T4F: empresa dos shows de Taylor Swift no país é alvo de autoridades após morte de fã

Companhia foi denunciada ao Ministério Público Federal e criticada pelo ministro da Justiça; procurada pela Bloomberg Línea, não respondeu ao pedido de comentários

Taylor Swift
18 de Novembro, 2023 | 03:14 PM

Bloomberg Línea — A T4F (Time For Fun) entrou no alvo de autoridades e da opinião pública nas redes sociais depois da morte de uma fã e cliente que comprou ingresso para o primeiro show da cantora Taylor Swift no Brasil na noite de sexta-feira (17) no estádio do Engenhão, no Rio de Janeiro, organizado pela empresa de entretenimento.

A empresa (SHOW3) fundada e controlada pelo empresário Fernando Luiz Alterio, um dos pioneiros e mais experientes empresários do mercado do entretenimento no país, é listada na bolsa brasileira desde 2011.

Ana Clara Benevides Machado, de 23 anos, passou mal antes do show e sofreu uma parada cardíaca. Segundo relatos do Corpo de Bombeiros, mais de mil pessoas presentes ao evento chegaram a desmaiar no ambiente de temperaturas acima de 40ºC e sensação térmica próxima de 60ºC no estádio e em seus arredores, consequência de uma onda de calor extremo que atinge o centro-sul do Brasil há vários dias.

A decisão da Time for Fun de manter a proibição habitual de entrada dos clientes com garrafas e copos de água dentro do estádio, a despeito de temperaturas tão elevadas, causou uma onda de críticas de autoridades, fãs da cantora e de usuários nas redes sociais neste sábado.

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Nas redes sociais, a morte de Ana Benevides entrou nos Trending Topics do X (ex-Twitter) no Brasil e ocupava as oito primeiras posições entre os temas mais comentados. O primeiro era sobre “taylor”, e o segundo, “T4F EXIGIMOS RESPEITO”, com cerca de 380 mil posts perto das 14h deste sábado.

Uma petição chamada “Lei Ana Benevides: Água Gratuita em Eventos” tinha cerca de 200 mil assinaturas de apoio no site Change.org no mesmo horário.

O ministro da Justiça do governo federal, Flávio Dino, e o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, criticaram a postura da T4F de proibir a entrada de fãs com água apesar das temperaturas elevadas.

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A posição da T4F

A T4F se pronunciou sobre a morte em suas redes sociais. Em publicação no X, a empresa disse que “é com muita tristeza que informamos o falecimento de Ana Clara Benevides Machado, de 23 anos”.

“Na noite de ontem, Ana Clara se sentiu mal e foi prontamente atendida pela equipe de brigadistas e paramédicos, sendo encaminhada ao posto médico do Estádio Nilton Santos para o protocolo de primeiros socorros. Diante do quadro, a equipe médica optou pela transferência ao Hospital Salgado Filho, onde, após quase uma hora de atendimento emergencial, infelizmente veio a óbito. Aos familiares e amigos de Ana Clara Benevides Machado nossos sinceros sentimentos”, declarou a empresa no post.

Procurada pela Bloomberg Línea nesta manhã de sábado (18), a Time for Fun pediu que questões fossem encaminhadas por escrito, mas não respondeu até o momento.

Por volta das 14h deste sábado, após o ministro da Justiça, Flavio Dino, ter anunciado uma portaria (veja mais abaixo) que determina a liberação de garrafas de água por espectadores em shows e obriga os organizadores do evento a distribuir água para os mesmos, a empresa anunciou medida semelhante.

“Diante da previsão de aumento da onda de calor na cidade do Rio de Janeiro, informamos que estamos reforçando o plano de ação especial realizado para o primeiro dia de show, especialmente o fornecimento de água gratuita nas filas e em todos os acessos e entradas ao estádio e no seu interior. Desta forma, novos pontos de distribuição gratuita de água estarão à disposição do público durante o evento.”

“Também será permitida a entrada no estádio com copos de água lacrados e alimentos industrializados lacrados, sem limitação de itens por pessoa.”

Os shows da artista mais popular do mundo eram vistos pela administração da Time for Fun como uma oportunidade de recuperação dos negócios da companhia, uma das mais afetadas pelas medidas de isolamento social tomadas na pandemia, especialmente em 2020 e 2021.

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“Trazendo Taylor Swift, a Eras Tour ao Brasil, onde mais de 300 mil pessoas poderão vivenciar isso em novembro, temos orgulho e demonstramos o quanto estamos comprometidos com nosso propósito de levar as pessoas através de experiências emocionantes para celebrar a vida”, disse a T4F durante teleconferência com investidores para reportar os resultados do terceiro trimestre há uma semana.

Nos nove primeiros meses de 2023, a T4F registrou um crescimento de 28% na receita líquida distribuída em todos os segmentos; de operações de alimentos e bebidas nos locais de eventos cresceram 32%, e patrocínios, 78%, conforme reportado na conferência com investidores no último dia 9.

O impacto financeiro - considerando eventuais pedidos de indenização e de multa de entidades de defesa do consumidor - e de reputação à marca da T4F ainda é incerto.

A empresa atribuiu a geração de caixa de R$ 42,6 milhões no terceiro trimestre aos recursos arrecadados com ingressos vendidos para os shows de Taylor Swift e do musical O Rei Leão.

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No terceiro trimestre, a T4F apresentou um lucro líquido de cerca de R$ 3,4 milhões, em comparação com uma perda líquida de R$ 8,8 milhões no mesmo período do ano passado.

‘Sucesso nas vendas de Taylor Swift’

Com um valor de mercado de R$ 153,70 milhões, a T4F disse, durante a teleconferência com investidores, que “concluímos com sucesso as vendas absolutamente esgotadas dos seis shows de Taylor Swift, da turnê Eras, sucesso mundial [...] com isso, encerramos o terceiro trimestre de 2023 com um EBITDA de R$ 14,5 milhões, com margem de 24%, perfazendo oito pontos melhor que no ano anterior”.

A empresa encerrou o trimestre com caixa bruto de R$ 172 milhões após pré-pagamento integral de R$ 63 milhões de debêntures e dívidas de curto prazo.

No terceiro trimestre, a empresa promoveu 91 eventos, para os quais foram vendidos 154 mil ingressos. A receita do terceiro trimestre de 2023 foi 12% superior à do terceiro trimestre de 2022.

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A T4F também afirmou na conferência aos investidores que estava finalizando os preparativos finais para a entrega da edição brasileira do festival europeu Primavera Sound, “reforçando a nossa estratégia de expandir o nosso portfólio de festivais com marcas relevantes com ênfase em sustentabilidade e inclusão na entrega de uma excelente experiência”.

Governo: liberação de água em shows

Em publicação no X, o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, anunciou logo no começo da manhã medidas que a produtora deveria adotar para o segundo show neste sábado.

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“Inaceitável a perda da vida de uma jovem ontem no show no Engenhão. Obviamente, ainda estamos apurando mais detalhes das circunstâncias do ocorrido. De qualquer forma, já determinei ao Chefe Executivo de Operações do município que exija providências junto a produção do show.”

“Já posso adiantar as seguintes medidas que eles devem anunciar ainda na manhã de hoje: antecipar a entrada em 1h e ocupar o anel de circulação para tirar o público do sol; novos pontos de distribuição de água; aumento de número de brigadistas; aumento de ambulâncias”, publicou.

Flávio Dino, ministro da Justiça e Segurança Pública, afirmou em seu perfil na plataforma X no começo da manhã deste sábado (18) que iria tomar medidas que garantam água nos shows. Mais tarde, publicou que a medida havia sido tomada com início de vigência ainda nesta tarde de sábado.

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“A partir de hoje, por determinação da Secretaria do Consumidor do Ministério da Justiça, será permitida a entrada de garrafas de ÁGUA de uso pessoal, em material adequado, em espetáculos. E as empresas produtoras de espetáculos com alta exposição ao calor deverão disponibilizar água potável gratuita em “ilhas de hidratação” de fácil acesso. A medida vale imediatamente.”

“A Secretaria Nacional do Consumidor tomará as providências cabíveis para a fiscalização, com a colaboração dos Estados e dos Municípios, bem como atuação da Polícia, se necessário.”

Denúncia ao Ministério Público

A deputada federal Erika Hilton afirmou neste sábado que enviou uma denúncia da T4F ao Ministério Público Federal, segundo divulgou em suas redes sociais.

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“Vejo como criminosa a proibição que o público entrasse com ÁGUA no show da cantora Taylor Swift no Rio ontem, onde ocorreu uma morte atribuída ao calor. Por isso, estou denunciando ao Ministério Público Federal a empresa Time 4 Fun, organizadora do evento. A hidratação é essencial durante uma onda de calor como a que estamos enfrentando e não pode ser vista como fonte de lucro. Mas infelizmente a T4F não compartilha dessa visão.”

Reação de Taylor Swift

Na madrugada deste sábado (18), Swift se manifestou em seu Instagram: “Eu não consigo acreditar que estou escrevendo essas palavras, mas é com o coração partido que eu digo que perdemos uma fã mais cedo nesta noite antes do meu show. Eu não consigo nem contar como eu estou devastada por isso [...] Quero dizer que sinto profundamente essa perda, e meu coração partido está com a família e amigos dela. Esta é a última coisa que eu imaginava que aconteceria quando decidimos trazer esta turnê para o Brasil”.

Taylor Swift interrompeu o show no Rio de Janeiro na sexta ao reparar que fãs pediam por água. “Algumas pessoas precisam de água aqui. Talvez 30 a 40 pés para trás, elas estão segurando o celular dizendo que precisam de água, então quem quer que esteja encarregado de dar isso a essas pessoas, apenas garanta que isso aconteça”, disse enquanto tentava fazer com que água chegasse até os fãs.

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“Perdão, é que está muito calor, então se alguém diz que precisa de água quando está esse calor eles realmente precisam. Vocês estão vendo? Só precisamos dar água para aquelas pessoas. Alguém por aqui tem água?”. A cantora distribuiu água em copos e garrafas a fãs em alguns momentos do show.

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Isabela  Fleischmann

Jornalista brasileira especializada na cobertura de tecnologia, inovação e startups