Mercado Bitcoin: conseguimos operar três anos sem ter que captar, diz CEO

Reinaldo Rabelo disse em entrevista à Bloomberg Línea no Web Summit Rio que empresa se preparou para funcionar com o caixa da operação por esse período

Reinaldo Rabelo, CEO do Mercado Bitcoin, no palco cripto durante o Web Summit Rio 2023 (Eóin Noonan/Web Summit Rio via Sportsfile)
09 de Maio, 2023 | 01:12 PM

Bloomberg Línea — O Mercado Bitcoin, corretora de criptomoedas da holding brasileira 2TM financiada pelo SoftBank, considera estar preparado para operar com seu caixa pelos próximos três anos, sem a necessidade de nova captações, em meio a um cenário econômico desafiador para as startups late stage (a partir de rodadas Séries C).

Dados da plataforma Sling Hub mostram que rodadas maiores, acima de US$ 10 milhões, despencaram 70% na América Latina no primeiro trimestre de 2023 contra o mesmo período no ano passado.

“Com a crise econômica no mercado de inovação e de venture capital, fizemos ajustes na nossa estrutura e podemos suportar até três anos de mercado menos aquecido”, disse o CEO Reinaldo Rabelo, em entrevista à Bloomberg Línea durante o Web Summit Rio na semana passada. A empresa cortou 190 funcionários ao longo de 2022. “Nossa expectativa é ficar até três anos sem captar.”

Segundo Rabelo, os fundos de capital de risco (venture capital) estrangeiros acreditam que o mercado não será tão líquido quanto foi em 2021, mas deve voltar a ter dinheiro relevante para startups continuarem seus projetos daqui a dois anos.

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“Estamos preparados para trabalhar com o nosso caixa suportando a operação nesse período”, afirmou. O Bitcoin tem estado sob pressão após uma série de transações envolvendo tokens de memes em sua rede. A criptomoeda, que dá nome à plataforma da 2TM, tem se recuperado parcialmente de uma queda nos preços de criptoativos no ano passado que contribuiu para o colapso da exchange FTX e de outros players, mas ainda está cerca de US$ 41 mil abaixo de seu recorde de quase US$ 69 mil em 2021.

Dinheiro de VC

O Mercado Bitcoin levantou um valor não divulgado de VCs em uma Série C com o fundo do Mercado Livre (MELI), a Endeavor Catalyst e a K3 Diversity Ventures em janeiro de 2022, segundo dados do PitchBook. O JPMorgan Elect, fundo de growth do JPMorgan (JPM) também participou da rodada.

Em novembro de 2021, a empresa levantou US$ 250,3 milhões de financiamento de risco em uma rodada Série B em um acordo liderado pela 10T Holdings e a Tribe Capital. TradersClub e outros investidores também participaram da rodada.

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“Captamos a um valuation muito alto, levantamos US$ 250 milhões a um valuation de quase US$ 2,2 bilhões. Isso equivale a algo em torno de 10% do captable”, disse Rabelo à Bloomberg Línea. “Os investidores têm uma participação saudável e consideramos que temos uma governança equilibrada entre os interesses dos investidores e os dos fundadores”.

Ele disse que não há pressão para uma saída para os investidores.

Questionado sobre rumores de interesse de empresas globais em adquirir o Mercado Bitcoin, Rabelo afirmou que essa venda hipotética não é o objetivo da empresa. O Mercado Bitcoin estava em negociações para ser adquirido pela Coinbase (COIN) em maio de 2022, segundo relatos. Posteriormente, o acordo teria sido cancelado, e a Coinbase entrou no Brasil com sua operaçãoprópria.

“Sempre recebemos abordagem de fundos e também de empresas e investidores estratégicos desde 2017. Empresas como Coinbase, Kraken e outras globais tendem a olhar operações relevantes na região em que elas querem se estabelecer para entrar já grande naquela região. É normal termos rumores de interesse de determinados players, mas não estamos focados nisso”, disse Rabelo.

Rabelo é ativo crítico da concorrente chinesa Binance em suas redes sociais e mídias. Disse que a exchange estrangeira “tem que resolver seus problemas”.

Player sistemicamente importante na indústria de cripto, a Binance tem passado por escrutínio crescente de autoridades americanas, que processam a empresa e seu fundador, Changpeng “CZ” Zhao, por supostamente violarem regras de negociação e derivativos, o que ambos negam.

Rabelo defendeu a operação do Mercado Bitcoin apontando o fato de que a 2TM é brasileira e cumpre regras locais. O CEO afirmou que a empresa está focada em entregar o modelo de negócio que se propôs a realizar no momento da captação com investidores, que pressupõe criar uma infraestrutura nova dentro do mercado financeiro de capitais, e não apenas ser um prestador de serviços para o mercado existente. “A gente luta pra ser um player relevante no mercado de capitais no futuro”, disse.

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Isabela  Fleischmann

Jornalista brasileira especializada na cobertura de tecnologia, inovação e startups