Gigante de carnes reduz oferta de produto sem antibiótico e expõe dilema do setor

A Tyson Foods, uma das concorrentes da JBS, tem diminuído a oferta de carne bovina natural no momento em que os custos maiores pressionam empresas do setor

Criação de gado nos EUA
Por Deena Shanker
04 de Julho, 2024 | 01:36 PM

Bloomberg — A Tyson Foods (TSN), uma das maiores fornecedoras de carne do mundo ao lado da JBS (JBSS3), decidiu reduzir a oferta de carne bovina sem antibióticos. No ano passado, a empresa já havia interrompido as vendas de frango criado sem antibióticos.

Em um movimento que aponta para uma mudança mais ampla no mercado de carne, a empresa disse a um grande cliente no final de 2023 que não seria capaz de continuar fornecendo carne bovina de animais criados sem antibióticos, de acordo com uma pessoa familiarizada com a decisão ouvida pela Bloomberg News que pediu para não ser identificada ao discutir assuntos privados.

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A Tyson também disse que a venda da carne bovina sem antibióticos de sua marca Open Prairie Natural Meats seria reduzida a partir de janeiro, de acordo com um documento visto pela Bloomberg.

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Há cerca de duas décadas, a Tyson disse que produziria um pouco de carne bovina sem antibióticos à medida que aumentasse a demanda dos consumidores por alimentos produzidos de forma mais natural.

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Os antibióticos são empregados nas fazendas para prevenir e tratar doenças e para promover o crescimento. Interromper o uso tende a ser mais caro porque os animais precisam de mais espaço e as empresas precisam adotar mais medidas para a prevenção de doenças.

Mas as preocupações com o uso excessivo de antibióticos nas fazendas e as conexões com bactérias mais resistentes, que são uma ameaça à saúde humana, levaram os Estados Unidos a proibir algumas aplicações na década passada.

Enquanto a Perdue Farms já havia começado a reduzir o uso de antibióticos naquele momento, outras empresas seguiram o exemplo, eliminando o tratamento de alguns lotes de frangos. Mas a Tyson voltou atrás, e disse em julho do ano passado que traria de volta os antibióticos que não eram considerados uma ameaça aos seres humanos para a criação de frango.

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Agora a Tyson está diminuindo suas opções de carne bovina criada sem antibióticos, de acordo com mudanças não relatadas anteriormente em suas ofertas de produtos.

A empresa também encerrou um programa de venda de carne bovina sem antibióticos com o grupo de marketing Certified Angus Beef após quase duas décadas, segundo confirmou a entidade à Bloomberg.

Desde sua fundação, há mais de 40 anos, a Certified Angus Beef tornou-se uma das poucas marcas conhecidas do setor, com suas garantias de qualidade. A Tyson ainda trabalha com ela em outras partes de seus negócios.

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Resposta da empresa

A Tyson não respondeu diretamente a perguntas específicas sobre mudanças no que ela chama de programa "sem antibióticos para sempre".

“A Tyson Foods dedica-se a manter a saúde e o bem-estar dos animais em nossa cadeia de suprimentos”, disse a empresa em um comunicado.

"Baseamos nossas decisões em ciência sólida e em uma compreensão crescente das melhores práticas que afetam nossos clientes, consumidores e os animais sob nossos cuidados. Continuamos a oferecer carne bovina sem antibióticos com base na demanda do mercado, e nosso compromisso com a administração de antibióticos não mudou."

A empresa ainda vende algumas carnes bovinas de animais criados sem antibióticos, incluindo na rede Whole Foods, de acordo com relatórios das lojas. A rede de supermercados, que é propriedade da Amazon, não respondeu a um pedido de comentário.

A Tyson, que gerou mais de US$ 50 bilhões em vendas durante seu último ano fiscal, tem um punhado de marcas para vender carne suína e bovina para supermercados e restaurantes.

A Open Prairie, a linha da empresa para opções mais naturais, descreve em materiais de marketing que sua política é a de “estritamente nunca” utilizar antibióticos. Mas agora o site da Open Prairie não fala mais da carne bovina e, em vez disso, promove apenas a carne suína.

A empresa também parou de usar uma tecnologia de rastreamento de DNA para acompanhar a carne bovina da Open Prairie na cadeia de suprimentos, de acordo com o documento analisado pela Bloomberg.

Quando anunciada em 2019, a Tyson disse que era uma “ferramenta fundamental” para a marca e ajudaria a atender à “crescente demanda por mais transparência sobre como os alimentos são produzidos”.

Um possível motivo para essas mudanças é econômico. O rebanho bovino dos Estados Unidos é o menor das últimas sete décadas, o que fez com que os preços do gado para abate atingissem níveis recordes.

Os preços da carne bovina também subiram, mas não o suficiente para compensar o aumento nos custos do gado. O aumento dos custos tem prejudicado os resultados do setor. Na Tyson, o lucro bruto despencou no ano passado.

A produção de carne bovina criada sem antibióticos acarreta custos extras que podem não estar compensando para a Tyson, desde as fazendas até os abatedouros, onde o animal e a carcaça precisam ser separados e rastreados durante todo o processo, disse Lance Zimmerman, analista sênior de proteína animal do Rabobank.

"As empresas estão sob imensa pressão", disse Zimmerman. Para "estancar a sangria", elas estão "procurando maneiras de navegar no mercado, melhorar a eficiência nas fábricas, fornecer produtos de alta qualidade, mas de uma forma que faça sentido".

Mercado de US$ 38 bilhões

Enquanto isso, à medida que os consumidores reduzem a ida aos restaurantes, as vendas de carne bovina sem antibióticos nos supermercados têm superado o desempenho do mercado geral de carne dos EUA, de acordo com dados da Circana, que rastreia as compras nos varejistas.

Nas lojas, a carne bovina “sem antibióticos” representa apenas 6% das vendas de carne bovina fresca, uma parcela pequena, mas crescente, do mercado de quase US$ 38 bilhões.

As vendas em volume para a categoria nas 52 semanas até 19 de maio aumentaram mais de 10%, em comparação com um aumento de 0,6% para todos os produtos de carne bovina. As vendas das ofertas sem antibióticos da Certified Angus Beef “permaneceram praticamente constantes”, disse um porta-voz do grupo.

As medidas da Tyson levantam questões sobre o futuro papel dos antibióticos no setor de carnes, depois que produtores e empresas de restaurantes anunciaram planos de abandoná-los há cerca de uma década.

Depois que a Tyson mudou sua política de frangos sem antibióticos para permitir antibióticos considerados irrelevantes para a saúde humana, a Chick-fil-A fez uma mudança semelhante.

A Tyson disse que a retomada do uso de alguns antibióticos em frangos valeu a pena. As aves têm ganhado mais peso e menos animais têm morrido precocemente de doenças, disse o CEO Donnie King em uma conferência no início deste ano.

A criação de carne bovina sem antibióticos pode ser mais difícil de manter do que a criação de frangos porque o gado vive mais tempo antes do abate - até vários anos, em comparação com cerca de seis semanas para os frangos - e isso aumenta a chance de eles serem expostos a doenças.

Os bovinos também se mudam para diferentes produtores, o que torna mais difícil rastrear se elas foram tratadas com antibióticos.

Mas alguns produtores continuam a criar gado com sucesso, raramente tendo que recorrer a antibióticos. Essa abordagem pode levar mais tempo e exigir outras mudanças, de acordo com Steve Roach, diretor do programa de alimentos seguros e saudáveis da Food Animal Concerns Trust, uma organização sem fins lucrativos voltada para o bem-estar animal e a segurança alimentar.

"Há desafios", disse Roach. "Mas eles não são intransponíveis."

-- Com a ajuda de Gerson Freitas Jr.

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