Os desafios do novo CEO da Pemex, a petrolífera mais endividada do mundo

Nomeado pela presidente Claudia Sheinbaum para recuperar a estatal, Victor Rodriguez terá de administrar plataformas ineficientes, prejuízos em refinarias e outros obstáculos

Letreiro da Pemex
Por Scott Squires
03 de Novembro, 2024 | 02:55 PM

Bloomberg — As petrolíferas estatais tendem a ser mais inchadas e menos eficientes que suas contrapartes privadas. Mesmo assim, a Petroleos Mexicanos (Pemex), com um quadro de 128 mil funcionários, se destaca mesmo entre outras estatais.

A quantidade de petróleo bruto que a Pemex bombeia por funcionário caiu para pouco menos de 14 barris por dia, menos do que qualquer outra petrolífera estatal da América Latina, exceto a Petroleos de Venezuela (PDVSA).

PUBLICIDADE

A Petrobras (PETR3, PETR4) bombeia quase 48 barris por funcionário por dia, e a Colômbia bombeia cerca de 27. Do outro lado do mundo, a Saudi Aramco – cuja força de trabalho é semelhante à da Pemex – extrai mais de 92.

Isso representa um enorme desafio para o novo CEO Victor Rodriguez, nomeado pela presidente mexicana Claudia Sheinbaum para recuperar a petrolífera mais endividada do mundo.

E as implicações vão além da empresa e de seus acionistas.

PUBLICIDADE

As finanças da Pemex estão intimamente ligadas com as do México, o que significa que os esforços de Sheinbaum para combater o crime, desenvolver a economia e avançar o resto de seu plano de governo dependerão parcialmente da resolução dos problemas da Pemex.

“A Pemex precisa de alguém que venha com uma grande vassoura para limpar tudo, mas não há poder para tanto”, disse Luis Maizel, acionista de longa data da Pemex e diretor administrativo sênior da LM Capital Group, de San Diego.

“Você precisa de alguém que seja um bom negociante e um bom político, e, nesse sentido, Victor Rodriguez realmente é uma incógnita.”

PUBLICIDADE

Leia mais: Novo gasoduto no México expõe dilema de redução da pobreza sem ampliar emissões

‘Queimando dinheiro’

Além de um quadro de funcionários inchado, os problemas da empresa incluem uma dívida de US$ 100 bilhões, plataformas de perfuração que deixam enormes depósitos de petróleo no solo, péssimos registros de segurança e meio ambiente e refinarias que queimam dinheiro. A Pemex não quis comentar.

O ex-presidente Andrés Manuel López Obrador investiu US$ 80 bilhões na empresa por meio de injeções de capital e isenções fiscais durante seu mandato de seis anos. Mas quase nada mudou – se é que mudou –, o que enfatiza o quanto a ineficiência da Pemex se tornou um peso para os resultados financeiros do país.

PUBLICIDADE

Os problemas da Pemex dificultam ainda mais para Sheinbaum, que herdou o maior déficit público em 40 anos, manter suas promessas de diminuir o déficit e manter o apoio financeiro para a estatal.

O principal desafio do novo CEO será diminuir o quadro de funcionários da petrolífera, que não foi reduzido durante o período de duas décadas de baixa produção.

Desafios de produção

Sindicatos poderosos impediram a Pemex de realizar demissões em massa. Mais de 80% dos funcionários são sindicalizados, segundo documentos da empresa, e os pagamentos cada vez maiores de previdência agravam esse problema financeiro.

Também houve uma série de problemas de segurança e perdas de produção. Uma enorme explosão em um poço offshore no ano passado deixou dois mortos e causou a perda de centenas de milhares de barris depois que uma instalação ficou ociosa por meses.

Esse foi apenas um acidente em uma série de percalços mortais, incluindo um recente em uma refinaria do Texas. A empresa teve nove mortes de trabalhadores em 2022, de acordo com os dados mais recentes disponíveis para a Bloomberg.

No ano anterior, foram 12, incluindo cinco pessoas mortas em um acidente em uma plataforma offshore. A Exxon Mobil (XOM) e a Chevron (CVX), que produzem mais petróleo bruto, registraram duas mortes cada uma no ano passado, segundo os dados.

Produtividade abalada

Os problemas financeiros da Pemex continuam sendo sua principal preocupação. Há três meses, a empresa registrou seu pior prejuízo desde o início da pandemia. No segundo trimestre, a Pemex devia um total de US$ 99,4 bilhões aos credores.

Devido aos atrasos nos pagamentos, “a Pemex paga facilmente 30% a 40% acima das taxas de mercado por tudo”, disse John Padilla, diretor administrativo da IPD Latin America, uma consultoria de energia. “É apenas mais uma coisa que eles precisam estancar.”

Graças ao envelhecimento dos equipamentos, a Pemex deixa a maior parte de suas reservas de petróleo no solo. Para cada 100 barris que bombeia no Golfo do México, ela deixa cerca de 77 para trás, enquanto seus concorrentes deixam, em média, de 40 a 50, de acordo com dados da consultoria Welligence, especializada em upstream.

A produção da Pemex vem caindo há anos. Ela produz cerca de 1,8 milhão de barris de petróleo bruto e condensados por dia, cerca de metade de seu pico há duas décadas. Em uma tentativa de reverter o declínio, López Obrador propôs um plano de US$ 13,8 bilhões para aumentar a produção em 23 novos poços.

Embora alguns deles tenham ajudado a aumentar marginalmente a produção, a maior parte do esforço foi um fracasso, disse Pablo Medina, cofundador da Welligence. “A Pemex está em uma situação difícil porque seu portfólio de ativos é muito maduro – e apenas alguns deles realmente fazem a diferença.”

O campo offshore Xikin da Pemex, próximo ao estado de Tabasco, por exemplo, foi estimado em cerca de 190 milhões de barris recuperáveis em 2018. Desde então, a empresa reduziu sua estimativa de quanto pode bombear desse campo em 60%, para apenas 76 milhões de barris, de acordo com dados do órgão regulador nacional de hidrocarbonetos do México.

Leia mais: BHP enfrenta julgamento de £ 36 bilhões por desastre de barragem em Mariana

Refinarias defasadas

Não é apenas na exploração e produção que a ineficiência é desenfreada. As refinarias envelhecidas da empresa – a maioria das quais foi construída nas décadas de 1920 e 1930 – estão queimando dinheiro.

“Não se pode esperar que uma refinaria de cem anos tenha o mesmo desempenho de uma refinaria de 20 anos”, disse Adriana Eraso, analista da Fitch Ratings em Nova York. “A principal coisa que o novo governo precisa fazer é reduzir o número de refinarias.”

Embora a margem média de lucro das refinarias na América Latina seja de US$ 2 a US$ 5 por barril, o negócio de refino da Pemex custa à empresa cerca de US$ 9 em lucros cessantes para cada barril produzido em uma base anualizada, de acordo com Eraso.

Enquanto isso, a tentativa do ex-presidente de salvar o negócio downstream da Pemex ao construir uma nova refinaria na Costa do Golfo praticamente implodiu. A instalação de Dos Bocas está mais de três anos atrasada em relação ao cronograma e US$ 11 bilhões acima do orçamento.

Apesar das repetidas promessas de AMLO de que o México produziria todo o combustível que consome até o final de seu mandato, o país ainda importa mais da metade da gasolina que usa, de acordo com a consultoria EMPRA, sediada na Cidade do México.

A Dos Bocas só processou petróleo bruto a 25% de sua capacidade total de 340.000 barris por dia em agosto, não processou nenhum barril na primeira quinzena de outubro devido a problemas técnicos e ficou totalmente ociosa em 21 de outubro.

Os muitos problemas da empresa estatal representam um obstáculo para Rodriguez e Sheinbaum, que sugeriram ampliar o escopo da Pemex para incluir novos empreendimentos em energias renováveis e exploração de lítio.

Os analistas dizem que a Pemex deveria fazer o oposto: emagrecer e se concentrar na perfuração em terra e em águas rasas, que é o seu melhor negócio. Todo o resto, segundo eles, deve ser terceirizado ou transferido.

“A Pemex não tem dinheiro para gastar no desenvolvimento de sua eficiência”, disse Medina. “Há muito valor oculto que pode ser extraído ao se trabalhar com o setor privado.”

Veja mais em Bloomberg.com

Leia também

Diversidade e resiliência no agro: como a Bayer enxerga o cenário para 2025

BRF investe US$ 84 milhões e avança na Arábia Saudita para ganhar mercado halal

Da Spaten à Corona: marcas premium crescem 20% e alavancam vendas da Ambev