dado da Conab aponta para uma colheita de 253,9 milhões de toneladas de grãos, 1,2% menor do que a safra anterior e um corte de 2,6% em comparação à estimativa feita em julho deste ano. Na prática, a Conab cortou, de um mês para outro, quase sete milhões de toneladas de grãos da produção brasileira, praticamente todas elas do milho.

A menor disponibilidade de milho neste ano levou a um aumento expressivos dos preços, provocando um efeito cascata nas cadeias que utilizam o cereal como matéria-prima e influenciando a inflação dos alimentos. Indústrias de aves, suínos, bovinos, leite e ovos são algumas que já sentiram os efeitos e já estão passando adiante os custos mais elevados.

Leia também

O problema da inflação na América Latina
Economistas veem BC mais duro para segurar expectativa de inflação
Alexandre Inacio

Jornalista brasileiro, com mais de 20 anos de carreira, editor da Bloomberg Línea. Com passagens pela Gazeta Mercantil, Broadcast (Agência Estado) e Valor Econômico, também atuou como chefe de comunicação de multinacionais, órgãos públicos e como consultor de inteligência de mercado de commodities.