Setor aéreo discute meta de zero emissões até 2050

Embora companhias aéreas como a British Airways e a United Airlines tenham assumido compromissos de zero emissões, a associação internacional do setor desde 2009.

Setor discute como reduzir as emissões
Por Christopher Jasper - Jessica Shankleman - Charlotte Ryan
24 de Junho, 2021 | 01:32 PM

(Bloomberg) O grupo de comércio mundial do setor aéreo proporá a eliminação de emissões de carbono em termos líquidos até 2050, à medida que a pressão para melhorar as metas climáticas aumenta sobre um segmento que recebe muitas críticas pelo uso de combustíveis fósseis.

A Associação Internacional de Transporte Aéreo solicitará que as companhias adotem a meta no encontro anual em Boston, em outubro, afirmou em entrevista na quinta-feira Willie Walsh, diretor-geral da associação.

Embora companhias aéreas como a IAG S.A., detentora da British Airways, e a Delta Air Lines Inc. e a United Airlines Holding Inc. tenham assumido compromissos de zero emissões, a Aita não atualiza a própria meta desde 2009. Na ocasião, as companhias aéreas prometeram reduzir as emissões de CO2 em 50% até o meio do século, comparadas com os níveis de 2005. Contudo, desse então as emissões aumentaram, motivadas pelo crescimento das viagens aéreas e sendo reduzidas apenas no ano passado devido à pandemia de coronavírus.

“Acredito que o setor vai se alinhar à mudança das metas”, afirmou Walsh, “porém temos que passar pelo processo formal”.

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O setor aéreo recebe cada vez mais críticas à medida que o setor automobilístico e de energia avançam rapidamente na redução de emissões, em linha com as metas estabelecidas pelo Acordo de Paris. Antes da pandemia, o sentimento de repulsa por voos causou movimentos de pessoas que limitaram as viagens aéreas e optaram por trens, por exemplo.

Antes da pandemia, o setor aéreo global causava cerca de 2% de todas as emissões de CO2. A queda temporária – porém brusca – devido ao isolamento social provavelmente não afetará a mudança climática, pois o gás fica na atmosfera por centenas de anos.

Walsh argumenta que, embora não existam muitas companhias independentes, é possível atingir zero emissões se os governos, as petrolíferas e fabricantes de aviões fizerem sua parte.

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“É inaceitável que outras empresas do setor aéreo mais amplo esperem que apenas as companhias aéreas assumam os maiores compromissos”, afirmou, “nós não construímos as aeronaves nem produzimos o combustível e controlamos o tráfego aéreo”.

Avião a hidrogênio

Um dos desafios de descarbonizar a aviação é a dificuldade em fazer aviões rodarem com combustíveis alternativos.

A Aita pretende fazer com que a fabricante de aeronaves Airbus SE prometa produzir uma aeronave a hidrogênio até 2035 e declarou que o modelo precisa ter um tamanho comparável ao modelo mais vendido – A320 de fuselagem estreita, com capacidade para 150 pessoas – e alcance de no mínimo 1.000 quilômetros (621 milhas).

“Na verdade, se tivermos uma aeronave a hidrogênio até 2035, isso não vai mudar as coisas radicalmente, pois provavelmente essa aeronave será para voos de curta distância”, afirmou Walsh.

Os governos e as petrolíferas também devem aumentar seus investimentos em combustíveis sustentáveis para aviação, o que é considerado essencial para reduzir as emissões na próxima década, e os países europeus devem se unir para formar uma única área de controle de tráfego aéreo para otimizar rotas e reduzir a emissão de CO2 de uma vez.

O Acordo de Paris de 2015 comprometeu quase 200 países a estabilizar o aquecimento global “muito abaixo” de dois graus Celsius, comparado a níveis pré-industriais, com meta de no mínimo 1,5 grau Celsius. A atitude também prevê que todas as emissões humanas caiam para zero durante a segunda metade deste século.

Contudo, a aviação internacional não foi mencionada especificamente nem contabilizada nas metas nacionais. As metas relacionadas à aviação serão assumidas em nível nacional por cada país.

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As emissões de CO2 atingiram cerca de 915 milhões de toneladas em 2019, segundo o Grupo de Ação de Transporte Aéreo, grupo do setor com foco em questões ambientais.

Com base nos níveis de 2005, a atual meta da Aita é que as companhias reduzam as emissões de carbono para 325 milhões de toneladas até 2050. Walsh afirmou que atingir zero emissões representaria apenas uma pequena mudança, considerando a orientação estabelecida em 2009.

Recuperação e táxi aéreo

Walsh deu uma entrevista abrangente. Outras questões abordadas foram:

  • Retorno do setor: Walsh está otimista quanto à atual estimativa da Aita de um prejuízo de US$ 48 bilhões para o setor em 2021. O segundo semestre vai ser melhor para a Europa, considerando o ritmo de vacinação, porém as rotas transatlânticas estão reabrindo mais lentamente. Ele considera que os Estados Unidos abrirá as fronteiras para europeus “provavelmente em julho”.
  • O governo do Reino Unidos “não fez nada específico para o setor aéreo. Então eu não sou otimista quanto à sua contribuição no futuro” em termos de apoio financeiro.
  • Os super polos do Oriente Médio ainda são “muito importantes” e serão mais relevantes pós-pandemia – tornando-se ainda mais valiosos mesmo com menos voos diretos disponíveis.
  • Ceticismo quanto à viabilidade do negócio de táxi aéreo, mas sem dispensar a possibilidade.
  • A China ainda é uma “participante com um futuro muito confiável” na fabricação de aeronaves e “claramente obstinada para atingir esse status”; a aeronave Comac C919 provavelmente não terá muita demanda fora do mercado interno

--Com assistência de Siddharth Philip e Layan Odeh.

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