Ao completar 21 anos, pessoas que cresceram e estudaram nos EUA devem fazer uma escolha terrível: permanecer ilegalmente no país ou voltar para seu país de origem
Tempo de leitura: 3 minutos

Bloomberg Opinion — Por mais que a política de imigração dos Estados Unidos divida opiniões, tanto Democratas quanto Republicanos deveriam concordar com um simples princípios: os imigrantes que entram no país legalmente deveriam ter uma chance justa de se tornarem bem-sucedidos e construir vidas no país, assim como suas gerações anteriores.

É uma surpresa que o governo esteja negando essa oportunidade a centenas de milhares de jovens imigrantes cujos pais vieram para os EUA legalmente para trabalhar, mas que ainda não receberam o green card que lhes confere a residência permanente legal – e agora correm o risco de serem deportados do país. Uma medida bipartidária aprovada na semana passada na Câmara dos Deputados do país ajudaria a resolver o problema. No interesse da justiça e do senso comum, o Senado deveria agir rapidamente para aprovar sua própria versão da medida e garantir que esses imigrantes possam ficar.

LEIA +
Como a política de imigração dos EUA pode ser mais eficaz?

Cerca de 1,6 milhão de pessoas residem nos EUA com vistos concedidos para trabalho, não imigração. Entre elas estão empresários, acadêmicos, artistas, médicos e trabalhadores dos setores de tecnologia e de saúde. Os filhos desses portadores de visto podem viver legalmente nos EUA até completarem 21 anos, mas depois devem obter novos vistos que lhes deem permissão para continuar a estudar ou trabalhar. Quem não consegue, precisa fazer uma escolha muito difícil: ficar no país ilegalmente ou voltar para seus países de origem. Em abril de 2020, mais de 250 mil desses filhos de imigrantes corriam o risco de perder seu status de legalidade por conta da idade.

O sistema de imigração legal disfuncional do país está agravando o problema. A cada ano, os EUA concedem 140 mil green cards a portadores de visto de trabalho e seus familiares diretos. Devido a um acúmulo de pedidos e a limites (na maioria das vezes arbitrários) ao número de green cards concedidos a cada país, alguns trabalhadores precisam esperar décadas para obtê-los. Mesmo que consigam, seus filhos não poderão usufruir do benefício se ultrapassarem a idade limite – eles só receberão os green cards quando seus próprios pedidos forem analisados e aprovados. Isso significa efetivamente que os imigrantes legais que chegaram quando criança e cresceram e estudaram nos EUA são menos propensos a se tornarem cidadãos que estrangeiros que já entraram no país adultos.

PUBLICIDADE
LEIA +
EUA estão de braços abertos para ucranianos; os americanos, nem tanto

Na verdade, o status desses imigrantes legais – frequentemente chamados de “sonhadores documentados” – é ainda mais precário do que o de crianças sem documentação. A Ação Diferida para a Chegada de Jovens Imigrantes (DACA, na sigla em inglês), criada pelo presidente Barack Obama em 2012, permite que imigrantes que entrarem no país antes dos 16 anos de idade possam trabalhar no país e postergar a deportação. Essa permissão deve ser renovada a cada dois anos. Mais de 700 mil imigrantes não documentados se beneficiaram das proteções da DACA e permaneceram nos EUA, detendo um poder de compra de US$ 24 bilhões após impostos. Mas a DACA estipulou que apenas imigrantes “sem status legal” eram elegíveis – o que excluía dessas mesmas proteções os filhos de imigrantes com visto de trabalho.

A boa notícia é que o Congresso abriu os olhos para esse problema. A Câmara dos Deputados aprovou uma emenda à Lei de Autorização de Defesa Nacional de 2023 que garantiria que as crianças que cresceram nos EUA e chegaram à idade adulta antes de seus pais receberem green cards não perdessem o benefício de obter o status legal permanente. A emenda também os autorizaria a trabalhar após os 16 anos de idade e permitiria que mantivessem seu lugar na fila dos green cards, mesmo que seus pais deixassem o país.

LEIA +
Cidadania italiana: veja o que muda no processo de reconhecimento

Os líderes do Senado deveriam se esforçar para aprovar a medida e transformá-la em lei. Não fazê-lo prejudicaria não apenas os imigrantes legais e suas famílias, mas o país como um todo. As perspectivas de crescimento a longo prazo dos Estados Unidos dependem do conhecimento de trabalhadores estrangeiros, principalmente nas áreas de ciência e tecnologia. Garantir que os filhos desses trabalhadores possam ficar e construir vidas nos EUA é fundamental para vencer a corrida por talentos – e é um passo necessário para criar o sistema de imigração que o país precisa.

PUBLICIDADE

Os Editores são membros do conselho editorial da Bloomberg Opinion.

Veja mais em Bloomberg.com

Leia também

Como a BlackRock perdeu US$ 1,7 trilhão em seis meses