CEO da Unilever é pressionado após fazer oferta pela empresa do Advil

Acordo para marcas da GlaxoSmithKline como Sensodyne e Advil teria sido a maior aquisição já feita pela empresa

CEO da Unilever
Por Thomas Buckley
20 de Janeiro, 2022 | 02:03 PM

Bloomberg — O presidente-executivo da Unilever (UL), Alan Jope, enfrenta crescente pressão para apresentar uma nova estratégia depois que um desacordo entre investidores forçou a fabricante da linha de sabonetes Dove a desistir de uma oferta pela divisão de produtos de consumo da GlaxoSmithKline (GSK).

A Unilever interrompeu na quarta-feira (19) o processo de aquisição de um negócio de 50 bilhões de libras (US$ 68 bilhões) que incluia marcas como a pasta de dente Sensodyne e o analgésico Advil, depois que a farmacêutica do Reino Unido rejeitou suas abordagens e o preço das ações da Unilever despencou.

A derrota pública, que ococrreu depois que analistas imploraram à Unilever para não dar continuidade e um grande acionista disse que a administração havia “perdido o fio da meada”, foi um flashback da tentativa fracassada da Kraft Heinz de adquirir a empresa, em 2017, por US$ 143 bilhões. Esse desastre provocou mudanças radicais na Unilever, incluindo a consolidação de sua sede no Reino Unido, o abandono de uma estrutura anglo-holandesa complicada e a adoção de uma estratégia de aquisição mais agressiva que falhou em sua primeira grande prova.

Um acordo para as marcas Glaxo teria sido a maior aquisição já feita pela Unilever e pretendia ancorar a transição da empresa no sentido de se concentrar nos cuidados de saúde do consumidor. Jope estabeleceu essa ambição internamente após a mudança para Londres em 2020, que visava facilitar grandes aquisições e alienações.

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Rali de ações

As ações da Unilever estenderam seu rali de respiro na quinta-feira (20), subindo 1,9% no início do pregão de Londres. As ações da Glaxo caíram até 2,4%.

No início desta semana, a Unilever disse que a divisão da Glaxo era um forte ajuste estratégico, mas que exploraria outras oportunidades de aquisição na área de saúde do consumidor. A empresa também disse que manteria a disciplina financeira e não pagaria a mais. No entanto, a reação dos acionistas pode forçar Jope a pensar duas vezes antes de ir atrás de um novo negócio.

Nesse comunicado, Jope também anunciou uma reformulação da Unilever, que se concentraria em suas operações de saúde, beleza e higiene, baseadas em grandes aquisições, e sugerindo que pode haver desinvestimentos em suas operações de alimentos.

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Nos últimos anos, esse negócio foi prejudicado por pressões inflacionárias em mercados emergentes que desaceleraram o crescimento geral da Unilever em comparação com a arquirrival Nestlé, que recebe um impulso de seu bem-sucedido negócio de alimentos para animais de estimação.

Ainda assim, o preço das ações da Unilever caiu acentuadamente quando os investidores questionaram a lógica do negócio da Glaxo. Analistas escreveram notas intituladas “Por favor, não” e o descreveram como um “péssimo negócio”. As agências de classificação de risco também alertaram sobre um possível rebaixamento da classificação de crédito da Unilever se ela fosse adiante com a aquisição.

Se a Unilever decidir que quer tentar outro negócio, ela deve colocar em sua mira outras grandes concessões corporativas. A gigante da área da saúde Johnson & Johnson disse no final do ano passado que planeja separar sua divisão de consumo, embora o processo só aconteça em 18 a 24 meses. Além disso, há processos judiciais relacionados a alguns dos produtos da unidade que podem dificultar o negócio. A francesa Sanofi também está separando seu braço de saúde do consumidor em um negócio autônomo que pode atrair pretendentes.

Jope já enfrentava críticas de alguns acionistas por foco na sustentabilidade, já que o preço das ações da empresa definhava.

‘Redução de danos’

É “boa notícia” que o negócio não vai mais se concretizar, disse Bruno Monteyne, analista da Bernstein, embora tenha descrito a última medida como um esforço de “redução de danos”.

A Unilever está “tentando controlar a narrativa”, disse ele em um e-mail. “Ao descartar um lance mais alto, parece que eles encerram a oferta aqui. Isso obviamente não é o caso. Os investidores interromperam a oferta por meio do preço das ações e do feedback que deram.”

A decisão da Unilever de abandonar a busca também levanta questões sobre a estratégia da CEO da Glaxo, Emma Walmsley, que disse ser a favor dos planos de desmembrar a divisão de consumo. A farmacêutica disse que consideraria qualquer oferta, depois que a Elliott Investment Management a pressionou para aumentar os retornos dos acionistas, e novos pretendentes podem surgir.

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Em resposta ao interesse anterior da Unilever, a Glaxo havia dito que espera que a unidade consumidora veja as vendas crescerem de 4% a 6% no médio prazo, mais rápido que a taxa de mercado. A estimativa eleva o padrão para qualquer outro comprador em potencial, em meio a expectativas de que uma oferta bem-sucedida poderia exigir um acréscimo de US$ 10 bilhões ou mais. A Glaxo apresentará a justificativa para tal crescimento em uma reunião com investidores no final de fevereiro.

Outros pretendentes?

“Estamos fortemente focados em maximizar o valor para os acionistas e estamos muito confiantes no futuro do negócio e em seu potencial”, disse um porta-voz da Glaxo. “O negócio de cuidados de saúde do consumidor tem um portfólio excepcional e oferece aos acionistas existentes e potenciais um perfil financeiro altamente atraente, apoiando o investimento e os retornos futuros.”

A busca da Unilever pela unidade provocou especulações sobre outros pretendentes emergentes, incluindo a Procter & Gamble ou a Nestlé.

Quando analistas pressionaram a P&G sobre sua estratégia de aquisição na quarta-feira (20), o CEO, Jon Moeller, disse que gosta do portfólio atual e será “muito disciplinado” em qualquer negócio. Cuidados com a pele e saúde pessoal são as duas categorias que a P&G considera áreas de foco específicas para aquisições em potencial, disse ele em uma teleconferência, mas “não precisamos de grandes fusões e aquisições para entregar” metas financeiras.

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– Com a colaboração de Lisa Pham, Suzi Ring, Aaron Kirchfeld e Ben Scent.

– Esta notícia foi traduzida por Marcelle Castro, Localization Specialist da Bloomberg Línea.

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