Europa classifica ‘ameaça de China e Rússia’ como o maior desafio geopolítico global

Líderes europeus enfatizaram os vínculos entre os dois países na guerra de Vladimir Putin contra a Ucrânia

Vladimir Putin e  Xi Jinping
Por Alberto Nardelli - Philip J. Heijmans - Josh Xiao
31 de Maio, 2025 | 02:55 PM

Bloomberg — Os líderes europeus viajaram para a Ásia esta semana com uma mensagem: os países precisam trabalhar juntos para preservar a ordem geopolítica contra as ameaças da China e da Rússia.

Kaja Kallas, a principal diplomata da União Europeia, e o presidente francês Emmanuel Macron enfatizaram os vínculos entre a guerra de Vladimir Putin contra a Ucrânia e o aprofundamento do relacionamento da Rússia com a China durante uma série de aparições no Sudeste Asiático nos últimos dias.

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“É o maior desafio do nosso tempo”, disse Kallas a uma plateia na conferência de segurança Shangri-La, em Cingapura, neste sábado (31).

“Quando a China e a Rússia falam em liderar juntas mudanças nunca vistas em cem anos e em revisões da ordem de segurança global, todos nós deveríamos estar extremamente preocupados”, acrescentou.

Kallas acusou a China de viabilizar a máquina de guerra da Rússia, dizendo que 80% dos produtos de uso duplo usados para combater a Ucrânia vêm da segunda maior economia do mundo.

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A diplomata observou como o secretário de Defesa dos EUA, Pete Hegseth, alertou sobre a ameaça da China para o resto da Ásia e disse que a Rússia também deveria ser uma das principais preocupações.

“Se os senhores estão preocupados com a China, deveriam estar preocupados com a Rússia”, disse.

Kaja Kallas

As autoridades ocidentais acusam a China de fornecer à Rússia tecnologias essenciais, incluindo drones, e afirmam que ambas as nações se envolveram em ataques cibernéticos, atos de sabotagem e atividades perigosas relacionadas à infraestrutura, como cabos em alto-mar.

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Kallas pediu aos parceiros europeus e asiáticos que trabalhem juntos para combater as frotas secretas de navios-tanque e revisar as leis de segurança marítima.

O apoio direto da Coreia do Norte aos esforços de guerra da Rússia - incluindo mísseis, munição e tropas - aproximou ainda mais o conflito dos dois lados do mundo.

“Se a China não quer que a Otan se envolva no Sudeste Asiático ou na Ásia, ela deve impedir que a Coreia do Norte se envolva em solo europeu”, disse Macron em um discurso de abertura em Cingapura na sexta-feira (30).

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Falando aos repórteres após uma reunião na quinta-feira (29) de um grupo de defesa pouco conhecido conhecido como Five Power Defence Arrangements, que reúne as nações da Commonwealth de Cingapura, Austrália, Malásia, Nova Zelândia e Reino Unido, autoridades de vários países membros reconheceram alguns desafios comuns. Isso inclui riscos contra a infraestrutura de informações subaquáticas na Europa e na Ásia.

“É uma área complexa e nova”, disse o General Mohd Nizam Jaffar, chefe das forças de defesa da Malásia. “Mas estamos estudando o assunto.”

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Ausência da China

O ministro da Defesa da China, Dong Jun, não está em Cingapura esta semana - uma ausência que surpreendeu as autoridades europeias. É a primeira vez desde 2019 que a China não envia seu principal diplomata militar ao fórum anual, onde o chefe da delegação normalmente faz um discurso e responde a perguntas no terceiro dia do evento.

A relação entre a China e a Rússia é complicada. Embora, superficialmente, os dois lados tenham expressado uma amizade “sem limites” que os levou a intensificar os intercâmbios militares e políticos, eles ainda têm diferenças importantes.

A Rússia há muito tempo deseja que a China compre mais de seus produtos não energéticos e teme uma enxurrada de produtos chineses baratos com o êxodo das marcas ocidentais.

Pequim se manifestou contra as ameaças nucleares russas e está cautelosa em ser percebida como muito ligada à Rússia, pois isso poderia acarretar o risco de sanções e prejudicar o potencial de melhorar os laços com a Europa em um mundo abalado pelas tarifas e pela volatilidade do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.

Os países da região Indo-Pacífico e do Sudeste Asiático estão encurralados entre a ameaça de aumento drástico das tarifas dos Estados Unidos e uma onda de produtos chineses mais baratos que podem lhes custar empregos na indústria.

Muitos dependem economicamente da China e dos Estados Unidos para a defesa, um arranjo que Hegseth desafiou em um discurso no fórum no sábado.

Em uma aparente provocação aos Estados Unidos e à China, um dia antes, Macron condenou os “países revisionistas” que buscam impor “esferas de coerção”.

Ele pediu uma nova cooperação entre a Europa e a Ásia com base no livre comércio, mitigando conjuntamente os riscos e tomando decisões autônomas.

No caso da Europa, isso significa estar aliada aos Estados Unidos por uma questão de escolha, mas não ser dependente deles, ao mesmo tempo em que deseja cooperar e competir de forma justa com a China.

“Nossa responsabilidade compartilhada é garantir com os outros que nossos países não sejam vítimas colaterais dos desequilíbrios ligados às escolhas feitas pelas superpotências”, disse o presidente francês.

Os líderes europeus em Cingapura, incluindo Macron e Kallas, apresentaram o bloco como um aliado confiável e com credibilidade para as nações preocupadas em ter que escolher entre os EUA e a China. A Europa tem um compromisso estratégico de longo prazo com essa região, disse Kallas no sábado.

“Se os senhores rejeitarem o unilateralismo, a intimidação e a agressão e, em vez disso, escolherem a cooperação, a prosperidade compartilhada e a segurança comum, a União Europeia estará sempre ao seu lado”, disse ela.

-- Com a colaboração de Samy Adghirni.

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