Bloomberg Línea — Em um dos setores com mais gargalos da economia brasileira, o de infraestrutura e logística, a JSL (JSLG3) se prepara para enfrentar um cenário de incertezas, com juros elevados e demanda impactada globalmente pela guerra tarifária.
Nesse sentido, a companhia trabalha principalmente com a diversificação do portfólio e a otimização do custo de capital.
“Não podemos mudar o contexto externo, mas temos que ser melhores do que nossos concorrentes”, disse o CEO da JSL, Ramon Alcaraz, em entrevista à Bloomberg Línea.
Segundo o CFO, Guilherme Sampaio, a companhia possui cerca de 350 clientes individuais, com aproximadamente 780 contratos ativos.
“O perfil do cliente da JSL é blue chip, com grandes volumes e vários contratos. No ano passado, adicionamos à nossa base 26 novos clientes, como Leroy Merlin, Mercado Livre e Fibria, que são gigantes e trazem importantes avenidas de crescimento adicional”, disse.
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Ao final do primeiro trimestre, os novos contratos da empresa atingiram R$ 1,8 bilhão, com prazo médio de 81 meses e que adicionaram receita média mensal de R$ 22 milhões. No período, a companhia marcou sua entrada no setor aeroportuário.
Sampaio acrescentou que a companhia atende especialmente aqueles clientes cujas operações dependem diretamente do serviço da JSL.
“Atendemos montadoras que têm um cronograma rígido. Se não entregamos a mercadoria em tempo, a linha [de produção] para.”
Alcaraz contou que a JSL aposta em mercados considerados resilientes, com menor vulnerabilidade, como os setores exportadores ou de consumo rápido, como alimentos e bebidas.
“Outra forma de avaliar os mercados potenciais é buscar negócios em que podemos ser essenciais na operação dos clientes”, afirmou.
Outra frente em que a companhia aposta é o digital. A nova unidade de negócio - a JSL Digital - trabalha com o processo de logística 100% digitalizado, desde a contratação da carga até o rastreamento.
Segundo Sampaio, a JSL Digital não é uma intermediação, como outras plataformas oferecidas no mercado: é uma operadora e responsável pela carga.
“É uma avenida de crescimento a mais.” A ideia é que a JSL consiga ser competitiva também com clientes menores.
Em um contexto global de aumento das incertezas, Alcaraz afirmoua que o Brasil está bem posicionado, com potenciais ganhos.
“Apesar das mudanças no cenário internacional, o país tem potencial para exportar para os Estados Unidos. Além disso, o Mercosul negocia com a União Europeia. Acreditamos que, provavelmente, vamos ter mais benefícios como país do que prejuízos”, disse o executivo.
Ele acrescentou que os impactos da guerra tarifária não são diretos sobre a JSL, mas sobre os clientes que importam e exportam.
Custo do capital
No primeiro trimestre, o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) ajustado da JSL atingiu R$ 458,2 milhões, com um avanço de 14% em relação ao mesmo período do ano passado, segundo balanço divulgado na noite desta terça-feira (6).
A receita líquida cresceu 12,1% na mesma base de comparação, para R$ 2,31 bilhões.
Já o lucro líquido ajustado caiu 7,4% de janeiro a março, para R$ 45,1 milhões. A última linha do balanço “segue pressionada pela alta na taxa de juros, que piorou em 14% o resultado financeiro em relação ao quarto trimestre”, informou a companhia no documento.
A empresa salientou que “os esforços de desalavancagem para uma operação com balanço mais leve ainda não compensam a forte alta de juros observada na economia nos últimos meses”.
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Para Alcaraz, é importante destacar o crescimento da receita, com avanço das margens operacionais.
“Falamos que isso aconteceria, o lucro é uma consequência de outros fatores, como taxa de juros, por exemplo. São questões pontuais”, ponderou.
Sampaio disse que a companhia trabalha constantemente para compensar o cenário adverso. “Toda vez que sentamos com os clientes para negociar novos contratos, atualizamos o custo de capital. Estamos conseguindo repassar esse aumento.”
O setor de alimentos e bebidas representou a maior parte da receita da JSL no primeiro trimestre (26%), seguido por papel e celulose (16%) e automotivo (13%).
De acordo com o balanço da companhia, houve alta do faturamento no setor de e-commerce, que respondeu por 6% da receita no período, e bens de consumo (11%).
“Não existe uma empresa que concorra com a JSL com todo o portfólio que atendemos. Cobramos o que consideramos justo e agregamos valor. O caro seria uma ruptura na cadeia produtiva do cliente”, afirmou o CEO.
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