Carro em frente ao letreiro da Tesla
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Bloomberg Opinion — Para a Tesla (TSLA), ser a décima empresa mais valiosa do mundo, com o maior valor de mercado e lucratividade com crescimento mais rápido que qualquer montadora, é algo aparentemente assustador.

A perda de 50% de valor desde o recorde histórico do preço das ações em novembro de 2021, enquanto a empresa sofre o maior declínio semanal consecutivo em sete anos, é uma tendência ruim, principalmente quando a Tesla está perdendo seu posto de número 1 em emissões zero para a chinesa BYD (BYD), em meio à desaceleração das vendas.

Um post de cunho antissemita do CEO Elon Musk na plataforma X, antigo Twitter, foi mais um motivo para a erosão da confiança entre os investidores mais leais.

Os analistas já se afastaram da Tesla a ponto de quase 65% deles não recomendarem mais as ações.

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A Tesla começou 2023 avaliada em US$ 341 bilhões. Nos 12 meses seguintes, os lucros caíram 24% (excluindo o benefício fiscal não monetário do quarto trimestre) e a estimativa consensual para lucros futuros caiu 27%. O valuation atual é de US$ 660 bilhões.

Essa onda precisa virar um tsunami. Ou, como Adam Sarhan, fundador e CEO da 50 Park Investments, disse à Bloomberg News: “se a Tesla está reduzindo sua previsão e não está otimista no curto prazo, por que os investidores deveriam estar otimistas?” Ele acrescentou que “não há piso para essa ação no curto prazo”.

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E, no entanto, também não parece haver um teto para as ações da Tesla. Embora ela possa não estar crescendo 50% ao ano como a empresa pensava, ainda está aumentando o volume em 15% a 20% ao ano e rendendo US$ 7.000 de lucro bruto por carro”, disse David Baron, gerente do Baron Focused Growth Fund. Ele prevê que a Tesla se valorizará 56%, chegando a US$ 300 por ação em cerca de 12 meses, e 525%, chegando a US$ 1.200 até 2030.

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Embora a BYD possa estar atraindo atenção favorável da mídia por ter ultrapassado a Tesla como líder global de vendas no quarto trimestre, a lucratividade é outra questão e é examinada de perto pelos investidores.

A empresa sediada em Shenzhen, Guangdong, e liderada por Wang Chuan-Fu, transforma US$ 100 de vendas em US$ 11 de lucro antes das despesas com juros, impostos, depreciação e amortização, com uma margem Ebitda de 11%. O índice flutuou entre 11% e 16% nos últimos 10 anos, atingindo o pico em 2016.

Já a Tesla está transformando US$ 100 de receita em US$ 14 de lucro, proporcionando uma margem Ebitda de 14%. Em 2016, a Tesla perdeu US$ 8 para cada US$ 100 de vendas, de modo que sua força relativa na geração de lucros aumentou à medida que a da BYD diminuiu, de acordo com dados compilados pela Bloomberg.

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Ambas as empresas apresentaram o chamado fluxo de caixa livre, ou dinheiro recebido das operações menos as despesas de capital, desde 2019 (a Tesla gerou US$ 4,4 bilhões nos últimos 12 meses e a BYD US$ 1,8 bilhão).

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As despesas de capital da BYD – dinheiro investido por meio de aquisições, aquisição de ativos físicos ou equipamentos – aumentaram para US$ 4,8 bilhões no terceiro trimestre do ano passado de US$ 400 milhões no final de 2020, quase o dobro dos gastos trimestrais de US$ 2,5 bilhões da Tesla durante o mesmo período.

Apesar de todos os seus desafios para competir com gigantes do setor automobilístico, as ações da Tesla ganharam 832% nos últimos cinco anos, ou quase três vezes o retorno total de 296% da BYD (receita de dividendos mais valorização) e 15% nos últimos 12 meses – uma margem de 14 pontos percentuais maior do que o benchmark de ações para fabricantes de automóveis globais, quando as ações da BYD perderam 29%, de acordo com dados compilados pela Bloomberg. Ao contrário da BYD, a Tesla não paga dividendos.

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A BYD se tornou brevemente a favorita global em julho de 2022, quando os investidores pagaram cerca de 114x o lucro estimado por cada ação, quase quadruplicando o múltiplo de 30x da Tesla, por um prêmio de 300%.

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Mas o múltiplo da BYD caiu para 16x desde então, enquanto o da Tesla subiu para 59x, mostrando que os investidores globais agora negociam a BYD com um desconto de 70% em relação à Tesla, embora a BYD tenha vendido mais veículos elétricos durante o último trimestre.

A perda de quase um terço de seu valor desde o final de dezembro parece ser uma ferida mortal para qualquer empresa. Mas o poder superior dos lucros parece ser o amortecedor que permite que a Tesla sobreviva à desaceleração das vendas, à medida que a empresa se retrai e Musk se prepara para introduzir seu modelo de menor custo para combater a crescente concorrência de todo o mundo.

Portanto, mesmo depois de sofrer uma de suas maiores quedas desde que se tornou uma empresa de capital aberto em 2010, o valor da Tesla continua sendo quase o dobro da Toyota e nove vezes a avaliação atual da BYD.

- Com a colaboração de Shin Pei, Sebastian Delgado, Keith Gerstein e Vladica Samuel.

Esta coluna não reflete necessariamente a opinião do conselho editorial ou da Bloomberg LP e de seus proprietários.

Matthew A. Winkler é editor-chefe emérito da Bloomberg News e escreve sobre mercados.

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