Investidor global aconselha fundadores a manter capital em tempos incertos

Dificuldades de prever ‘normalização’ de valuations e das condições de mercado levam a novas formas de gestão de negócios por startups

Startups passam por momento em que precisam adaptar os seus planos de negócios
27 de Agosto, 2022 | 07:35 AM

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Bloomberg Línea — A Advent International, gigante global de Private Equity, começou a investir em empresas de crescimento de tecnologia há quatro anos no Brasil. Os investimentos recentes da Advent na América Latina incluem um aporte de US$ 430 milhões para o Ebanx e de US$ 225 milhões para a Merama no ano passado.

A Advent é também o 13° maior acionista do Nubank, com 49,022 milhões de ações (o equivalente a 1,38% dos papeis em circulação).

CI&T, Prisma Medios de Pago, Grupo Carrefour, Enjoy, Grupo Farmacêutico Somar, YDUQS (YDUQ3) e Canvia são outros investimentos da Advent na América Latina.

Em 2020, a empresa levantou US$ 2 bilhões para seu sétimo fundo de private equity dedicado à região, o LAPEF VII, e neste ano captou US$ 25 bilhões para seu segundo maior fundo global.

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Para Rafael Larragoiti, vice-presidente da Advent International, nos últimos anos houve uma euforia grande de investidores, algo que, em alguns casos, levou a rodadas fechadas rapidamente, com valuation esticado e diligência rápida, em um momento excesso de capital no mercado. Ele participou de evento promovido pela Trace Finance na noite de quarta-feira (24) e deu sua visão de mercado como investidor, e não em nome da Advent.

O fenômeno do aumento da presença de grandes investidores globais que passaram a alocar mais na América Latina, como o hedge fund de Chase Coleman, a Tiger Global, também funcionou como gatilho para a disputa de VCs pelas transações.

Isso porque havia no mercado fundos dispostos a assinar cheques rapidamente se o fundador aceitasse fechar o deal, algo que normalmente viria com valuations maiores do que aqueles que investidores de VC estavam oferecendo, segundo uma avaliação do mercado feita pelo CEO da startup Zippi, André Bernardes, no mesmo evento.

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O crescimento dos ativos alocados em capital de risco na América Latina foi maior do que em Private Equity (que normalmente se destinam a empresas mais consolidadas), segundo dados da Preqin reportados recentemente pelo The Wall Street Journal.

Os ativos sob gestão em venture capital atingiram US$ 9,25 bilhões em setembro do ano passado na América Latina, um crescimento de 48% em relação ao ano anterior.

Para Larragoiti, nos últimos anos os investidores sofreram um “Fear of Missing Out”, ou FOMO, expressão para o medo de deixar passar oportunidades interessantes. Mas agora isso mudou tanto por fatores macroeconômicos externos quanto por locais, específicos do Brasil.

“A seca de capital impactou o valuation e a velocidade das rodadas, que demoram mais e têm valuations estáveis ou até down rounds de Série C para frente. Eu não vejo melhora nos valuations no curto prazo daqui para o fim do ano”, disse no mesmo evento, ao ser questionado se fundadores que têm dinheiro para 24 meses deveriam esperar melhores cenários de valuation para buscar uma nova captação.

“Se eu fosse alguém que tem 24 meses de runway, eu começaria apertando o cinto para chegar lá com o melhor unit economics, entregar tudo que foi prometido para os investidores do captable. Se tem term sheet na mesa, aconselho a botar para dentro. É um ambiente complicado, teremos eleição e depois a ressaca da eleição. Vemos isso no ciclo de Private Equity e é importante ter capital no bolso”, disse, com a ressalva de que falava com base em sua experiência de investidor global, não pela Advent.

“Se alguém quer te dar dinheiro justo, você pega”, complementou Bernardes.

No ano passado, com a euforia dos VCs, havia fundadores que contratavam mais pessoas do que deveriam para mostrar para os investidores que estavam construindo a empresa, com o intuito de criar alvoroço para captar a próxima rodada, segundo Bernardes.

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Agora, o jogo mudou. Os investidores querem saber qual é a receita por funcionário e quanto de receita os empreendedores conseguem adicionar por capital investido.

“Do lado de quem está operando é preciso começar a pensar qual a unidade mínima de recurso de capital intelectual que se consegue para entregar o máximo de valor”, disse o fundador.

Até onde o PE vai?

A Advent é um dos maiores players de Private Equity do mundo e tradicionalmente investe em empresas maduras ou entrando como sócio minoritário em uma startup de Série D que já possui vários capitalistas de risco no quadro societário. No ano passado, a empresa debateu sobre o quão antes entraria nas rodadas das startups.

Mas a Advent decidiu que não participaria de rodadas com cheques menores do que US$ 50 milhões, ou seja, no mínimo Série B ou C, justamente para não ter muitas investidas e conseguir acompanhar as empresas de perto.

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O estágio mais cedo em que a Advent já investiu na América Latina até hoje foi na Série B do unicórnio mexicano/brasileiro Merama, em que entrou junto com o SoftBank.

“Dentro do fundo de Private Equity teremos de quatro a cinco empresas de alto crescimento, e nós vamos ajudar na operação. Eu vou falar quase todo dia com o CEO e com o CFO”, disse Larragoiti.

“Startups que cresciam tinham desafios de governança, de expandir para além do Brasil. Nós fazemos isso há 20 anos, levando empresas para o IPO”, afirmou.

-- Matéria atualizada para esclarecer que o VP da Advent deu seu depoimento enquanto investidor, e não pela empresa de Private Equity.

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Isabela  Fleischmann

Jornalista brasileira especializada na cobertura de tecnologia, inovação e startups