Etanol brasileiro sai na frente na produção de combustível de aviação sustentável

Produto vai abastecer a primeira fábrica do combustível nos EUA, superando o etanol feito de milho em território americano; São Martinho espera ser a fornecedora inicial, seguida da Raízen

Foto de uma usina de bioenergia. Em primeiro plano, um canavial
Por Dayanne Sousa - Gerson Freitas Jr
18 de Abril, 2024 | 11:22 AM

Bloomberg — Os Estados Unidos deram um enorme salto tecnológico ao lançar a primeira usina de combustível de aviação sustentável a partir de etanol do mundo – mas serão os produtores de etanol brasileiros, e não os americanos, que inicialmente colherão os frutos.

Embora capaz de processar etanol produzido a partir do milho nos EUA, a usina da LanzaJet na zona rural do estado da Geórgia funcionará principalmente à base de etanol de cana-de-açúcar importado do Brasil quando sua produção comercial começar.

Isso porque muitas das maiores usinas brasileiras já foram certificadas para produzir matéria-prima para o combustível de aviação sustentável (SAF, na sigla em inglês), atendendo aos padrões americanos e internacionais.

A São Martinho (SMTO3) espera ser a primeira a abastecer o mercado de SAF dos EUA.

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A empresa recebeu as certificações necessárias – incluindo o padrão Corsia, globalmente aceito, estabelecido pelo órgão regulador da aviação das Nações Unidas, além do registro na Agência de Proteção Ambiental dos EUA (EPA) – e começou a produzir etanol de cana-de-açúcar em conformidade com o SAF para exportação, afirmou o presidente da empresa, Fabio Venturelli, em entrevista à Bloomberg News.

A companhia prevê produzir entre 13 milhões e 15 milhões de litros na atual safra, segundo o executivo. “Chegou a hora de recebermos o devido reconhecimento pelo nosso trabalho”, afirmou Venturelli.

Para serem elegíveis sob o padrão Corsia de compensação e redução de carbono para a aviação, os produtores devem garantir que o etanol foi fabricado com emissões baixas e não contribuiu para o desmatamento. A EPA exige que os produtores provem que os volumes podem ser armazenados e transportados separadamente de outros combustíveis.

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Outros grandes produtores brasileiros, incluindo Raízen (RAIZ4), BP Bunge Bioenergia e usinas ligadas à Copersucar, obtiveram a certificação Corsia. A Raízen e a Copersucar também se registraram junto à EPA, disseram as empresas.

A corrida para fornecer etanol para SAF é crítica para as usinas devido à ascensão de veículos elétricos, o que ameaça diminuir o consumo do biocombustível. A produção mundial de SAF a base de etanol exigiria até 9 bilhões de litros por ano do biocombustível até 2030, estima a Raízen. Isso equivale a quase um terço de toda a produção de etanol de cana-de-açúcar no Brasil.

“Estamos prontos para fornecer etanol em diferentes pontos dos EUA, com certeza”, disse Paulo Neves, vice-presidente da Raízen, uma joint venture entre a Cosan e a Shell.

A usina da LanzaJet, que conta com o apoio do Departamento de Energia dos EUA, usou etanol de milho americano durante a fase de testes. O CEO da empresa, Jimmy Samartzis, insistiu que pretende usar a matéria-prima produzida nos EUA novamente quando sua intensidade de carbono diminuir.

Também é fundamental que o governo Biden faça mudanças para reconhecer as práticas de redução de gases de efeito estufa que já ocorrem na produção de etanol de milho nos EUA, disse Samartzis por e-mail.

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“Nossa prioridade é continuar a buscar o etanol americano à medida que melhoras são feitas em sua intensidade de carbono”, disse Samartzis. Além do etanol de cana-de-açúcar, a usina utilizará uma série de outros tipos de etanol de baixo carbono, como o combustível a base de celulose, quando passar para a fase de produção comercial.

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Várias das fábricas de SAF ficam perto da costa do Golfo do México, no sul dos EUA, onde as importações terão maior viabilidade econômica. Quando a LanzaJet inaugurou formalmente suas instalações em janeiro, as associações do setor de milho e etanol dos EUA criticaram a falta de etanol americano de baixo carbono disponível para ser utilizado na fábrica.

Os membros da indústria americana consideraram a abertura como um alerta para agirem muito mais rapidamente na redução dos gases de efeito estufa em toda a cadeia de produção.

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“As usinas não estão no cinturão do milho americano. Então, as portas já estão abertas para o etanol mais competitivo”, disse Ricardo Carvalho, diretor comercial da BP Bunge.

A produção e os embarques de etanol para a fabricação de SAF da BP Bunge ainda não começaram, mas a meta é que isso aconteça ainda neste ano. A empresa disse que poderia exportar até 500 milhões de litros de etanol para SAF assim que mais usinas sustentáveis de combustível de aviação sustentável entrarem em operação.

A indústria de etanol americana corre para nivelar as condições de concorrência por meio do apoio a projetos massivos de captura e armazenamento de carbono para baixar a pontuação de intensidade de carbono o suficiente para participar no setor de SAF. Mas alguns desses projetos enfrentam oposição de ambientalistas e proprietários de terras.

“Quando olhamos para a cadeia de emissões do etanol de milho americano”, disse Tomas Manzano, CEO da Copersucar, “eles ainda estão aquém”.

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O Brasil também ainda tem trabalho a fazer. Muito do etanol brasileiro é transportado em caminhões, o que pode significar mais emissões de carbono. Há alguns dutos de etanol, mas ainda não chegam ao principal porto do país.

No caso da São Martinho, a empresa disse que as emissões relacionadas ao transporte serão menores com o uso de ferrovias.

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Os documentos do padrão Corsia mostram que as emissões do ciclo de vida do etanol de milho americano são quase três vezes maiores do que as do etanol de cana-de-açúcar brasileiro.

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