Chanceler da Alemanha defende adiar regra da UE contra o desmatamento

Olaf Scholz disse que pediu à UE para suspender a nova regulamentação; ministros das Relações Internacionais e da Agricultura do Brasil enviam carta ao bloco

“A regulamentação deve ser praticável”, disse Scholz
Por Michael Nienaber - John Ainger
12 de Setembro, 2024 | 11:01 AM

Bloomberg — O chanceler alemão Olaf Scholz disse que pediu à União Europeia para suspender a nova medida do bloco destinada a reduzir o desmatamento, à medida que aumentam as críticas sobre as novas regras.

Os comentários do líder alemão se somam às objeções expressas por países como Brasil, Indonésia e Malásia, que argumentam que a restrição terá um impacto negativo nos mercados globais de commodities.

Scholz disse que compartilhava das preocupações levantadas pelas editoras sobre a regulamentação, conhecida como EUDR (EU Deforestation Regulation), e seu possível impacto sobre os produtos impressos quando for implementada no final deste ano.

“Para ser claro: a regulamentação deve ser praticável”, disse Scholz na quinta-feira (12) em um congresso da associação de jornais BDZV em Berlim.

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Scholz disse que pediu pessoalmente à presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, ex-ministra da Defesa da Alemanha, que o EUDR fosse adiado temporariamente até que as questões levantadas pelo BDZV fossem esclarecidas.

Em uma declaração em março, o BDZV disse que a associação e outros grupos escreveram para o governo alemão e para a comissão pedindo que eles “mitigassem os riscos, as sanções e os encargos para as empresas impostos pela regulamentação”.

Em sua forma atual, o EUDR representa "não apenas uma grande ameaça à produção de produtos impressos para o público em geral, mas também para produtos de imprensa, documentos eleitorais, documentação técnica, rótulos e embalagens, que fazem parte da infraestrutura crítica", de acordo com a declaração.

Com o objetivo de combater a mudança climática e interromper a perda de biodiversidade, a EUDR pode ter consequências de longo alcance para um comércio anual de mais de US$ 110 bilhões, além de afetar a economia de países em todos os continentes e forçar fornecedores a se adaptar à iniciativa.

Brasil envia carta à UE

O Brasil também pediu à UE que adie a implementação da lei. Em uma carta às autoridades da UE, vista pela Bloomberg, o país disse que as regras abrangem mais de 30% de suas exportações para o bloco.

“A EUDR foi projetada sem uma compreensão adequada dos processos de produção e exportação de diferentes produtos e das realidades locais em cada país”, escreveram Mauro Vieira, ministro das Relações Exteriores do Brasil, e Carlos Favaro, ministro da Agricultura.

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A carta foi endereçada aos comissários da UE, incluindo Maros Sefcovic, chefe do Acordo Verde do bloco.

“Consideramos que medidas unilaterais, coercitivas e punitivas corroem a confiança.”

Um porta-voz da UE confirmou o recebimento da carta brasileira.

Os comentários de Scholz e o pedido de adiamento do Brasil aumentam a pressão sobre a UE para adiar as regras, que visam combater o desmatamento causado pela expansão da produção de commodities do agronegócio, como carne bovina, madeira, soja e café.

A Indonésia e a Malásia também criticaram a lei, que, segundo eles, atingiria mais duramente os pequenos agricultores. Vários países e legisladores da UE também criticaram a lei por penalizar o setor agrícola.

O Financial Times noticiou anteriormente a carta do Brasil.

-- Com a colaboração de Simone Iglesias e Agnieszka de Sousa.

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