Renner: alta de 1.850% da ação em 20 anos reflete desempenho e governança, diz CEO

Primeira corporation da bolsa brasileira, sem acionista controlador e com 100% das ações em circulação, varejista colhe resultados de planos de longo prazo e de investimentos na renovação do modelo de negócios, diz Fabio Faccio à Bloomberg Línea

Cerimônia pelos 20 anos da Renner como corporation na bolsa brasileira, a B3, em 1 de julho de 2025: a partir da esquerda, Viviane Basso, VP de Operações da B3, e os executivos da Renner, Fabio Faccio (CEO), Carlos Souto (presidente do conselho) e Daniel Martins dos Santos (CFO) (Foto: Ester Oliveira/Divulgação)
18 de Julho, 2025 | 06:11 AM

Bloomberg Línea — Nos últimos anos de juros elevados, fuga de investidores, perda de valor de mercado e redução de liquidez, a bolsa brasileira tem sido palco de movimentos que vão de manobras de acionistas - controladores ou não - que buscam “espremer” os direitos de minoritários até decisões de fechamento de capital.

Mas, ao mesmo tempo, há empresas que mostram que há caminho na contramão. Uma delas não só destoa desse ambiente adverso do ponto de vista de governança como acabar de completar 20 anos como corporation, ou seja, sem um acionista controlador e com 100% das ações em circulação no mercado.

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Essa empresa é a Renner, que também completa 60 anos de existência em 2025. Para muitos de seus principais executivos, a manhã de uma recente terça-feira de julho foi atípica e especial, com a visita à sede da B3 no centro de São Paulo para justamente celebrar a marca dos 20 anos como corporation.

“Melhoramos muito como empresa desde então, em diferentes aspectos, seguindo planos estratégicos com metas públicas e busca constante por inovação”, disse o CEO da Renner, Fabio Faccio, em entrevista à Bloomberg Línea.

O CEO citou o entendimento já consolidado de que tanto o corpo executivo que comanda a empresa como o conselho de administração têm de prestar contas a todos os acionistas, além de clientes, colaboradores e parceiros (fornecedores).

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“Aumentou muito a nossa responsabilidade. Sabíamos desde o início que tínhamos que estar entre as melhores empresas em governança para corresponder às expectativas”, completou o executivo, que está há 26 anos na Renner.

Dados que comparam a Renner de 20 anos atrás com a dos dias de hoje atestam a evolução. O número de acionistas saltou de cerca de 800 para mais de 102 mil, entre investidores que são pessoa física, institucionais do país e estrangeiros - BlackRock, ARGA e Schroder são os três maiores em participação.

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“Com uma base de acionistas tão pulverizada, é do nosso interesse e também uma obrigação buscar o mais alto nível de governança”, disse o executivo.

Essa preocupação se reflete em metas e indicadores que são colocados de forma transversal pela companhia, de modo a evitar que sejam iniciativas isoladas de pessoas ou áreas.

O conselho é formado apenas por membros independentes, com apoio de comitês especializados, como de Pessoa e Nomeação, Sustentabilidade, Estratégico e Gestão de Risco, com foco na perenidade dos negócios.

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Atualmente, o equivalente a 37,5% do conselho é formado por mulheres (3 de 8), o que coloca a empresa entre as poucas da B3 com três ou mais conselheiras, de acordo com informações da própria bolsa.

Desde 2021, a remuneração da diretoria, composta por 40% de mulheres, está atrelada a metas ESG, o que reforça o engajamento da alta liderança com os pilares sustentáveis do negócio.

A empresa também foi pioneira em iniciativas de transparência e governança, como o lançamento de um manual para participação de acionistas em 2006 e a criação de uma secretaria de governança corporativa em 2018.

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As duas décadas que se passaram também representaram um salto no tamanho e no alcance da empresa, como reflexo direto da busca por transparência, governança e políticas socioambientais, com resultados diretamente relacionados.

O número de lojas saltou de pouco mais de 60 para cerca de 680; a receita bruta anual avançou de R$ 1,5 bilhão para R$ 18,4 bilhões; e o número de marcas saltou da que leva o seu nome para seis, em lista que inclui Camicado, YouCom, Realize, Ashua e Repasse, cada uma com uma segmentação de produto.

Alta de 1.850% das ações

Como reflexo do reconhecimento do investidor do modelo perseguido e da governança, segundo Faccio, as ações subiram cerca de 1.850%, versus uma alta aproximada de 475% do Ibovespa no mesmo período.

O executivo atribuiu a valorização aos resultados mas também à forma como a empresa tem sido conduzida nos últimos 20 anos, apontando o já citado aumento expressivo da base de acionistas como um reconhecimento.

“Há também uma geração de valor para os acionistas que é expressada na distribuição de proventos. Só em 2024 foram mais de R$ 633 milhões”, disse Faccio.

Trata-se de uma das faces de geração de valor compartilhado, em sua avaliação, destacando o crescimento da empresa, as práticas ESG e o “encantamento do cliente” - este, um norte que é perseguido desde os tempos de liderança de José Galló na companhia como CEO e, depois no conselho (ele foi um dos presentes no evento da B3).

Esse tem sido um dos três pilares da estratégia, segundo Carlos Souto, presidente do conselho da Renner e também presente ao evento, citando o cuidado com a cultura corporativa e a busca pelas melhores pessoas como os demais.

Ao olhar para a frente, Faccio disse que a empresa buscou reforçar a competitividade “sempre com o olhar da perenidade” nos últimos anos - que foram desafiadores diante de fatores como impactos da pandemia, juros elevados há três anos e aumento da concorrência de players de e-commerce asiáticos.

Foi uma referência ao ciclo de “digitalização e desenvolvimento das sinergias do ecossistema” que a Renner conduziu a partir de 2019 e que envolveu o maior volume de investimentos de sua história: foram mais de R$ 3,3 bilhões apenas entre 2021 e 2024 - e devem ser mais R$ 850 milhões neste ano.

“Nós continuamos a investir em tecnologia, em inovação, na base de dados, em inteligência artificial e na expertise dos times para que tenhamos ciclos longos de crescimento”, disse o executivo.

Os investimentos reforçaram a capacidade, por exemplo, da Renner de ser mais assertiva na escolha de coleções que vão para as lojas, com índices de vendas mais altas e melhores práticas de precificação e, portanto, resultados.

“Investimos muito para ter a capacidade de navegar em qualquer tipo de cenário, para que a empresa possa, por exemplo, ajustar estoques e coleções ao momento de consumo”, disse o CEO da Renner.

Como reflexo, a rede espera ampliar as vendas por meio de canais digitais, ao mesmo tempo em que potencializa as das lojas físicas com a integração.

O presidente do conselho da Renner, que também fez um discurso antes do tradicional toque da sirene na B3, disse que “as novidades do varejo e dos negócios impõem um desafio constante que exige que a empresa esteja sempre se preparando, em particular em um setor de elevadíssima competitividade”.

“Não consideramos que a forma como o varejo e a Renner operam hoje vai continuar da mesma forma amanhã, o que significa que estamos sempre nos questionando e avaliando como podemos nos adaptar”, disse Souto.

Em outra frente, a Renner avança com a execução de medidas para cumprir as diversas metas de seu plano estratégico de moda responsável até 2030, que incluem de cadeias de fornecedores que atendam critérios socioambientais ao aumento da representatividade de negros e mulheres em cargos de liderança.

Segundo o CEO da Renner, os 20 anos como corporation também mostram que esse é um caminho possível na bolsa brasileira, em meio a tantos contraexemplos.

“Foi uma decisão que, acreditamos, abriu as portas para outras empresas”, disse.

É uma lista que ainda pode ser contada em poucas representantes, mas cujos padrões de governança e de resultados indicam performance acima da média.

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Marcelo Sakate

Marcelo Sakate é editor-chefe da Bloomberg Línea no Brasil. Anteriormente, foi editor da EXAME e do CNN Brasil Business, repórter sênior da Veja e chefe de reportagem de economia da Folha de S. Paulo.