Fim do home-office? Boom de vendas de PCs devido à pandemia deve acabar

Demanda aumentou à medida que o público montou seus escritórios de trabalho remoto, adquiriu laptops para o ensino on-line e hardware para entretenimento em casa

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Por Tae Kim
09 de Julho, 2021 | 12:35 PM
Pandemia incentiva a cultura do trabalho e estudo remotodfd

(Bloomberg Opinion) – As vendas de PCs estão aumentando e, apesar do passado cíclico do setor, Wall Street e as principais fabricantes de PCs acreditam que a grande demanda por computadores ainda vai durar muito tempo. “Esperamos que o retorno ao trabalho presencial continue beneficiando a Dell nos próximos trimestres”, afirmava um relatório do banco de investimentos Cowen. Mas há motivos para ceticismo quanto a essas projeções otimistas. Com base em experiências passadas, o boom atual da venda de computadores pessoais pode ser mais limitado que o esperado.

Com certeza, os números recentes do crescimento do setor foram extraordinários. Durante a pandemia, a demanda por PCs aumentou à medida que o público montou seus escritórios de trabalho remoto, adquiriu laptops para o ensino on-line e hardware para entretenimento em casa. Segundo a empresa de pesquisas IDC, os envios de PCs pelo mundo cresceram 55 pontos percentuais no primeiro trimestre de 2021, em comparação ao ano anterior, e aumentaram 26 pontos percentuais no quarto trimestre de 2020.

As fabricantes de PCs estão otimistas quanto à mudança de hábitos diários, com famílias e empresas precisando permanentemente utilizar mais computadores por pessoa. Normalmente, Wall Street concorda com a projeção da alta de vendas de PCs até o fim do ano feita pelo Cowen. Mas devemos analisar um pouco mais: antes do ano passado, o mercado de PCs era um dos mais estagnados do setor de tecnologia. As remessas do setor foram baixas ou negativas em sete dos últimos 10 anos. E mesmo com a pandemia motivando grandes vendas, a tecnologia em si não sofreu grandes inovações.

O mercado de PCs pode facilmente retornar ao estado anterior, sem crescimento. O software para computadores pessoais não sofreu mudanças relevantes. E com as pequenas melhorias na interface de usuário do próximo lançamento do Windows 11, da Microsoft Corp., não parece que o novo sistema operacional vai gerar um ciclo de atualizações.

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Quanto ao aumento recente pela demanda, podemos acreditar que os gastos com computadores motivados pela pandemia não persistirão. No segundo semestre, os alunos provavelmente retornarão à rotina de aprendizagem presencial, reduzindo a necessidade de PCs adicionais em casa, e os gastos corporativos com computadores para trabalho remoto poderão desaparecer se os funcionários voltarem em massa para os escritórios. Além disso, devemos analisar a natureza das compras de hardware: ao contrário das assinaturas de software, quando um consumidor ou funcionário compra um novo computador, não é necessário comprar outro por três ou quatro anos. É possível que a demanda do último ano tenha adiantado as vendas dos próximos períodos.

Já é possível enxergar sinais de que a demanda pode estar diminuindo. Os preços mais baixos podem ser um indicador de problemas no futuro. E curiosamente, tenho visto mais descontos em PCs nos sites de tecnologia que acesso todos os dias. Além disso, os dados de cartão de crédito do Bank of America mostram que os gastos com eletrônicos apresentaram desaceleração, passando de um crescimento de 40% em termos anuais em março para 20% no mês passado. Embora enquadrar computadores na categoria de eletrônicos não seja ideal, isso pode indicar uma mudança de gastos com gadgets para gastos com experiências fora de casa.

Caso as vendas de PCs realmente diminuam, empresas como a HP Inc., Dell Technologies Inc. e Intel Corp. serão afetadas. A HP e a Dell são, respectivamente, a segunda e a terceira maiores fabricantes de PCs no mundo, atrás da asiática Lenovo Group Ltd., segundo a empresa de pesquisa de mercado IDC. Os últimos dados da Mercury Research mostram que os processadores Intel representam cerca de 80% do mercado de desktops. Por outro lado, isso não afetará tanto as vendas de Mac da Apple Inc. e de processadores da Advanced Micro Devices Inc. Ambas as empresas atualmente possuem produtos com poder de processamento que supera o de concorrentes, porém menos participação em seus respectivos mercados, o que significa mais espaço para crescer.

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As vendas de PCs podem continuar aumentando, é claro, já que nossas vidas passam a acontecer permanentemente na esfera digital. Porém, enquanto o mundo volta remotamente ao normal, temos muitas evidências que sugerem que as vendas de computadores farão o mesmo.