Comunicação do número de altas nos juros desafia BC dos EUA

Diversos integrantes do Fed sinalizaram alta dos juros em março e discutiram a necessidade de quatro ou cinco acréscimos este ano

Diante de uma pandemia que não vai embora, as autoridades enfrentam um grande desafio em termos de sinalização
Por Craig Torres
17 de Janeiro, 2022 | 11:24 AM

Bloomberg — Diretores do banco central dos EUA se aproximam da reunião de janeiro com pouca convicção na previsão de que a inflação terminará o ano abaixo de 3% e já avisaram que talvez precisem elevar os juros mais rápido do que esperado.

Diversos integrantes do alto escalão do Federal Reserve sinalizaram alta dos juros em março e discutiram a necessidade de quatro ou mesmo cinco acréscimos na taxa básica este ano — apenas algumas semanas depois de sinalizaram três aumentos em 2022. Tudo isso entrará no debate da reunião de política monetária marcada para 25 e 26 de janeiro.

Diante de uma pandemia que não vai embora, as autoridades enfrentam um grande desafio em termos de sinalização: como falar sobre o que vão fazer no futuro se a volatilidade dos dados econômicos exige revisão constante das perspectivas.

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“A orientação futura (forward guidance, em inglês) foi uma ferramenta útil diante da inflação baixa com pressões desinflacionárias”, disse Derek Tang, economista da LH Meyer/Monetary Policy Analytics em Washington. “Não está claro se é sustentável com riscos bidirecionais ou inclinados para cima.”

Nas últimas duas décadas, as autoridades passaram a comunicar com maior clareza seus planos para a política monetária para limitar dúvidas entre investidores, que frequentemente causavam volatilidade desnecessária nos mercados. A economia americana entrou na chamada Grande Moderação, período de baixa inflação e crescimento prolongado que facilitou a sinalização sobre o que aconteceria na política monetária duas ou três reuniões adiante.

Mais recentemente, a inflação ao consumidor subiu 7% em 2021 — a maior alta em 39 anos — e há risco de as variantes da Covid-19 causarem mais escassez em um contexto de demanda robusta. O quadro obrigou diretores do Fed a avisarem que podem não ser tão previsíveis.

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Em setembro, o gráfico de pontos (dot plot, em inglês) mostrava uma alta este ano. Em dezembro já eram três. Na quinta-feira, um dos diretores do Fed, Christopher Waller, falou na possibilidade de até cinco acréscimos, mas com um número menor se as pressões sobre os preços diminuírem conforme esperado. Seu colega James Bullard afirmou que quatro aumentos são prováveis.

Atualmente, a orientação futura do Fed explicitamente atrela a elevação dos juros ao alcance do pleno emprego. A taxa de desemprego caiu para 3,9% em dezembro e, na reunião daquele mês, as autoridades avaliavam que o mercado de trabalho estava próximo da recuperação total, segundo a ata do encontro.

É provável que essa orientação seja retirada este mês, enquanto o Fed se prepara para elevar os juros em março. A fórmula oficial usada em 2015 -- última vez em que os juros começaram a subir a partir de zero -- prometia aumentos “apenas graduais”. Talvez não seja usada novamente.

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