Itaú BBA quer mais agro em sua carteira de crédito

Banco quer ampliar em 20% a disponibilidade de recursos emprestados para o setor em 2022 e aposta em margens ainda elevadas para o ano

Itaú quer ampliar volume de recursos aplicados ao agronegócio
29 de Março, 2022 | 04:16 PM

Bloomberg Línea — O Itaú BBA pretende terminar 2022 com R$ 72 bilhões em empréstimos concedidos ao agronegócio e se tornar o maior banco privado a financiar o setor. A meta representa um crescimento de 20% em comparação a uma carteira de R$ 60 bilhões em créditos concedidos ao setor ao final do ano passado, o que representa cerca de 6% da carteira total de créditos do Itaú Unibanco (ITUB4), que superou a casa de R$ 1 trilhão.

“Um terço dessa expansão será proveniente de novos clientes que pretendemos trazer para o banco neste ano. Os demais dois terços virão do aumento dos negócios que já realizamos com nossos clientes atuais. Temos trabalhado em outras parcerias além das que já temos para ser o maior parceiro privado do agro brasileiro”, disse Pedro Barros Fernandes, diretor de agronegócios do Itaú BBA.

Segundo o executivo, a carteira de agronegócios do setor tem crescido a um ritmo mais acelerado do que a carteira do banco como um todo, o que sinaliza um aumento de relevância do setor para o Itaú.

Apesar de atender o agronegócio desde 2014, foi apenas a partir de 2018 que o Itaú intensificou as apostas no setor. A ideia era concorrer mais de perto com bancos como Santander (SANB11) e Bradesco (BBDC4), que já atuavam junto ao setor há mais tempo, além da Caixa Econômica e Banco do Brasil (BBAS3). Em 2018, a carteira do Itaú aplicada no agronegócio era de cerca de R$ 30 bilhões.

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A expectativa do banco é que o setor precisará de um maior volume de capital para financiar o plantio da próxima safra, seja em decorrência do aumento dos custos de produção, seja pela expansão da área plantada que deve ocorrer, mesmo que em pequena escala. “A maior necessidade de capital não significa que a atividade não será lucrativa, ao contrário. Haverá uma necessidade de capital de giro e o BBA tem o anseio em ocupar esse espaço”, afirma Fernandes.

Um dos maiores temores do banco para o agronegócio começou a se dissipar há cerca de 15 dias. Havia o risco de os custos da safra 2022/23 ficarem definidos com uma taxa de câmbio a R$ 5,75 e a comercialização da produção ocorrer a R$ 4,80. “Acho que o desespero que havia de plantar com o câmbio e colher com outro muito menor diminuiu. O espaço para isso agora parece menor”, diz Fernandes. O BBA projeta uma taxa de câmbio de R$ 5,75 em dezembro de 2023, com um dólar médio de R$ 5,64 para o próximo ano. Para este ano, o banco trabalha com um câmbio médio de R$ 5,25 e uma taxa de R$ 5,50 em dezembro.

Assim como em 2018, quando o Itaú apostou no crescimento do setor, a visão do banco para o agronegócio segue positiva. Para a safra 2021/22 de soja, que está sendo colhida neste momento, a margem agrícola nominal projetada é de 60%. Para o próximo ciclo, que se inicia no segundo semestre deste ano, a rentabilidade esperada é de 40%. “Os preços das commodities devem continuar elevados, mesmo com um custo de produção e financeiro um pouco mais elevado”, afirma Guilherme Bellotti, gerente da consultoria Agro do Itaú.

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Indústria de proteínas

Apesar do otimismo com o setor de grãos, há quem sentirá os efeitos negativos desse contexto. A agroindústria, especialmente as de proteínas que têm os grãos como insumos, devem sentir a pressão da alta sobre as margens. Diante de uma pressão inflacionária, empresas como BRF (BRFS3), JBS (JBSS3), Marfrig (MRFG3) e Minerva (BEEF3) tendem a encontrar dificuldades em repassar a alta dos grãos para seus produtos.

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Alexandre Inacio

Jornalista brasileiro, com mais de 20 anos de carreira, editor da Bloomberg Línea. Com passagens pela Gazeta Mercantil, Broadcast (Agência Estado) e Valor Econômico, também atuou como chefe de comunicação de multinacionais, órgãos públicos e como consultor de inteligência de mercado de commodities.