Família ergue império agro de R$ 4,5 bi no Brasil com impulso de 935% da ação

SLC Agrícola, fundada e controlada pela família Logemann, do Rio Grande do Sul, cresce agora também com ganhos de produtividade com tecnologia e valorização das terras

Colheita de soja, principal commodity agrícola produzida e exportada pelo Brasil e uma das principais fontes de receita da SLC (Andressa Anholete/Bloomberg)
Por Daniel Cancel - Tatiana Freitas
10 de Maio, 2023 | 11:08 AM

Bloomberg — As primeiras apostas na promessa agrícola do Brasil criaram uma família de imigrantes alemães ultra-ricos de terceira geração que cresce ainda mais à medida que os valores das terras aumentam e a tecnologia gera ganhos cada vez maiores no rendimento das colheitas.

A família Logemann, chefiada por Eduardo Logemann, de 72 anos, detém 53% da SLC Agrícola (SLCE3), que tem um gestor de fundos hedge de Londres, Crispin Odey, como seu maior acionista privado.

Embora a empresa seja pouco conhecida fora dos círculos agrícolas, as ações subiram cinco vezes desde sua oferta pública inicial de ações (IPO) em 2007. Tem vista para a terra mais plantada por ano no Brasil - cerca de 670.000 hectares -, uma área maior que o estado americano de Delaware.

Com sede na cidade de Porto Alegre, na região sul do Brasil, a SLC cultiva algodão, soja e milho em 22 fazendas em todo o Brasil e possui cerca de um terço das terras que planta. Essa propriedade está avaliada em US$ 1,9 bilhão, um aumento de 35% em um ano, acompanhando os preços das safras.

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No Brasil, os agricultores conseguem duas safras por ano, com o aumento do uso de tecnologias como drones e o uso preciso de fertilizantes que ajudam a aumentar a produtividade.

A participação da família Logemann na SLC é avaliada em US$ 895 milhões (cerca de R$ 4,5 bilhões ao câmbio de hoje), com base nos preços atuais de mercado. Eles também operam uma rede de 27 lojas que vendem produtos da gigante americana de máquinas agrícolas John Deere, com receita na subsidiária integral que deve chegar a R$ 2 bilhões (US$ 405 milhões) neste ano.

“Quando você tem bons lucros e paga bons dividendos, todo mundo fica feliz”, disse Logemann em entrevista à Bloomberg News na sede da empresa. “Nosso foco não é ganhar dinheiro com imóveis, é eficiência operacional na agricultura. Isso não significa que não procuraremos vender ou comprar de forma oportunista, especialmente se alguém oferecer um preço absurdo.”

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Eduardo Logemann, presidente do conselho da SLC Agrícola (à direita), e Frederico Logemann (Tiago Coelho/Bloomberg)dfd

Enquanto os investidores acompanham principalmente o lado operacional do negócio – quanto plantam, colhem e vendem –, as terras funcionam como uma espécie de unidade imobiliária agrícola, cujo valor não é totalmente contabilizado a menos que seja vendido por normas contábeis.

O retorno sobre o patrimônio líquido foi em média de 20% nos últimos cinco anos, disse o CEO Aurelio Pavinato em entrevista à Bloomberg News. A SLC registrou lucro recorde em 2022, permitindo que a empresa pagasse R$ 601 milhões em dividendos.

O primeiro Logemann a vir para o Brasil - o avô de Eduardo, Frederico - partiu de perto de Bremen, na Alemanha, por volta de 1910 para trabalhar em um projeto ferroviário. Mais tarde, ele abriu um negócio em um terreno que lhe foi dado no extremo oeste do estado do Rio Grande do Sul, perto da Argentina. A área acabou se tornando a cidade de Horizontina, que hoje tem cerca de 20.000 habitantes e é o berço da supermodelo e hoje também empresária Gisele Bündchen.

A primeira empresa da Schneider Logemann Co. (SLC) foi formada em 1945 e vendia materiais agrícolas e de construção. Na década de 1960, Jorge, pai de Eduardo, começou a construir uma colheitadeira, o que acabou levando a uma joint venture com a John Deere em 1979. A empresa americana adquiriu uma participação de 20% por cerca de US$ 7,5 milhões.

Foi nessa época que Eduardo começou a viajar com seu pai para Brasília para reuniões com funcionários do governo, o que resultou em passeios no estado vizinho de Goiás. Um plano do governo para cultivar trigo ali fracassou, mas os Logemanns compraram uma fazenda que hoje está entre seus maiores ativos. No final da década de 1980, eles compraram terras no sul do Maranhão, quando ninguém apostava nelas para a agricultura.

Aurélio Pavinato, CEO da SLC Agrícola (Tiago Coelho/Bloomberg)dfd

Quando Jorge morreu em 1987, Eduardo assumiu o cargo de CEO aos 37 anos. Seu irmão, Jorge Luiz, juntou-se a ele, enquanto três outros irmãos nunca se envolveram, mas têm ações iguais.

A John Deere comprou outra participação de 20% no empreendimento de tratores e, em 1999, adquiriu os 60% restantes por um valor não revelado. Com o dinheiro, Eduardo comprou mais terras.

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Antes do IPO de 2007, Eduardo, que agora é presidente do conselho, disse que foi informado de que nenhum investidor estava interessado em comprar ações de uma empresa agrícola no Brasil. Frustrado, ele disse que procurou o chefe do JPMorgan Chase (JPM) no país na época, que concordou em ajudá-lo. A ação teve retorno de 935%, incluindo dividendos, desde o IPO, em comparação com 99% do Ibovespa.

Logemann disse que só falou uma vez com Odey, o gestor de fundos hedge de Londres que possui cerca de 9% da empresa, e também lhe enviou um e-mail para agradecê-lo por defender a empresa contra as acusações de desmatamento.

A SLC foi multada várias vezes pelos reguladores ao longo dos anos por alegados danos ao meio ambiente, de acordo com uma reportagem de 2020 do Financial Times, que citou uma investigação do grupo ambiental Global Witness. Odey disse ao jornal britânico que a família administra uma operação limpa e descreveu as penalidades como “uma multa de estacionamento”.

Mapa que ilustra a expansão da família Logemann para terras mais ao centro e ao norte do Brasildfd

As fazendas da SLC cumprem a regulamentação ambiental local, disse a empresa, e prometeu em 2021 não desmatar novas terras para agricultura. Também está envolvida em um programa piloto para deixar a floresta nativa intocada em uma de suas fazendas no Mato Grosso, disse Pavinato.

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Para extrair mais da terra que possui, o filho de Jorge Luiz, Frederico, de 41 anos, foi encarregado de supervisionar iniciativas que incluem um fundo de capital de risco para investir em startups. Cerca de metade dos US$ 10 milhões do fundo foi alocada nos primeiros três anos, disse Frederico em entrevista.

“Sempre tivemos vantagens de tamanho por ter fazendas grandes, mas também tivemos dificuldades em como controlar uma fazenda de 40 mil hectares, 40 quilômetros de ponta a ponta”, disse Frederico. “A tecnologia veio para ajudar a ver tudo isso em tempo real e corrigir as coisas.”

Questionado sobre os planos de sucessão da empresa de 78 anos, Eduardo disse que os cerca de 25 membros da família desejam manter o controle.

“Eles têm que ser bons acionistas”, disse ele. “Saber que a empresa é um meio de sobrevivência para eles.”

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