Por que a Vivara se tornou uma das ações do varejo preferidas de analistas

Segmento se mostra mais resiliente com foco em público menos impactado por alta dos juros e da inflação e se beneficia de momento de menor pressão de custos

Vivara se beneficia de momento de recuperação da demanda por joias e deve melhorar margens com mais produtos com prata, segundo analistas
30 de Dezembro, 2022 | 12:11 PM

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Bloomberg Línea — O mercado brasileiro de joalherias vive um clima de lua de mel com a combinação de estabilidade de custos, proteção diante de gargalos logísticos e demanda resiliente e aquecida com fatores como a volta gradual dos casamentos, que ampliam as vendas de produtos como anéis e alianças. É um segmento do varejo que começa 2023 com perspectivas favoráveis para os principais players, segundo analistas. Uma das tendências é a diversificação do portfólio com maior espaço para a prata, com margens melhores.

Além da maior procura por jóias nas lojas, as joalherias se beneficiam da menor pressão na compra de seu principal insumo. O preço do ouro ficou praticamente estável em 2022.

No Brasil, a Vivara (VIVA3), que importa o metal precioso da Itália, dos Estados Unidos e da Índia, segundo relatório da Eleven Financial assinado pelos analistas Victoria Minatto e Guilherme Domingues, é a principal e única representante do setor com ações negociadas na bolsa.

Em 2022, os cartórios brasileiros registraram uma alta de 25% no número de certidões de casamento em comparação com 2020, segundo o Portal da Transparência do Registro Civil. Foram 910.352 documentos emitidos, acima dos 899.342 de 2021 e dos 729.985 de 2020. Apesar do aumento, o dado de 2022 não voltou ao patamar pré-pandemia. Em 2019, foram 979.608 casamentos oficializados no país.

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A distribuição das mercadorias também tende a ter custos menores, mesmo no contexto de gargalos do transporte, como a falta de contêineres e frete mais caro, que afetaram a economia global na pandemia. “A logística é mais simplificada do que nos demais segmentos do varejo, uma vez que os produtos são menores e mais leves, além de não serem perecíveis”, apontou a dupla de analistas.

No Brasil, o setor ainda é muito pulverizado, o que sinaliza a perspectiva de crescimento orgânico e por meio de aquisições.

O market share da Vivara (9,5%) é cerca de quatro vezes o do segundo colocado. A segunda maior empresa do segmento é a Morana (2,4%), seguida por H Stern (2,3%), Cartier (2,1%) e Pandora (2%). “Isso reforça a tese de consolidaçao do setor, dada a alta fragmentação”, apontou o relatório da Eleven.

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O câmbio também ajudou as joalherias nacionais. O dólar se desvalorizou perto de 5% em 2022. Cerca de 55% da matéria-prima utilizada pela Vivara vem do exterior.

Mesmo com os fatores positivos, a ação da companhia fechou o ano em queda de 11,8%, enquanto o Ibovespa, principal índice da bolsa brasileira, subiu 4,7%.

O cenário desafiador com aumento da taxa de juros, inflação ainda elevada e e queda da renda acabou impactando ações de empresas do varejo em geral, explicaram os analistas.

Apesar de essas variáveis macroeconômicas serem ainda alvo de incertezas em 2023, analistas expressaram otimismo com a ação da Vivara.

A Eleven tem recomendação de compra com preço-alvo de R$ 33, o que implica um potencial de valorização (upside) perto de 50% em relação à cotação do fechamento do ano (R$ 22,43).

No último dia 27 de dezembro, o Itaú BBA também reiterou sua recomendação de “outperform” (desempenho acima da média do mercado) para o papel, com preço-alvo de R$ 27, citando VIVA3 como sua principial escolha entre as companhias do varejo listadas na B3.

Em relatório, analistas do BBA dizem que a Vivara tem elevada exposição ao consumidor de alta renda e quase não enfrenta concorrência, tornando-se uma empresa com rentabilidade resiliente em tempos difíceis da economia.

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Prata: maiores margens e base de clientes

Outro fator considerado favorável à Vivara, novamente segundo analistas de mercado, é o uso da prata, que tem ganhado representatividade em seu portfólio com a marca Life. Segundo o relatório da Eleven, a linha de negócio voltada à prata contribui para um ganho de margem bruta no longo prazo, dado que o material apresenta maior rentabilidade quando comparado ao ouro.

“Acreditamos que as boas perspectivas para o plano de expansão da Life, resiliência em margens e valuation atrativo reforçam nossa recomendação de compra para a ação da Vivara”, justifica a Eleven.

A marca Vivara é voltada para o consumidor da classe de renda A, enquanto a Life foca nos clientes B/C, observaram os analistas ao explicar a maior abrangência de público-alvo da companhia.

“Uma loja Life apresenta retornos ainda mais atrativos do que uma Loja Vivara, uma vez que entendemos que os custos para abertura das lojas são similares, mas a loja Life apresenta uma margem bruta superior. Acreditamos em uma abertura entre 30 e 40 lojas entre 2022 e 2023 para a marca, colaborando para o aumento da margem da companhia”, projetou a dupla de especialistas da Eleven.

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Outros indicadores reforçam o diagnóstico positivo para o setor.

Nas vendas do varejo do Natal, a terceira maior variação positiva nas vendas ficou com a categoria “óticas e joalherias” (+17%), apontou um índice apurado pela Cielo (CIEL3), empresa de maquininhas de cartão, líder brasileira em pagamentos eletrônicos. Ficou atrás das categorias “turismo e transporte” (+26%), cosméticos e higiene pessoal (23%) e “livrarias e papelarias” (22%).

No segmento das cinco maiores joalherias do Brasil, a dinamarquesa Pandora busca outra fórmula e aposta em crescer no país por meio do poder de influência de personalidades, como a cantora brasileira Luísa Sonza, além de campanhas de liquidações de seu portfólio.

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Sérgio Ripardo

Jornalista brasileiro com mais de 25 anos de experiência, com passagem por sites de alcance nacional como Folha e R7, cobrindo indicadores econômicos, mercado financeiro e companhias abertas.