Bloomberg — A turbulência no mercado de ações nos primeiros cinco meses de 2025 deixaram os profissionais de Wall Street sem um caminho claro a seguir.
Após o melhor mês para o S&P 500 em um ano e meio e o melhor maio desde 1990, o índice de referência dos Estados Unidos ainda está basicamente estável em 2025 e teve um de seus piores inícios de ano desde a década de 1950.
Além disso, o índice também perdeu com folga para o desempenho dos mercados de ações de todo o mundo, algo raro para as ações americanas.
É verdade que o S&P 500 se recuperou de seu nível mais baixo desde dezembro de 2023, atingido em abril, e está a menos de 4% de seu recorde histórico.
No entanto as incertezas acentuadas pela guerra comercial do presidente Donald Trump, pela desaceleração do crescimento dos EUA, pelas tensões geopolíticas e pela trajetória da taxa de juros do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) deixaram os executivos mais pessimistas do que nunca desde 2022, de acordo com a última pesquisa de confiança dos CEOs do Conference Board.
E para tornar as coisas ainda mais complicadas, o mercado de ações está prestes a entrar no que é historicamente um de seus meses mais calmos para ganhos. Nos últimos 30 anos, o retorno médio do S&P 500 tem sido praticamente estável em junho, quando grande parte de Wall Street começa sua temporada de férias de verão no hemisfério norte.
Isso significa que, em 30 dias, há uma boa chance de o mercador estar exatamente onde está agora.
“Tentar operar ações em meio a tudo isso tem sido muito difícil, já que todos estão passando por essa tempestade caótica”, disse Eric Beiley, executive managing director de gestão de patrimônio da Steward Partners, que tem quase 10% de seu portfólio em caixa e está comprando ações internacionais e defensivas.
“Os ganhos de maio devolveram a confiança aos investidores, mas manter a posição de venda parece ser a aposta mais segura por enquanto, até que saibamos mais sobre as perspectivas do comércio e das taxas.”
Leia também: Por que a perda de força do dólar não é tese estrutural entre muitas gestoras globais

A queda de 19% do S&P 500 em relação ao seu recorde de 19 de fevereiro - que o empurrou para uma correção em apenas 16 dias de negociação e o deixou à beira de um mercado em baixa - deu aos otimistas alguns pontos de entrada atraentes para comprar no mercado de ações.
Porém, após a recuperação de quase 19% desde então, as avaliações das ações ficaram muito mais esticadas.
Isso, entretanto, não significa que as ações dos EUA estejam realmente indo bem em comparação com o resto do mundo.
O S&P 500 está atrás do MSCI All Country World Index, que exclui o índice dos EUA, em quase 12 pontos percentuais em 2025, marcando o pior início de ano em relação a seus pares globais desde 1993 e o segundo pior de todos os tempos, segundo dados compilados pela Bloomberg.

É uma reversão para os investidores processarem. Com toda essa oscilação, o S&P 500 subiu 0,5% no ano, o que é pouco em comparação com os últimos anos, já que o índice registrou ganhos de mais de 20% em 2023 e 2024, algo que não acontecia desde o final da década de 1990.
Leia também: Moody’s rebaixa perspectiva do Brasil para ‘estável’ e cita rigidez do gasto público
Mas isso não significa necessariamente que o mercado de ações não esteja mais subindo. Historicamente, o terceiro ano de um mercado em alta nos EUA, como agora, é o mais fraco. Desde a Segunda Guerra Mundial, o S&P 500 teve um ganho médio de apenas 5,2% no terceiro ano.
E em cada um dos últimos 11 mercados em alta que duraram mais de dois anos, houve uma correção de pelo menos 5% no terceiro ano, com quedas de mais de 10% em cinco deles, de acordo com Sam Stovall, estrategista-chefe de investimentos da CFRA.

Então, como a atual corrida de alta se compara historicamente? O S&P 500 subiu 65% desde seu ponto mais baixo no mercado de baixa em 12 de outubro de 2022. Isso equivale a 31 meses. Desde 1947, os mercados em alta têm uma média de 55 meses, mostram os dados da CFRA.
Portanto, ainda há muito espaço para alta, embora as coisas possam ficar turbulentas depois de um período de dois anos de ganhos desproporcionais, de acordo com Stovall.

Uma maior amplitude - ou seja, uma participação mais ampla na alta, que tem se concentrado principalmente nas maiores ações de tecnologia - poderia dar algum impulso para a próxima etapa de alta nos preços das ações.
O setor de melhor desempenho do mercado este ano é o industrial, um sinal otimista para as ações e o crescimento, uma vez que essas empresas estão intimamente ligadas à economia e fabricam e transportam mercadorias. O grupo subiu 8,2% em 2025.
Ações defensivas, como empresas de serviços públicos e de bens de consumo básicos, que tendem a ter avaliações baixas e oferecem dividendos robustos, também estão no topo da tabela de classificação, enquanto as ações discricionárias de consumo, que abrigam alguns dos maiores varejistas, construtoras de casas e montadoras, estão entre as de pior desempenho este ano.
Leia também: ETFs de bitcoin captam US$ 9 bi e reforçam tese de reserva de valor após fuga do ouro
Uma cesta que acompanha as ações das chamadas Sete Magníficas - Alphabet, Amazon, Apple, Meta, Microsoft, Nvidia e Tesla - subiu 29% desde suas baixas em abril, mas continua com queda de 4,3% no ano.

Então, o que vem a seguir para as ações? Olhar para o histórico não é animador, pelo menos para o próximo mês.
O S&P 500 subiu apenas 0,2% em média em junho nas últimas três décadas, em comparação com um movimento de 0,8% nos outros 11 meses do ano, de acordo com dados compilados pela Bloomberg.
Nos anos pós-eleição presidencial dos EUA nas últimas sete décadas, o S&P 500 normalmente enfrentou dificuldades no início de junho, já que os investidores reservaram lucros para o verão.
Isso é particularmente verdadeiro quando o índice recebe um forte impulso em maio, como aconteceu este ano, com um salto de 6,2%.
-- Com a colaboração de Elena Popina.
Veja mais em Bloomberg.com
Leia também
De Coach a Michael Kors: luxo ‘acessível’ ganha força e impulsiona as vendas do setor
© 2025 Bloomberg L.P.