Bloomberg — Mesmo diante das altas taxas de juros, instabilidade geopolítica e condições econômicas voláteis, o mercado global de arte conseguiu registrar cerca de US$ 65 bilhões em vendas em 2023, segundo um relatório conjunto da Art Basel e do UBS. Essa é a boa notícia.
Menos encorajador é o fato de que as vendas, que incluem tanto leilões quanto galerias de arte, tiveram uma queda de 4% em termos de valor desde 2022. E isso não leva em consideração a inflação, o que poderia significar que a contração real do mercado é mais severa.
“Eu até fiquei um pouco surpresa positivamente em relação ao fato de não ter caído ainda mais”, diz a autora do relatório, Clare McAndrew, em referência à queda nominal de 4%.
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McAndrew, fundadora da empresa de pesquisa e consultoria Arts Economics, diz que o mercado de arte em 2023 foi, em muitos aspectos, o oposto do ano anterior.
“Em 2022, o segmento de alto padrão estava se saindo muito melhor enquanto todo o resto estava recuando”, diz ela, em referência às obras com preços na casa dos milhões de dólares. “E então vimos isso virar um pouco no ano passado, com o alto padrão realmente diminuindo, mas ainda havia atividade neste nível de preço mais baixo.”
Queda Global
Os Estados Unidos mantiveram sua posição dominante no mundo da arte, representando 42% das vendas em termos de valor (que inclui tanto os mercados primário quanto secundário), de acordo com o relatório.
E, apesar de uma série de fracassos de leilões de grande destaque, incluindo a venda do Long Museum na Sotheby’s em Hong Kong, a China conseguiu ultrapassar o Reino Unido como o segundo maior mercado, com sua participação subindo para 19%; o Reino Unido caiu para o terceiro lugar, com 17%.
Já a França ficou em um distante quarto lugar, com 7% das vendas em valor, totalizando US$ 4,6 bilhões.
O sucesso vai além da participação de mercado: em termos de valor total em dólares, o mercado dos EUA caiu 10%, somando US$ 27,2 bilhões, de acordo com o relatório. As vendas no Reino Unido caíram quase a mesma proporção em termos de participação em valor, cerca de 8%.
Apenas a China, que, segundo McAndrew, se beneficiou de uma série de vendas atrasadas devido às restrições impostas pela covid-19, viu um crescimento de 9% em valor em 2023, para US$ 12,2 bilhões. Mas, assim que esses estoques finalmente chegaram ao mercado na primavera, o mercado chinês também começou a afundar rapidamente.
“No segundo semestre do ano, o segmento de leilões ficou muito mais fraco”, diz McAndrew. Sem esse aumento na primavera, continua ela, “teria sido um ano muito pior na China, e também globalmente”.
Desaceleração do mercado
Os 1.600 revendedores entrevistados que relataram seus resultados – dados que, portanto, devem ser analisados com cautela – disseram aos pesquisadores que suas vendas agregadas caíram cerca de 3% em relação ao ano anterior, para US$ 36,1 bilhões.
A dor foi particularmente acentuada para os revendedores com mais de US$ 10 milhões em faturamento; eles relataram uma queda de 7% nas vendas médias. Enquanto isso, as operações menores, ou seja, os revendedores com faturamento inferior a US$ 500.000, viram suas vendas aumentarem em média 12%.
A desaceleração das vendas de maior preço pode ter sérias ramificações para o ecossistema geral das galerias, diz Noah Horowitz, CEO da Art Basel.
![Mercado global de arte registrou cerca de US$ 65 bilhões em vendas em 2023 Mercado global de arte registrou cerca de US$ 65 bilhões em vendas em 2023](https://www.bloomberglinea.com/resizer/v2/3OUTOU6OYFBHDGIU7B7IKQ7V6M.jpeg?auth=1b5b3da001bbedbdb292909357c9e7c31e9f7a798321a2f91a1b4b2c60678ce2&width=1000&height=666&quality=80&smart=true)
“Estamos vendo um cenário em que os custos estão crescendo mais rápido do que os preços em termos do que as galerias conseguem vender”, diz ele, citando transporte, envio, viagens e entretenimento como fatores que contribuem para o aumento dos custos gerais.
“Fazer negócios se tornou mais desafiador e os preços não estão acompanhando o aumento do custo.”
As cifras globais de leilões também sofreram um recuo no segmento mais alto. As vendas públicas totais em leilões caíram 7%, para US$ 25,1 bilhões, segundo o relatório, e as vendas acima de US$ 10 milhões foram um fator importante nessa queda; o número de lotes vendidos nessa faixa caiu 25% em relação ao ano anterior, enquanto os valores totais diminuíram 40%.
“Acho que as pessoas evitaram vender em leilões”, diz McAndrew.
Perspectivas Futuras
E, no entanto, as transações ainda ocorreram e o mercado de arte continua funcionando: o volume de vendas aumentou 4% em relação ao ano anterior, de acordo com o relatório.
Grande parte do que acontece com essa tendência pode depender do ecossistema robusto (e em grande parte não mensurável) do mercado, sugere McAndrew: “Há uma boa mistura no mercado de arte entre a experiência e o produto. Tem uma natureza dupla, pois está se comprando algo, mas é o processo todo que envolve comprá-lo”.
Ela cita a emoção de fazer lances em um leilão ou a diversão de viajar para uma feira de arte em um clima mais quente.
“O ecossistema mistura experiências com produtos de uma maneira muito positiva. Acredito que é isso que vai salvar o mercado”, diz ela.
Não todos os revendedores são tão otimistas. Apenas cerca de um terço dos entrevistados do relatório esperava uma melhora nas vendas em 2024, e eles têm uma visão ainda mais sombria de seus concorrentes: apenas 23% previam que seus concorrentes veriam um aumento nas vendas.
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