Rodadas da semana: startup de RH recebe investimento seed de Arminio Fraga

Jobecam, empresa de tecnologia para recrutamento, teve aporte do ex-presidente do BC e de Daniel Gleizer; veja outras startups que captaram nos últimos dias

Arminio Fraga, sócio da Gávea Investimentos e ex-presidente do Banco Central: investimento em startup de RH
01 de Abril, 2023 | 08:28 AM

Bloomberg Línea — O número de startups que captam pela primeira vez pode representar um indicador da disposição de investidores e empreendedores de concordar com as condições de financiamento e de como os fundos de venture capital estão propensos a buscar negócios de alto risco, segundo o Sling Hub, provedor de dados para o ecossistema de startups na América Latina.

Segundo o Sling Hub, cerca de 3 mil startups da América Latina captaram pela primeira vez entre 2018 e 2022. Mas, no último ano, as rodadas de menos de US$ 1 milhão caíram 20% na região. Esse tipo de aporte passou de 71% do total de negócios em 2018 para pouco mais de 39% em 2022.

No ano passado, o número de rodadas menores que US$ 50 milhões caiu pela primeira vez desde 2018 na América Latina. Só no Brasil, a queda foi de 41% ano contra ano.

Para os estágios mais avançados, o cenário é ainda mais difícil. Um estudo recente da Kamaroopin, gestora de growth equity apoiada pelo Pátria Investimentos, mostra que há um cenário de maior demanda do que de capital disponível para investimentos em startups em rodadas de Série B em diante.

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A Kamaroopin estima que a demanda será de cerca de US$ 6,1 bilhões anuais, mas a disponibilidade de capital ao ano para essa classe de ativos será de US$ 3,7 bilhões, o que vai criar um gap anual de US$ 2,4 bilhões entre oferta e demanda.

Isso tem favorecido a consolidação, com grandes empresas comprando startups que enfrentam uma janela para captação mais difícil ou que estejam em busca de acelerar o crescimento. Um dos casos é a fintech Pismo, alvo de disputa de Mastercard e Visa, conforme noticiado pela Bloomberg News.

Com o desaparecimento das mega-rodadas para startups da América Latina, o segmento de estágio inicial (early stage) é aquele que ainda tem mostrado atividade mais intensa na região. Nesta semana, as startups Pacto, TraderPal, Aravita, Toku, Inspectral, Jobecam e Qlub receberam aportes.

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Jobecam

A startup para recursos humanos Jobecam recebeu uma rodada Seed de cerca de R$ 4 milhões, liderada pelos economistas Arminio Fraga (ex-presidente do Branco Central) e Daniel Gleizer (ex-diretor de Assuntos Internacionais do Banco Central). Os recursos captados serão direcionados a investimentos em tecnologia, desenvolvimento de produtos e estratégias de marketing da startup.

A Jobecam conecta recrutadores por meio de vídeo e seleção com entrevistas anônimas, pré-gravadas ou ao vivo. “Abrimos esta rodada por sabermos que o momento é propício para o mercado entender a necessidade da nossa tecnologia de vídeo, uma vez que processos de entrevistas remotos são cada vez mais necessários para gerar eficiência para todos os envolvidos, bem como a urgência das empresas em fortalecer e praticar a pauta de diversidade”, disse a fundadora Cammila Yochabell em comunicado.

Aravita

A Aravita, startup brasileira que usa inteligência artificial para fazer a gestão de operações de alimentos frescos no varejo, recebeu um aporte de mais de R$ 12 milhões (US$ 2,3 milhões).

Os principais investidores são a Qualcomm Ventures, braço de investimentos da Qualcomm, e a 17Sigma, do fundador e CEO da fintech argentina Ualá, Pierpaolo Barbieri. Os outros investidores institucionais são Bridge, DGF Investimentos, Alexia Ventures, BigBets e Norte Capital. Entre os investidores-anjos estão Bernardo Lustosa, sócio e CEO da ClearSale, e Flávio Jansen, ex-CEO da Locaweb e do Submarino.

A empresa pretende ajudar varejistas a otimizar a gestão de alimentos frescos, como frutas, verduras e hortaliças, reduzindo desperdício e aumentando a disponibilidade de itens demandados por meio da adoção de inteligência artificial. A startup diz que sua solução otimiza a compra, reduzindo a sobra de alimentos e as perdas de vendas.

A empresa está desenvolvendo uma plataforma que vai contemplar funcionalidades como controle de inventário e integração com sistemas de ponto de venda e, a médio prazo, inteligência artificial e visão computacional para automação de processos.

No início deste ano, a Aravita iniciou um piloto em uma rede com dezenas de lojas na região de São Paulo. “Começamos a implementação focados em frutas, legumes e verduras e vislumbramos expandir a abrangência para outros departamentos de supermercados com desafios semelhantes, como padaria, confeitaria, fiambreria, peixaria e açougue”, disse o CEO Marco Perlman, em comunicado.

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AgriAcordo

A startup brasileira AgriAcordo, uma plataforma para negociações comerciais no atacado de insumos agrícolas, concluiu uma rodada de US$ 1,6 milhão, equivalente a quase R$ 8,5 milhões. O aporte teve a participação de fundos e empresas com foco em tecnologia e agronegócio. A maior participação foi da Venture Capital Xperiment e de fundos como Primary Ventures e Pampa Star.

A startup, fundada em 2021, é subsidiária brasileira da argentina AgriRed, marketplace que é gerido pelo grupo americano Ag inputs Trading. Com o aporte, a empresa planeja acelerar o seu crescimento no Brasil.

Com uma parte do investimento recebido, a startup está desenvolvendo uma plataforma para produtos biológicos e especiais para que as empresas consigam compartilhar informações técnicas e dados de pesquisas. O produto deve ser lançado em quatro meses.

“É um setor em desenvolvimento e algumas empresas de biológicos e especiais não têm canais de comunicação. A AgriAcordo poderá suprir essa demanda”, disse Gabriel Vidal, CEO da argentina AgriRed.

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A AgriAcordo diz que tem 500 empresas cadastradas. No estado de São Paulo, 30% das empresas que comercializam insumos agrícolas estão em tese cadastradas na plataforma. Os balanços atuais apontam um volume bruto acumulado de mercadorias de R$ 13,5 milhões transacionados dentro da plataforma. Agora, com os investimentos, o objetivo é atingir R$ 2,5 milhões em operações mensais.

Inspectral

A Inspectral, startup para monitoramento ambiental, florestal, de recursos hídricos e do agronegócio, recebeu seu primeiro aporte privado no valor de aproximadamente R$ 2 milhões, do grupo de investimento-anjo BR Angels.

A startup de software teve a Aegea Saneamento e Participações como um de seus primeiros clientes, para a qual desenvolveu um projeto-piloto da solução em Piracicaba, no interior de São Paulo, antes de avançar para outras unidades do negócio em estados como Mato Grosso do Sul, Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro.

Outras empresas atendidas foram Jirau Energia, CPFL Renováveis, Minas PCH e a Ambev, para a qual a Inspectral aplica a tecnologia fora do país pela primeira vez.

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“Com a Ambev, antes existia um único parâmetro de qualidade da água, que balizava as decisões sobre as características dessa que é a principal matéria-prima da empresa. Com a Inspectral, foi possível entregar nove parâmetros de qualidade da água, número que tende a crescer cada vez mais com a construção de novos modelos”, disse o cofundador e CEO da Inspectral, Alisson do Carmo.

Pacto

A Pacto, plataforma mexicana de ponto de venda e pagamento para bares e restaurantes do México, recebeu US$ 4 milhões em aporte liderado pela DILA Capital.

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A rodada também contou com a participação da FEMSA Ventures, braço de venture capital da FEMSA e dona do Oxxo, da 500 Global e de August Hill, Polymath Ventures e Georgetown Angel Investor Network, além de investidores-anjo do México, como Francisco Medina do Grupo Fame, e investidores do setor de hotelaria e entretenimento, incluindo o presidente do Grupo Gigante, Ángel Losada.

A Pacto foi fundada em 2021 por Ryan Croft, Rodrigo Kuri e Gordon Whitehouse. Com seu software baseado em nuvem, a fintech promete ajudar estabelecimentos de médio porte a gerenciar suas operações. Em abril do ano passado, a Pacto recebeu US$ 2 milhões em uma pré-Seed e, em outubro, anunciou uma parceria com a Getnet no México.

TraderPal

Fundada por empreendedores da América Central em 2021, a fintech TraderPal recebeu sua primeira rodada de investimentos externos no valor de US$ 10 milhões de um grupo de family offices da América Latina, por meio do TEK Innovation. A plataforma da empresa permite o acesso ao mercado americano com investimentos em ações, ETFs e criptomoedas.

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Parte dos recursos arrecadados será utilizada para fortalecer a operação no México, no Chile, no Peru, na Costa Rica, no Panamá e na República Dominicana. Outra parte do dinheiro será usado para a criação de um banco digital no Brasil, integrado às soluções da Dock (ex-Conductor), que fornece soluções bancárias para empresas.

“Estamos prontos para começar com o nosso banco no Brasil e vamos com a Dock Brasil, que nos fornecerá todo o núcleo bancário, como Banking as a Service. Planejamos estar prontos para entrar no mercado brasileiro em seis meses com alguns produtos chave, como abertura de contas, cartões de crédito, pagamentos, crédito, seguros, investimentos e todo o negócio de terminais de pagamento e maquininhas, sob a marca própria do nosso banco”, disse Lester Pereira, fundador e CEO da TraderPal.

Toku

A fintech chilena Toku, especializada em cobranças recorrentes, recebeu uma rodada Seed de US$ 7 milhões liderada pelo fundo de venture capital americano F-prime Capital, em conjunto com o fundo curitibano Honey Island, que tem os fundadores do Ebanx como acionistas, e o mexicano Wollef.

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Fundos que já eram investidores, como FundersClub e Clocktower, também seguiram a rodada, além de investidores individuais como Matías Muchnik (NotCo), Sebastián Kreis (Xepelin), Santiago Lira (Buk) e Daniel Guajardo (HealthAtom).

O dinheiro será usado para consolidar as operações da startup chilena no México, investir em crescimento e expandir em novos mercados da América Latina.

A Toku, de soluções de pagamento, foi fundada em 2021 por Cristina Etcheberry (CEO), Francisca Noguera (CRO) e Enzo Tamburini (CTO). No ano passado, a empresa disse que sua receita cresceu mais de sete vezes e o total de pagamentos processados, 25 vezes. A fintech tem 60 funcionários.

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Qlub

A Qlub, lançada no final de 2021 nos Emirados Árabes, recebeu uma seed considerada elevada para os padrões: US$ 25 milhões, em que parte será usada para expansão no Brasil. A empresa propõe uma solução de pagamento em restaurantes, baladas, cafés e hotéis. Além dos Emirados Árabes, a empresa opera na Austrália, na Índia, em Singapura, na Arábia Saudita e, desde o ano passado, no Brasil.

“O Brasil foi o país escolhido para iniciarmos nossas operações na América Latina. Trata-se de um mercado com muito potencial, com uma alta taxa de adoção de pagamentos digitais, onde nossa solução foi muito bem aceita”, disse Oscar Bedoya, cofundador da Qlub, em comunicado.

Hoje a Qlub opera apenas no estado de São Paulo, mas, com o novo aporte, a fintech buscará crescer em outros estados e cidades, incluindo Rio de Janeiro, Salvador, Florianópolis e Curitiba.

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Isabela  Fleischmann

Jornalista brasileira especializada na cobertura de tecnologia, inovação e startups