Time de Biden debate se deve intervir em petróleo ou esperar

Recente aumento dos preços da gasolina nos EUA para o maior nível em sete anos traz um dilema para a administração de Joe Biden

Autoridades estão preocupadas com o impacto econômico e político da inflação acelerada
Por Javier Blas - Jenny Leonard - Jennifer Jacobs e Ari Natter
12 de Novembro, 2021 | 01:23 PM

Bloomberg — A Casa Branca avalia se deve agir imediatamente para tentar reduzir os preços da energia nos Estados Unidos ou adiar medidas drásticas na esperança de que os mercados se estabilizem. Mas a preocupação do presidente Joe Biden com a inflação esbarra em questões sobre o clima, comércio e política externa.

Um pequeno grupo de assessores de Biden discute medidas para reduzir o preço da gasolina há várias semanas, de acordo com pessoas a par do assunto. Ainda não há consenso. Alguns funcionários do Departamento de Energia resistem em acessar a Reserva Estratégica de Petróleo (SPR, na sigla em inglês), enquanto assessores da Casa Branca fazem lobby para liberar os estoques ou para a medida ainda mais radical de suspender as exportações de petróleo, disseram as fontes, que falaram sob anonimato.

O recente aumento dos preços da gasolina nos EUA para o maior nível em sete anos traz um dilema para Biden: tentar elevar a produção de combustíveis e reduzir os custos ao mesmo tempo em que busca transmitir credibilidade em questões ambientais na reta final da conferência climática da ONU em Glasgow. A inflação dos preços da energia ganhou nova urgência na quarta-feira, depois que dados do governo mostraram que o setor ajudou a impulsionar o índice de preços ao consumidor dos EUA para a maior alta em 31 anos.

“É hora de decisão para o governo Biden”, disse Bob McNally presidente da consultoria Rapidan Energy e ex-funcionário da Casa Branca no governo do presidente George W. Bush.

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Preços da gasolina nos EUA estão próximos da máxima em sete anos  dfd

Um representante da Casa Branca negou que o governo esteja dividido sobre a questão e disse que haverá empenho em agir se necessário.

Autoridades que planejam uma resposta incluem o chefe de Gabinete da Casa Branca, Ron Klain; Brian Deese, que lidera o Conselho Econômico Nacional; o conselheiro de Segurança Nacional, Jake Sullivan; a secretária de Energia, Jennifer Granholm, e seu vice, David Turk; e Amos Hochstein, especialista em energia que Biden contratou no início do ano para trabalhar no Departamento de Estado.

O grupo se reuniu regularmente nos últimos dias, disseram pessoas a par do assunto. Deese e outros estão preocupados com o impacto econômico e político da inflação acelerada e querem atacar o problema agora com medidas enérgicas, disseram as pessoas.

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Mas Turk argumentou contra a liberação de estoques e citou previsões dos EUA, segundo as quais o mercado de petróleo pode entrar em superávit no início de 2022, o que permitiria preços mais baixos. E o Departamento de Estado se opõe à proibição das exportações, porque diz que isso poderia prejudicar países com os quais busca se reconectar após as disputas comerciais do governo Trump. O Departamento do Tesouro também participa das discussões.

Um esforço inicial para reduzir os preços do petróleo não foi em frente. Em vez de agir unilateralmente, a Casa Branca tentou convencer Arábia Saudita, Rússia e outros membros influentes da Opep+ a bombear mais petróleo. Como o grupo se recusou a mudar a estratégia em reunião neste mês, o debate se concentrou no que os EUA poderiam fazer.

Autoridades do governo esperam criar um “mecanismo” nos próximos dias que Biden possa usar para reduzir os preços do petróleo, de acordo com pessoas a par das negociações. Eles alertaram que o presidente ainda não tomou uma decisão e ainda pode decidir contra qualquer intervenção. Mas, se agir, o mecanismo provavelmente incluirá o uso simultâneo de várias ferramentas e permitirá uma resposta que seria calibrada de acordo com a reação do mercado de petróleo.

A principal dessas ferramentas é acessar a SPR, um depósito subterrâneo com mais de 600 milhões de barris de petróleo. Além disso, autoridades da Casa Branca estudam maneiras de garantir que as refinarias dos EUA processem mais petróleo em gasolina, possivelmente relaxando as regras para misturar gasolina com biocombustíveis, disseram as pessoas.

Limitar o uso de biocombustíveis como o etanol derivado do milho pode causar a ira do setor agrícola. Mas pode ter um impacto imediato nos postos de gasolina.

“Alterar as regulamentações dos biocombustíveis é uma abordagem infalível para reduzir os preços da bomba, mas talvez menos eficaz do ponto de vista de relações públicas”, disse Helima Croft, estrategista de commodities da RBC Capital Markets e ex-analista da CIA.

Os operadores de petróleo acreditam que o governo de Washington precisaria liberar pelo menos 30 milhões de barris da SPR - o equivalente a cerca de um mês das importações de petróleo dos EUA da Opep - para fazer diferença.

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