Chile deve iniciar ciclo de corte de juros na frente do Brasil

Embora a nação andina só tenha começado a aumentar juros em julho, pode estar apta a reverter a política monetária mais cedo devido ao risco-país significativamente menor

As taxas básicas de juros estão em 8,25% no Chile, contra 12,75% no Brasil
Por Davison Santana e Valentina Fuentes
27 de Maio, 2022 | 02:32 PM

Bloomberg — O mercado de swaps mostra que o Chile está a caminho de sair na frente do Brasil e se tornar o primeiro país das Américas a começar a cortar juros no ciclo atual, após o crescimento econômico recorde da nação andina no ano passado sofrer uma parada brusca.

Os swaps chilenos precificam um corte de juros em dezembro, e a pesquisa mais recente do banco central junto a operadores do mercado confirma essa expectativa. O custo do dinheiro no país deve atingir um pico entre 9,25% e 9,5% nos próximos três meses e depois cair 0,25 ponto percentual em seis meses. No Brasil, os DIs apontam para o início de um ciclo de flexibilização no primeiro trimestre do próximo ano.

Os bancos centrais sul-americanos foram alguns dos primeiros do mundo a apertar a política monetária no ano passado e provavelmente serão os primeiros a cortar juros. As autoridades monetárias no Chile e no Brasil já se tornaram cautelosamente mais “dovish”, mesmo com a inflação atingindo novas máximas. Agora os investidores antecipam o fim dos aumentos, e as curvas de juros invertidas em ambos os países sinalizam reversões de política.

“O Chile provavelmente será o primeiro país da região a cortar juros, pois a curva de swaps antecipa o início de ajustes para baixo no quarto trimestre”, disse Sebastian Ide, chefe da mesa de operações do Banco de Chile. Além disso, “são prováveis ​​cortes mais rápidos e agressivos do que os esperados pelo mercado, entre 75-100 pontos-base ou até mais”.

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Embora o Chile só tenha começado a aumentar juros em julho, quatro meses depois do Brasil, pode estar apto a reverter a política monetária mais cedo devido ao risco-país significativamente menor. O país andino tem classificação de risco soberano A nas três principais agências de classificação, o que significa que é capaz de atrair investidores que pagam juros significativamente menores do que o Brasil, que está abaixo do grau de investimento. As taxas básicas de juros estão em 8,25% no Chile e 12,75% no Brasil.

O crescimento também está desacelerando acentuadamente no Chile. Após crescer 4,3% e 1,7% no terceiro e quarto trimestres, respectivamente, em relação aos três meses anteriores, a economia teve contração de 0,8% no primeiro trimestre. O Brasil divulgará o PIB dos três primeiros meses do ano na próxima semana.

  Os swaps chilenos precificam um corte de juros em dezembrodfd

“Vemos uma probabilidade crescente de que a economia entre em recessão em 2023”, disse Samuel Carrasco, economista sênior da Credicorp Capital em Santiago. Isso aumenta a possibilidade de um corte de juros no quarto trimestre, embora o cenário base continue sendo o primeiro trimestre de 2023, disse, acrescentando que os cortes serão “agressivos”, com uma redução de 1,5 a 2 pontos percentuais nos três primeiros meses de 2023.

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O Brasil pode achar mais difícil esfriar a inflação do que o Chile, já que a história mostra que os preços subiram a um ritmo médio de 6,7% ao ano na maior economia da América Latina desde 2002, contra 3,4% no Chile.

“Esperamos que o banco central inicie o ciclo de flexibilização em maio de 2023”, disseram analistas do Credit Suisse, incluindo a economista-chefe Solange Srour, em relatório sobre o Brasil. “No entanto, os riscos são de um início tardio do ciclo de flexibilização, pois o processo de desinflação pode demorar mais do que nossas expectativas atuais.”

De fato, as leituras recentes de inflação mostraram que os investidores em ambos os países podem estar excessivamente otimistas. A inflação chilena acelerou para 10,5% em abril, mais que o triplo da meta de 3% e acima de estimativas de 10,1%. No Brasil, o IPCA-15 subiu mais do que o esperado para 12,2% ano a ano em meados de maio, contra a meta de 3,5% do Banco Central para este ano. A incerteza com o crescimento global, commodities voláteis e a situação geopolítica na Europa também podem forçar operadores a rever suas apostas.

“Dadas as pressões de preços de curto prazo e o consumo mais forte do que o esperado”, os analistas do Standard Chartered Dan Pan e Erwin He disseram que aumentaram sua previsão para a taxa básica chilena no final do ano de 8,5% para 9,5%, em 26 de maio. Isso levaria os cortes para 2023.

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