Mercado de seguro viagem dispara com retomada de voos internacionais

Empresas e entidades do setor projetam crescimento expressivo para o produto com o retorno dos turistas ao exterior neste fim de ano

Retomada do turismo fortalece mercado de seguro viagem, em meio ao surgimento da variante ômicron, nova ameaça sanitária no segundo ano da pandemia da Covid-19
27 de Dezembro, 2021 | 11:31 AM

Miami — O seguro viagem está em alta no Brasil desde a reabertura das fronteiras neste ano, segundo dados de empresas e entidades do setor. A tendência é fechar 2021 com expressivo crescimento nas vendas na retomada das viagens internacionais, no momento em que as corretoras testam a receptividade dos consumidores a novos produtos, como aqueles que oferecem assistências específicas para imprevistos relacionados à pandemia da Covid-19, como o cancelamento prévio de voos.

  • A SulAmérica diz que a emissão de prêmios em seguro viagem em novembro cresceu 373,3% em um ano e 40,5% no acumulado de 2021. Entre as vendas de seguro viagens, mais de 37% foram utilizados com a cobertura contra Covid-19, produto lançado em agosto
  • A Fenaprevi (Federação Nacional de Previdência Privada e Vida) afirma que, no 3º trimestre, os seguros viagem alcançaram R$ 78,1 milhões em prêmios, aumento de 36,8% em relação ao trimestre anterior e uma alta de 116,4% na comparação com igual período de 2020.
  • A Globus Seguros atribui a alta de 30% na contratação desse tipo de produto, em outubro, à reabertura dos EUA para os brasileiros, no dia 8 de novembro. A corretora estima que nos meses de novembro, dezembro e janeiro o aumento seja de 80% em relação a outubro
  • A Bradesco Vida e Previdência viu a demanda crescer e agora passa a oferecer aos segurados a cobertura para Covid-19. Além das coberturas e assistências tradicionais para despesas médicas, hospitalares e odontológicas, o produto inclui traslado médico, retorno sanitário, perda de bagagem e cancelamento prévio de viagem

Esses movimentos do mercado indicam um resultado positivo para o setor como um todo no segundo ano da pandemia da Covid-19. A CNseg (Confederação Nacional das Seguradoras) avaliou que, sem considerar dados dos seguros saúde e DPVAT, o setor segurador deve fechar o ano com aumento de 14,1% sobre 2020 em cenário otimista e com crescimento de 9,4% em cenário pessimista.

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“Os dados mais recentes, de outubro, sem considerar saúde suplementar e DPVAT, apontam arrecadação de R$ 303,4 bilhões, representando crescimento de 12,6% na variação em 12 meses móveis até outubro de 2021, sobre 2020″, disse Marcio Coriolano, presidente da CNseg, em comunicado sobre o balanço do setor. Ele destacou estes dados de outros produtos

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  • Danos e Responsabilidades: alta de 13,3% na comparação dos 12 meses móveis até outubro de 2021, em relação a igual período de 2020
  • Cobertura de Pessoas/Planos de Risco: evolução de 12,9% na comparação dos 12 meses móveis até outubro de 2021, em comparação com o mesmo período de 2020
  • Cobertura de Pessoas/Planos de Acumulação: crescimento de 14% na comparação dos 12 meses móveis até outubro de 2021, sobre idêntico período de 2020
  • Capitalização: incremento de 3,5% na comparação dos 12 meses móveis até outubro de 2021, em relação à igual período de 2020
  • Saúde suplementar: alta de 7,1% nos quatro trimestres móveis findos no 3° trimestre

Covid-19

Com a maior demanda por esse tipo de produto, o setor testa novos modelos. Um exemplo é a AIG Seguros, que mira o mercado de viagens corporativas e apresentou ao mercado a modalidade “pay per use”, um modelo de contratação possível para empresas de qualquer tamanho e quantidade de funcionários, em que o pagamento do seguro de viagens a trabalho se dá apenas após o uso e de acordo com a quantidade de dias informados no certificado de seguro emitido previamente.

Na SulAmérica, os pacotes de seguro viagem para Brasil, América Latina, Europa, Mundo e a categoria “estudante” permitem agora a contratação facultativa das assistências adicionais para eventos relacionados à Covid-19. A iniciativa tem por objetivo, segundo a empresa, atender à demanda de alguns países que, além do seguro, exigem assistências específicas para o novo coronavírus. O surgimento da variante ômicron, que se dissemina pelo planeta, é um ponto de atenção que faz o viajante redobrar seus cuidados, planejando proteção para situações inesperadas, com o risco de contaminação.

A Affinity Seguro Viagem percebeu essa demanda em outubro de 2020 e passou a oferecer um produto voltado especificamente para a Covid-19 no país. Mais de 80% de suas vendas hoje são deste tipo de seguro, segundo a companhia. Em setembro, por exemplo, a empresa registrou crescimento de 488%, quando comparado ao mesmo mês de 2020. A estimativa é fechar 2021 com crescimento de 133,89%. A Affinity diz que os destinos dos viajantes que contrataram seus seguros não sofreram alterações. Mais da metade (53%) são para viagens para a Europa. Em seguida aparecem: EUA (18%), outros destinos exceto Américas e Europa (13%), Brasil (10%) e América Latina (8%).

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Embora o seguro viagem seja mais utilizado para viagens internacionais, há também uma procura maior para viagens nacionais. Na Globus, as contratações são principalmente para turistas que vão para o Ceará, Rio Grande do Sul, Pernambuco, Rio de Janeiro e Paraná. Já no quesito exterior, Inglaterra, França, Egito, Itália e Indonésia lideram.

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Antes de contratar um seguro de viagem, o consumidor tem de ficar atento às características do produto, a fim de escolher o mais adequado ao seu perfil de viajante e necessidades. Especialistas indicam três fatores devem ser considerados:

  • Perfil da viagem: é importante avaliar, por exemplo, se o destino escolhido é tranquilo ou mais agitado, se envolve alguma atividade radical ou se haverá acompanhantes, entre outros pontos. Esses detalhes são essenciais para que a seguradora possa indicar o produto mais adequado à demanda
  • Custo-benefício: o seguro viagem geralmente viabiliza um custo mais acessível em casos de imprevistos, sendo imprescindível para quem planeja viagens internacionais. Por isso, vale conferir todas as coberturas e assistências oferecidas pela seguradora
  • Assistência: o seguro oferece uma série de assistências adicionais, como internação hospitalar, despesas odontológicas e intervenções cirúrgicas. Considere todas as opções para contratar o produto mais adequado às suas necessidades

Reclamações

A Proteste, que recebe reclamações de consumidores, avaliou 89 planos de seguro-viagem disponíveis no mercado e dá dicas na hora de contratar esse tipo de produto. “A principal dica é ler o contrato, antes de finalizar a transação, para saber quais são as exclusões (o que não é coberto, ou seja, não resulta em indenização) e as coberturas, que são divididas em obrigatórias e adicionais ou complementares”, afirma Rodrigo Alexandre, especialista da Proteste.

Desde 2016, a Susep (Superintendência de Seguros Privados), órgão que regulamenta o mercado de seguros, ampliou o número de coberturas obrigatórias, que, até aquele ano, eram apenas duas (de morte e invalidez permanente). Com a publicação da Resolução do Conselho Nacional de Seguros Privados (CNSP 315/2014), a lista ganhou itens como despesas médicas, hospitalares e odontológicas. “Mas elas só devem ser oferecidas aos consumidores na contratação do seguro-viagem para o exterior. Em trajetos nacionais, elas são opcionais”, observa Alexandre. Abaixo, conheça a maioria delas.

Coberturas obrigatórias

  • Despesas médicas, hospitalares e/ou odontológicas em viagem ao exterior - São pagas as contas efetuadas em decorrência de tratamento ocasionado por acidente pessoal ou enfermidade súbita e aguda ocorrida em viagem ao exterior
  • Regresso sanitário - Indenização das despesas com o traslado de regresso do segurado ao local de origem da viagem ou de seu domicílio, conforme definido nas condições contratuais do seguro. Mas somente se o viajante não se encontrar em condições de retornar como passageiro regular por motivo de acidente pessoal ou enfermidade previstos
  • Traslado Médico - Indenização das despesas com a remoção ou transferência do segurado até a clínica ou hospital mais próximo em condições de atendê-lo, por motivo de acidente pessoal ou enfermidade cobertos pelo seguro
  • Morte em viagem - Pagamento do capital segurado ao(s) beneficiário(s) indicado(s) na apólice, no certificado individual ou no bilhete, de uma única vez ou sob a forma de renda. Isso quando ocorrer o falecimento do segurado por causas naturais ou acidentais, durante o período de viagem
  • Morte acidental em viagem - O capital segurado é pago ao(s) beneficiário(s) indicado(s) na apólice, no certificado individual ou no bilhete, de uma única vez ou sob a forma de renda, em caso de falecimento do segurado, por acidente pessoal ocorrido durante a viagem
  • Invalidez permanente total ou parcial por acidente em viagem - Pagamento de indenização em caso de perda, redução ou impotência funcional definitiva, total ou parcial, dos membros ou órgãos definidos na apólice, no certificado individual ou no bilhete. Refere-se à ocorrência de lesão física sofrida pelo segurado, provocada por acidente pessoal ocorrido durante o período de viagem
  • Traslado de corpo - Indenização, em casos de despesas com a liberação e transporte do corpo do segurado do local da ocorrência do evento coberto até o domicílio ou local do sepultamento. Nessa situação, são incluídos nas despesas todos os procedimentos e objetos imprescindíveis ao traslado do corpo. No entanto, esta cobertura não pode ser contratada isoladamente; apenas conjugada com uma das anteriores.

Coberturas adicionais ou complementares

  • Bagagem - Para casos de extravio, roubo, furto, dano ou destruição dela
  • Funeral - Cobre as despesas com o funeral, em caso de falecimento do segurado durante o período de viagem
  • Regresso antecipado - Indeniza as despesas com o traslado de regresso do segurado ao local de domicílio ou origem da viagem
  • Cancelamento de viagem - Consiste na indenização das despesas não reembolsáveis com a aquisição de pacotes turísticos e/ou serviços de viagens, como transporte e hospedagem, na ocorrência de evento coberto que impeça o segurado de viajar ou continuar viajando
Sérgio Ripardo

Jornalista brasileiro com mais de 25 anos de experiência, com passagem por sites de alcance nacional como Folha e R7, cobrindo indicadores econômicos, mercado financeiro e companhias abertas.