Bloomberg — Dois dos mais renomados gestores de fundos multimercado do Brasil veem os mercados se preparando para uma vitória de Luiz Inácio Lula da Silva na eleição presidencial deste ano, um resultado que consideram praticamente certo.
Em evento organizado pelo Credit Suisse (CS) nesta terça-feira, Luis Stuhlberger disse que o ex-presidente não deve adotar políticas radicais em um eventual terceiro mandato.
“Lula é o favorito para ganhar a eleição - quase que já ganhou”, disse Stuhlberger, CEO e diretor de investimentos da Verde Asset Management. “Não acho que um Lula revanchista, ou Lula sindicalista, ou Lula de esquerda vão predominar.”
Lula, que tem liderado todas as pesquisas de opinião até o momento, tem uma relação complexa com os mercados. Os ativos dispararam quando ele estava no poder no início dos anos 2000, auxiliado por uma alta maciça nos preços das commodities, mas o brilho se esvaiu em meio a erros cometidos por sua sucessora, escolhida a dedo, Dilma Rousseff.
Na eleição de 2018, os investidores comemoraram quando o político de esquerda foi impedido de concorrer devido a condenações que o levaram à prisão. Para muitos, Lula se tornou o rosto da corrupção brasileira, ajudando a fortalecer Jair Bolsonaro. Quando as condenações de Lula foram descartadas por motivos processuais no ano passado, liberando-o para concorrer novamente, os ativos despencaram.
No entanto, os investidores também ficaram desiludidos com Bolsonaro, que não conseguiu promover uma ampla agenda de reformas e é percebido como tendo manchado a reputação do Brasil no exterior com posições controversas sobre temas que variam de questões climáticas a vacinas. Além disso, Bolsonaro está administrando uma economia que ainda sofre com o impacto da pandemia de coronavírus: o Brasil voltou à recessão e a inflação corre acima de 10%.
Investidores estrangeiros
“Não matem o mensageiro: as pessoas gostam do Lula lá fora. E não gostam do Bolsonaro. É um fato isso”, disse Rogério Xavier, cofundador da gestora SPX Capital, no mesmo evento. O investidor estrangeiro vê o Brasil “com perspectiva de melhora com Lula assumindo o poder”, disse ele.
A percepção, disse Xavier, já está aparecendo nos fluxos de mercado. Nas primeiras semanas de janeiro, os estrangeiros despejaram US$ 9,2 bilhões em derivativos apostando no real. As ações locais registraram uma entrada de mais de R$ 30 bilhões de não residentes em janeiro, com investidores como Franklin Templeton e Mirae Asset Global Investments vendo espaço para uma recuperação.
“A bolsa brasileira ficou para trás” em relação à alta em outras regiões e os estrangeiros “veem a troca de poder - supondo que a eleição do Lula está bem encaminhada - como um Lula responsável, que vai se dirigir ao centro”, disse Xavier. Ele acrescentou que, embora não concorde necessariamente que Lula será fiscalmente responsável, é improvável que um governo do Partido dos Trabalhadores faça “grandes transformações” no país. “Acho que o Brasil vai avançar pouco.”
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