Nova onda de edifícios sustentáveis vai além do selo verde e busca bem-estar

Depois da certificação de sustentabilidade, empreendimentos de alto padrão buscam chancela que prioriza saúde e segurança de seus usuários, aponta JLL

A maioria dos prédios corporativos de alto padrão de São Paulo, como o Rochaverá, nas Nações Unidas, já têm certificação verde (Foto: Pedro Abude)
28 de Julho, 2023 | 05:15 AM

Bloomberg Línea — São Paulo é a 12ª cidade do mundo com mais edifícios com certificação de sustentabilidade, de acordo com estudo global da consultoria imobiliária JLL obtido com exclusividade pela Bloomberg Línea. Mais do que “verdes”, agora os empreendimentos buscam outro tipo de selo, o de bem-estar.

Segundo a consultoria americana, 71% dos empreendimentos de alto padrão da capital paulista são certificados com os chamados selos verdes. Trata-se de edificações que foram planejadas para causar impacto reduzido no meio ambiente, em todas as etapas de seu ciclo de vida.

Das 40 cidades do mundo analisadas no estudo, São Paulo aparece à frente de municípios que investem há muito tempo em sustentabilidade, de acordo com a JLL, como Miami (66% do total de alto padrão), Los Angeles (65%), Nova York (61%), Tóquio (51%), Seul (45%) e Pequim (40%).

No caso dos selos verdes, o mais conhecido no Brasil é o LEED. Aproximadamente 1.500 edifícios já contam com essa certificação no país.

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Segundo a diretora de sustentabilidade da JLL, Luciana Arouca, esses selos atestam que um edifício atende a diversos critérios como consumo responsável de energia, de água, aproveitamento máximo de luz natural, além de itens como processos de gestão de resíduos.

A executiva explicou que a idade dos empreendimentos determina a complexidade do processo de obtenção da certificação. “O investimento para adequar um prédio antigo vai ser muito maior. A grande tendência é que os novos empreendimentos já saiam com selo verde ou pelo menos preparem o projeto para obtê-lo posteriormente”, disse em entrevista à Bloomberg Línea.

A executiva relatou que grandes inquilinos, principalmente empresas globais, têm verificado os critérios de sustentabilidade dos empreendimentos antes de assinarem o contrato de locação, muitas vezes com a exigência das chamadas “cláusulas verdes”.

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“É uma forma de combinar com o proprietário que, dentro de um determinado período, o empreendimento se compromete a atingir certas metas de eficiência”, afirmou. Segundo a JLL, um terço dos líderes das empresas planeja sair de um espaço menos eficiente em emissão de carbono até 2025.

O levantamento da consultoria mostrou ainda que os empreendimentos com certificação verde têm taxas de vacância menores, mesmo em bairros ou regiões em que esses índices são maiores.

Há outros benefícios. Na região primária da capital paulista, por exemplo – que abrange Faria Lima, Berrini/Chucri Zaidan, Itaim, JK, Paulista e Vila Olímpia –, o preço pedido de locação em edificações com selo verde é, em média, 20% maior em relação aos prédios não certificados. Na média da cidade, o preço pedido de aluguel em empreendimentos com essa chancela é 41% superior.

Luciana Arouca disse que o estoque de certificações verdes no Brasil é puxado por edifícios de alto padrão, mas isso está mudando gradualmente. “Acreditamos na pressão de stakeholders e clientes para que essas questões sejam levadas em consideração no momento de assinar um contrato de locação da empresa.”

De acordo com a diretora da JLL, empresas questionam cada vez menos se os empreendimentos corporativos devem ter certificação verde ou não.

Bem-estar

Há também outras tendências na ocupação de escritórios e edifícios de alto padrão. “Vemos empresas correndo atrás não só de selo verde mas também de bem-estar”, disse Arouca. Entre os critérios analisados para a concessão dessa chancela estão, entre outros:

  • qualidade do ar
  • incidência de luz solar
  • áreas ou salas de descompressão e lazer
  • espaço para amamentação
  • oferta de alimentação saudável
  • transporte acessível para todos os públicos.

A certificação de bem-estar mais adotada no Brasil é chamada WELL, que engloba cerca de 100 critérios. “Percebemos um aumento do interesse por essa certificação e também das chamadas cláusulas sociais, que, assim como as verdes, demandam ajustes futuros no empreendimento”, esclareceu a executiva.

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Atualmente, apenas 8 empreendimentos possuem o selo WELL no Brasil, como o Birmann 29, na Avenida Brigadeiro Faria Lima. Com 9.674 metros quadrados, o edifício tem 25 anos de idade e, entre seus ocupantes, está o J.P. Morgan. No Rio de Janeiro, o banco norte-americano também ocupa o único prédio com certificação WELL na cidade, o Edifício Argentina, em Botafogo.

O Birmann 29, na avenida Brigadeiro Faria Lima, é um dos poucos prédios com selo WELL no Brasil. Foto: Filipe Serrano/Bloomberg Líneadfd

Já a sede da BR Properties (BRPR3) fica em um empreendimento do grupo no Parque da Cidade, na avenida das Nações Unidas, em São Paulo, que também possui o selo. De acordo com a WELL, após o diagnóstico e a implementação de ajustes no edifício, houve uma “melhor qualidade da água e do ar dentro do escritório”, um impacto positivo do uso de iluminação circadiana – que favorece a produtividade durante o dia e o relaxamento à noite –, além de critérios ligados a alimentação, mente e corpo.

Apesar do número considerado baixo dessa certificação no Brasil, cerca de 120 empreendimentos aguardam auditoria para obter o selo WELL no país.

Riscos de mercado

Em um cenário ainda desafiador, com custos de capital e de construção elevados, investidores do setor imobiliário estão cautelosos. Mas esse cenário começa a melhorar.

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Para o managing director e head da Paladin Realty no Brasil, Ricardo Raoul, o mercado caminha para uma estabilidade.

“Depois da pandemia, os preços dos terrenos subiram muito e os custos de construção dispararam. Mas devemos ter um cenário mais estável nos próximos meses. Caminhamos para um equilíbrio”, afirmou.

Arouca disse acreditar que não há razão para iniciar um empreendimento imobiliário sem que ocorra a busca de certificações verdes e de bem-estar. “Isso não é só uma tendência dos mercados maduros, trata-se de uma realidade por aqui também”, destacou.

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Juliana Estigarríbia

Jornalista brasileira, cobre negócios há mais de 12 anos, com experiência em tempo real, site, revista e jornal impresso. Tem passagens pelo Broadcast, da Agência Estado/Estadão, revista Exame e jornal DCI. Anteriormente, atuou em produção e reportagem de política por 7 anos para veículos de rádio e TV.