Gestora britânica tem escândalo e reduz posição na maior empresa agro do Brasil

Segundo fontes à Bloomberg News, a Odey Asset Management, segunda maior acionista da SLC Agrícola, começou a vender ações nos últimos dias

SLC Agrícola é uma das maiores empresas na produção de grãos no Brasil
Por Vinícius Andrade - Tatiana Freitas e Daniel Cancel
15 de Junho, 2023 | 04:35 PM

Bloomberg — O escândalo envolvendo o investidor Crispin Odey e seu fundo hedge britânico gera consequências até no Brasil.

A Odey Asset Management começou a reduzir sua posição de longa data na SLC Agrícola (SLCE3), a maior empresa agrícola do país, segundo pessoas com conhecimento direto do assunto disseram à Bloomberg News.

O volume de ações negociadas e quais fundos da Odey estão envolvidos não estão claros, disseram as pessoas, pedindo anonimato porque a informação não é pública. Embora o momento exato das vendas ainda não possa ser identificado, elas foram feitas nos últimos dias, segundo as pessoas.

A Odey é há muito tempo a maior acionista da companhia depois da família fundadora Logemann, que controla a SLC. A gestora aumentou suas posições em 2017 e detinha uma participação de 9,3% na SLC em maio – ou cerca de 21,1 milhões de ações – , avaliadas em R$ 739 milhões nos níveis atuais, segundo documentos regulatórios.

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A SLC estava entre as 10 maiores posições do principal fundo da Odey em agosto do ano passado e entre as 10 principais apostas do Odey Opus Fund em abril, segundo cartas a investidores vistas pela Bloomberg News.

A gestora de Odey enfrenta uma crise após a publicação de uma investigação do jornal Financial Times em 8 de junho sobre o tratamento dado a mulheres durante um período de 25 anos, que incluiu várias alegações de assédio e agressão sexual.

A empresa disse no sábado (10) que se separou totalmente de seu fundador e agora está em negociações avançadas para transferir seus fundos e diversos funcionários para outras assets.

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A Odey não comentou. A SLC Agrícola “está acompanhando a situação e até o presente momento não tem conhecimento de alterações relativas à estratégia de investimento do referido fundo”, segundo nota.

Embora Odey fosse o segundo maior acionista da SLC, ele não tinha voz ativa dentro da empresa e nunca procurou influenciar as operações, de acordo com uma das pessoas.

As ações SLCE3 caíram cerca de 4% desde que o escândalo estourou, o segundo pior desempenho entre os papéis do Ibovespa (IBOV), enquanto o volume negociado está acima da média histórica.

Um programa ativo de recompra de ações que está sendo realizado pela SLC está abocanhando até 10% do volume diário de negociação, segundo uma das pessoas.

A SLC, com sede em Porto Alegre, é responsável pela maior área cultivada do Brasil – cerca de 670.000 hectares, distribuídos em 22 fazendas – onde produz algodão, soja e milho. A empresa registrou lucro recorde em 2022 e distribuiu cerca de R$ 601 milhões em dividendos.

Em uma entrevista em abril, Eduardo Logemann, presidente do conselho e neto do fundador, disse que só havia falado com Odey uma vez, mas o agradeceu por defender a empresa contra acusações de desmatamento.

Se a participação da Odey cair abaixo de 5%, a SLC seria forçada a publicar um comunicado junto à CVM, a Comissão de Valores Mobiliários.

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- Com a colaboração de Nishant Kumar.

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