Estas são as provas de fogo que a Apple enfrentará para lançar o iPhone 15 na China

O lançamento, marcado para terça-feira, pode ser ofuscado pelo anúncio de um novo - e polêmico - modelo da Huawei, pelo veto ao aparelho entre funcionários do governo e por um sentimento nacionalista

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Por Mark Gurman
08 de Setembro, 2023 | 06:03 AM

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Bloomberg — A Apple Inc. (AAPL) está tentando evitar uma crise na China poucos dias antes do lançamento de seu próximo iPhone, um evento de alto risco que testará se os novos recursos podem tirar o setor de smartphones da estagnação.

O lançamento do produto, programado para ser transmitido globalmente a partir da sede da empresa na terça-feira, corre o risco de ser ofuscado por várias controvérsias na China - o maior mercado internacional da Apple. O titã da tecnologia está lutando contra a crescente proibição do uso do iPhone entre os funcionários do governo e um novo e polêmico telefone da Huawei Technologies Co. da China está oferecendo concorrência interna.

Mas a maior ameaça em potencial para a Apple pode ser algo complicado: o ressurgimento do nacionalismo chinês que leva os consumidores comuns a evitar o iPhone e outros aparelhos de marcas estrangeiras.

Isso é algo que a empresa já enfrentou antes. Há quase cinco anos, a Apple não cumpriu as previsões de férias de seus recém-lançados iPhone XS e XR devido às fracas vendas na China. Publicamente, a Apple culpou a guerra comercial entre os EUA e a China e a economia local. Mas em um e-mail interno para a diretoria da empresa, o CEO Tim Cook também citou na ocasião o nacionalismo chinês e a crescente concorrência de rivais locais.

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Na época, o governo Trump havia recentemente colocado a Huawei na lista negra, e as tensões entre os EUA e a China tornaram a vida mais difícil para as empresas que dependem profundamente do país asiático. A receita chinesa da Apple caiu no ano fiscal de 2019 e 2020, antes de se recuperar em 2021. A empresa gera cerca de um quinto de suas vendas na China, que também é o coração da cadeia de suprimentos da Apple.

A questão agora é se a Apple enfrentará uma repetição de 2019. As crescentes proibições do governo são um sinal ameaçador. Os funcionários de agências e empresas estatais estão cada vez mais impedidos de usar iPhones no escritório. A notícia fez com que as ações da Apple caíssem nos últimos dois dias, eliminando quase US$ 200 bilhões de sua avaliação. Ontem, as ações fecharam em baixa de 3% e esta manhã, no pré-mercado, sinalizavam 0,22% de alta.

Um porta-voz da Apple, sediada em Cupertino, Califórnia, não quis comentar.

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Os legisladores dos EUA também estão renovando o exame minucioso dos fornecedores da Huawei, com alguns pedindo a suspensão de todas as exportações dos EUA para a polêmica empresa chinesa de tecnologia. Os últimos protestos se concentram na principal fabricante de chips da China, a Semiconductor Manufacturing International Corp, que parece ter violado as sanções americanas ao fornecer componentes avançados para o novo telefone da Huawei, disseram os legisladores americanos. Os legisladores também propuseram proibições ao TikTok, de propriedade da ByteDance Ltd. da China.

Diante desse cenário, o sentimento anti-Apple se espalhou nas mídias sociais chinesas. Houve até mesmo especulações de que a China Mobile Ltd, a operadora móvel do país, não estocaria o iPhone 15 - algo que a empresa estatal negou.

Um vídeo publicado online na quarta-feira mostrou um grande tráfego de pessoas em uma loja da Apple em Guangzhou, mas os comentários da postagem rapidamente se encheram de retórica anti-Apple. “Enquanto os candidatos a emprego usarem um telefone da Apple, não os contratarei”, disse um deles. Outros usuários escreveram que “nunca comprarão um telefone da Apple” e “têm orgulho de comprar um Huawei”. Outro acrescentou: “Por que não podemos proibir as vendas da Apple enquanto os americanos proibiram a Huawei?”

No ano passado, a China ordenou que seus órgãos governamentais e empresas estatais substituíssem computadores estrangeiros por alternativas nacionais até 2024. Até agora, essa medida não causou muito sofrimento para a Apple, que viu seu negócio de Mac no segundo trimestre crescer 17% na China, de acordo com dados da Canalys.

As proibições podem ser apenas parte de uma tendência de longa data.

“As autoridades do partido provavelmente evitaram usar produtos americanos no local de trabalho muito antes de a proibição oficial ser decretada”, disse o analista da Evercore ISI, Amit Daryanani, em um relatório na quinta-feira.

Se os consumidores na China estão querendo abandonar a Apple, o novo telefone da Huawei pode ser uma alternativa. Ele apresenta uma tela e uma bateria maiores do que o iPhone 15 Pro de última geração. O dispositivo também tem câmeras de resolução mais alta e um preço inferior ao do seu rival norte-americano.

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Mesmo assim, ainda não há sinais de um amplo afastamento da Apple no mercado de telefones. Na verdade, a empresa foi uma das poucas vendedoras de smartphones a ver as vendas crescerem no segundo trimestre, de acordo com a empresa de pesquisa IDC. A única outra grande fabricante a registrar um aumento foi a Huawei, que terminou o período com uma participação de mercado menor do que a da Apple.

Por enquanto, o mercado chinês tem sido um ponto positivo para a Apple em um período difícil. Suas vendas gerais caíram por três trimestres consecutivos, e a receita deve cair novamente no último período - marcando a mais longa sequência de quedas da empresa em duas décadas. A linha do iPhone 15, com detalhes como uma estrutura de titânio e uma câmera aprimorada, deve ajudar a tirar a empresa dessa situação difícil.

Em última análise, a China tem um incentivo para não levar a proibição do iPhone longe demais. A Apple sustenta milhões de trabalhadores no país, e seria difícil para o governo punir a empresa sem prejudicar seu próprio povo.

--Com a colaboração de Jacob Gu.

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