Desmatamento afeta preço da terra e torna agro do Brasil mais competitivo

Estudo revela que derrubada de árvores aumentou oferta de terras, reduzindo preços do ativo e estimulando expansão da produção via aumento da área plantada

Estudo mostra impacto econômico do desmatamento sobre os preços das terras
17 de Fevereiro, 2022 | 06:00 PM

Bloomberg Línea — O fundamento da economia diz: se o crescimento da oferta de um ativo for maior que o crescimento da sua demanda, o preço desse ativo tende a cair. Com base nessa premissa, o Instituto Escolhas elaborou um estudo para demonstrar que, ao longo do tempo, o desmatamento no Brasil elevou a oferta de terras disponíveis, estimulando a expansão do agronegócio não apenas pelo incremento de produtividade, mas também pelo aumento da área plantada.

Os dados mostram que o desmatamento ocorrido, de forma legal ou ilegal, entre 2011 e 2014 fez com que as terras no Brasil valessem R$ 136,7 bilhões menos do que poderiam custar, caso não houvesse a derrubada das matas nativas. Em 2017, o valor total das terras no Brasil foi de R$ 4,28 trilhões, mas poderia ser maior mesmo com o valor médio do hectare já apresentando valorizações ano após ano.

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“Existem muitos fatores que influenciam no valor da terra. A oferta de terras, o tipo de uso, disponibilidade de água, condições do solo, infraestrutura, entre outros. Nós isolamos a disponibilidade de terras decorrente do desmatamento dos demais fatores para conseguir analisar o efeito econômico do desmatamento sobre os preços das terras”, afirma Jaqueline Ferreira, coordenadora do Instituto Escolhas. Com isso, se identifica uma desvalorização anual média das terras desmatadas de 5% nesse período.

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O estudo levou em consideração os dados dos últimos Censos Agropecuários realizados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas) em 2006 e 2017. Segundo Jaqueline, um dos efeitos do desmatamento que se identificou é que a área desmatada leva de três a seis anos para estar disponível à atividade agropecuária e entrar no mercado. Diante disso, uma das conclusões do estudo é que para os produtores que aumentaram a área em produção entre 2006 e 2017 o desmatamento funcionou como um subsídio na aquisição de terras, mesmo que ele não tenha derrubado uma única árvore.

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No sentido oposto, aquele produtor que optou por investir em tecnologia e expandir sua produção por meio do incremento de produtividade acabou sendo prejudicado duas vezes. A primeira, quando deixa de ampliar seu patrimônio comprando terras a preços mais atrativos. E a segunda, quando ele vê que o valor do seu ativo perdeu valor ao longo do tempo.

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Apesar de levar em conta modelagens espaciais e econômicas e dados oficiais do governo, o estudo volta a entrar no debate sobre o agronegócio ser o único ou principal setor a se beneficiar do desmatamento no Brasil. Considerando os mesmos dados dos Censos, de 2006 a 2017, o agronegócio incorporou 6,95 milhões de hectares, seja para agricultura, pecuária ou silvicultura. No período analisado pelo estudo, os dados do INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) revelam que foram desmatados pouco mais de 16 milhões de hectares, considerando os biomas Amazônico e Cerrado.

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Considerando que 100% da expansão da agropecuária tenha ocorrido sobre áreas desmatadas, a atividade teria ocupado pouco mais de 43% de tudo o que foi derrubado. Contudo, a coordenadora do Instituto Escolhas considera que praticamente toda terra desmatada foi ocupada pela agricultura, pecuária ou outra atividade relacionada ao setor. “O IBGE não considera o que são áreas de pastagem e agricultura juntas. Os mapas de satélites identificam agricultura e pecuária. Mas existem outros polígonos que se formam que não são classificados, mas que certamente são alguma atividade agropecuária. A diferença entre os números está nesses polígonos, que ainda são uma zona cinzenta e gera muito debate”, afirma Jaqueline.

Alexandre Inacio

Jornalista brasileiro, com mais de 20 anos de carreira, editor da Bloomberg Línea. Com passagens pela Gazeta Mercantil, Broadcast (Agência Estado) e Valor Econômico, também atuou como chefe de comunicação de multinacionais, órgãos públicos e como consultor de inteligência de mercado de commodities.