Bitcoin descola de ações, sobe 50% no ano e desafia risco macro

Criptoativos têm se descolado dos ativos tradicionais e sido cada vez mais impulsionados por eventos especificamente relacionados a eles

No acumulado do ano, o bitcoin tem alta de 50% após um novo salto em fevereiro
Por Eva Szalay e Sidhartha Shukla
23 de Fevereiro, 2023 | 09:24 AM

Bloomberg — Preocupações sobre novos aumentos nas taxas de juros, uma recuperação das ações e a pressão regulatória dos Estados Unidos sugerem que o bitcoin (BTC) e outros criptoativos deveriam estar perdendo brilho para os investidores. Em vez disso, os preços ampliam sua recuperação em 2023.

No acumulado do ano, o bitcoin tem alta de 50% após um novo salto em fevereiro, contrastando com um recuo nas ações globais neste mês, graças a um ambiente macroeconômico repleto de preocupações com crescimento e inflação.

Essa divergência prejudicou uma correlação positiva entre ações e criptomoedas que surgiu na pandemia. Um indicador de correlação de 40 dias entre o bitcoin e o S&P 500 caiu abaixo de 0,3 para o nível mais baixo desde 2021, de um recorde de maio acima de 0,8. Uma leitura de 1 indica que os ativos estão sendo negociados em sincronia, enquanto abaixo de 1 significa o oposto.

Outras relações também mudaram: uma correlação antes profundamente negativa de 40 dias entre o bitcoin e o dólar está desaparecendo rapidamente, enquanto o vínculo entre os títulos do Tesouro e o maior ativo digital se dissipou.

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Os criptoativos estão se separando dos ativos tradicionais em 2023 e eventos especificamente relacionados a eles impulsionam cada vez mais o mercado”, escreveu a empresa de pesquisa de ativos digitais Kaiko, em uma nota.

Uma série de ativos, incluindo tokens digitais, disparou em janeiro, mas o rali de risco fora das criptomoedas caiu este mês, já que dados como fortes números de empregos nos Estados Unidos frustraram as esperanças de um pico iminente nos custos de empréstimos.

Como resultado, a cripto está superando os ativos tradicionais. O S&P 500 teve ganho de pouco mais de 6% este ano, o Nasdaq 100, de quase 13% e o ouro, de cerca de 1%. Já o índice MVIS CryptoCompare Digital Assets 100, que monitora tokens líderes do mercado, avançou 40%.

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Retomada da indústria cripto?

Alguns analistas afirmam que os fatores próprios da indústria de ativos digitais estão influenciando as apostas especulativas nesse mercado.

Hong Kong, por exemplo, despertou otimismo ao mudar em outubro para uma postura pró-cripto e na segunda-feira (20) divulgou um plano para permitir que investidores de varejo negociem criptomoedas mais populares.

Adam Farthing, analista da B2C2, disse que 59% dos fluxos da região da Ásia-Pacífico eram de compradores, em comparação com 55% na Europa e Oriente Médio e uma leve pressão de venda dos EUA, onde os reguladores aumentaram a diligência no setor após o colapso da exchange cripto FTX.

Outro tema cripto é a próxima atualização da blockchain Ethereum (ETH) — a maior rede da indústria de ativos virtuais. A chamada atualização de Xangai permitirá que os investidores retirem as moedas Ether que haviam bloqueado para operar a rede em troca de recompensas, um processo chamado “staking”.

A inovação “permitirá que a cripto se dissocie dos mercados tradicionais”, disse David Moreno Darocas, líder de pesquisa da empresa de inteligência de mercado CryptoCompare.

Os chamados halvings — intervalos definidos em que as recompensas pagas aos mineradores de criptomoedas são reduzidas em 50%, reduzindo o novo suprimento de tokens — também estão se espalhando pelos mercados de ativos digitais. O halving do token Litecoin está previsto para os próximos meses e ganhou cerca de 35% este ano. Já o halving do bitcoin está previsto para 2024.

Fatores ‘específicos do setor’

“A menos que haja uma subida material na instabilidade macro, esperamos que a reversão das criptomoedas seja impulsionada por fatores específicos do setor”, disse Richard Galvin, cofundador da gestora de fundos Digital Asset Capital Management.

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As correlações com outros mercados podem mudar rapidamente e alguns argumentam que o bitcoin surfou um short squeeze (pressão de baixa) e é vulnerável a taxas crescentes. Custos de empréstimos mais altos e uma série de explosões cortaram US$ 1,5 trilhão do valor de mercado dos tokens digitais no ano passado.

Muitos investidores continuam cautelosos, mas os interessados estão saindo de cena e parecem estar “comprando para valorização e diversificação de preços”, disse Alkesh Shah, chefe de pesquisa de cripto do Bank of America (BAC).

A demanda de investidores de varejo está ajudando, acrescentou o estrategista do JPMorgan (JPM) Nikolaos Panigirtzoglou.

“Esse impulso de varejo positivo acumulado no ano é naturalmente mais dominante em cripto, dada a ausência de investidores institucionais no momento” pós-FTX, disse ele.

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