Estudo aponta como grandes gestoras votaram em assembleias sobre ‘ativos verdes’

Análise de organização sem fins lucrativos Share Action, de Londres, indicou que nem sempre os votos de gigantes como BlackRock e State Street apoiaram a alocação pró-clima

Escritórios da Black Rock, uma das gestoras analisadas em relatório, em Nova York
Por Natasha White
09 de Janeiro, 2024 | 02:13 PM

Bloomberg — Um estudo que mostra a frequência com que gestoras de ativos votaram em assembleias a favor de alcançar metas climáticas destacou a BlackRock e a State Street por consistentemente “bloquearem investimentos ambientais, sem o levantamento entrar no mérito do que estava sendo votado.

A BlackRock, a maior gestora de investimentos do mundo, aprovou duas das 20 resoluções de investimentos verdes em 2023, aponta a análise da ShareAction, organização sem fins lucrativos sediada em Londres, que planeja publicar seu relatório completo sobre o assunto na quinta-feira (11).

A State Street, a terceira maior gestora global de ativos, apoiou menos da metade das medidas verdes propostas em assembleias de acionistas, segundo o estudo.

A análise focou nos maiores signatários da Climate Action 100+, uma aliança de mais de 700 investidores com um total de US$ 68 trilhões em ativos sob gestão.

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Os membros promovem o investimento acionário em vez do desinvestimento de ativos atuais como meio de alcançar metas verdes, sendo a votação entre os acionistas frequentemente vista como a ferramenta mais poderosa para uma decisão.

“A votação em decisões de investimentos é uma alavanca chave para esses investidores institucionais responsabilizarem as empresas com seus compromissos”, disse Felix Nagrawala, gerente de pesquisa da ShareAction, em entrevista. “No entanto, os maiores gestores de ativos não estão fazendo a sua parte.”

A falta de apoio de importantes gestores de ativos às resoluções climáticas apontada pela ShareAction ocorre enquanto o planeta enfrenta as temperaturas mais altas já registradas, em meio ao aumento das emissões de CO2.

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A Agência Internacional de Energia afirmou que não há espaço para investimentos em novos projetos de combustíveis fósseis se o objetivo de limitar o aumento médio da temperatura a 1,5°C for alcançado.

O que disse a BlackRock

Um porta-voz da BlackRock afirmou que a empresa analisa cada resolução e vota, quando autorizada, para promover os interesses financeiros de longo prazo de seus clientes. No ano passado, a BlackRock considerou muitas propostas como “excessivas, carentes de mérito econômico ou simplesmente redundantes” e, portanto, “pouco prováveis” de atingir esse objetivo, disse o porta-voz.

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Um porta-voz da State Street disse que o investidor apoia propostas que fazem sentido para uma empresa, contanto que não sejam excessivamente prescritivas ou ditem como a empresa é administrada.

Os signatários são fiduciários independentes responsáveis por suas próprias decisões de investimento e voto, disse um porta-voz do CA100+ em comunicado.

A aliança mantém um conjunto de requisitos mínimos para os membros e possui um processo claro de exclusão quando esses não são atendidos, disseram.

Nos EUA, a reação política contra investimentos voltados para objetivos ambientais, sociais e de governança tornou-se um grande obstáculo para o CA100+ e grupos semelhantes.

Os republicanos da Câmara acusaram o CA100+ de parecer operar como um cartel, e em julho passado três procuradores-gerais dos EUA enviaram demandas formais a gestoras de recursos por suas comunicações com o grupo. O estado do Tennessee processou a BlackRock em dezembro, citando sua participação no CA100+ como um dos fundamentos para o processo.

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A BlackRock já afirmou anteriormente que toma decisões de investimento e voto de acionistas independentemente do CA100+, ponto reiterado pelo CA100+ para todos os seus membros.

Há agora “preocupações reais sobre se esses gestores de ativos estão realmente preparados para agir contra as mudanças climáticas”, disse Nagrawala. Os principais signatários não estão apenas “se aproveitando do CA100+ e ostentando o rótulo, mas estão bloqueando ativamente o progresso em seus objetivos”, disse ele.

A Climate Action 100+ foi criada há seis anos na tentativa de alavancar a influência dos investidores para fazer com que as empresas de suas carteiras as emissões em suas carteiras de investimento.

No entanto, com poucas evidências de progresso, o CA100+ tem sido pressionado a intensificar sua campanha. Por enquanto, a abordagem principal da aliança tem sido promover o engajamento dos investidores, incluindo a sinalização de resoluções climáticas para os signatários.

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No ano passado, BlackRock, State Street e vários outros grandes membros do CA100+ votaram repetidamente contra resoluções sinalizadas pela CA100+, relatou a ShareAction.

As maiores gestoras de ativos do mundo também apresentam desempenho insatisfatório em relação a diversos outros indicadores climáticos, de acordo com a ShareAction. Isso inclui exposição contínua a interesses em combustíveis fósseis que não são compatíveis com o alcance de suas metas de emissões líquidas zero.

No entanto, em uma análise mais ampla, a ShareAction constatou que os membros do CA100+ tomaram medidas climáticas mais fortes do que os investidores fora da aliança. No total, os membros do CA100+ votaram a favor de resoluções climáticas 72% das vezes, em comparação com 41% para não membros.

Os signatários da Climate Action 100+ interagem com mais de 160 empresas, incluindo B, Exxon Mobil e Glencore, com o objetivo declarado de melhorar a governança, reduzir as emissões de CO2 e fortalecer as divulgações financeiras relacionadas ao clima.

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