Inteligencia Artificial
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Bloomberg Opinion — Grandes avanços na tecnologia normalmente resultam em grandes aumentos patrimoniais. Então, com a continuidade do boom da inteligência artificial, uma pergunta óbvia é quem vai lucrar – e quanto. Minha visão, que pode ser desanimadora para empresários, mas boa para funcionários, é que dependendo do quanto a inteligência artificial vai mudar o mundo, os pioneiros não vão ficar tão ricos.

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As mudanças fundamentais alteram todas as partes da economia ao se tornarem ampla e prontamente disponíveis em uma ampla gama de setores. A IA será lucrativa, mas será difícil captar qualquer coisa próxima do valor total.

Analisemos a internet. Os empreendedores mais bem-sucedidos nas redes sociais ganharam enormes fortunas – mas os primeiros desenvolvedores da internet não. Mesmo se você convencesse que a internet seria algo importante, não seria fácil ganhar dinheiro com ela. Assim como os inventores das primeiras impressoras, como Gutenberg, que também não ficaram ricos.

E isso levanta outra questão óbvia: as manifestações atuais da IA – os grandes modelos de linguagens (LLMs) incorporados em serviços como o ChatGPT, por exemplo – são mais parecidas com a internet e as antigas impressoras, ou mais como as mídias sociais? As evidências até agora sugerem que elas estão no meio termo.

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O Facebook se beneficia dos efeitos da rede. Ou seja, você quer se conectar com amigos e familiares, portanto um serviço de rede social grande e de destaque terá uma vantagem considerável no mercado. Da mesma forma, quantas pessoas realmente migraram do Twitter para o Mastodon?

As principais empresas de IA não parecem ter essa vantagem. Se eu usar o ChatGPT da OpenAI, e você usar o Anthropic’s Claude, ainda podemos nos comunicar facilmente – através de outros meios. É até possível imaginar interligar os serviços usando texto, através de um terceiro intermediário.

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Um pequeno número de serviços de IA, possivelmente até mesmo um único, provavelmente se sairá melhor do que os outros para uma grande variedade de propósitos. Essas empresas podem comprar o melhor hardware, contratar os melhores talentos e gerenciar relativamente bem suas marcas. Mas elas enfrentarão a concorrência de outras empresas que oferecem serviços menores (mas ainda bons) a um preço mais baixo.

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Quando se trata de LLMs, já há uma proliferação de serviços, com produtos do Baidu, do Google e da Anthropic a serem lançados no mercado. O mercado de geração de imagem da IA está mais cheio ainda.

Em termos econômicos, a empresa de IA dominante pode ser algo como a Salesforce (CRM). A Salesforce é uma grande vendedora de software comercial e institucional, e seus produtos são extremamente populares. No entanto, o valuation da empresa é atualmente cerca de US$ 170 bilhões. Não é bem uma mudança radical, mas não se aproxima dos valuations de US$ 1 trilhão de outras empresas do setor.

A OpenAI, atual líder de mercado, recebeu um valuation privado de US$ 29 bilhões. Mais uma vez, isso não é motivo para sentir pena de ninguém – mas há muitas empresas que você talvez não tenha ouvido falar que valham muito mais. A AbbVie, uma biofarmacêutica, tem valuation de cerca de US$ 271 bilhões, quase 10 vezes mais que a OpenAI.

Para ser claro, nada disso é prova de que a IA irá se esgotar. Em vez disso, os serviços de IA entrarão no fluxo de trabalho de quase todos e permearão toda a economia. Todos serão mais ricos, principalmente os trabalhadores e consumidores que usam o produto. As principais ideias por trás da IA se espalharão e serão replicadas – e as principais empresas de IA do futuro enfrentarão muita concorrência, limitando seus lucros.

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Na verdade, a onipresença da IA pode reduzir seu valor, pelo menos de uma perspectiva de mercado. É provável que o boom da IA ainda não tenha atingido seu auge, mas o fervor especulativo é quase palpável.

Os preços das ações têm respondido com entusiasmo à evolução da IA. Por exemplo, as ações do Buzzfeed aumentaram 150% em um dia no mês passado, depois que a empresa anunciou que usaria a IA para gerar conteúdo. Isso realmente faz sentido, considerando a concorrência que o BuzzFeed enfrenta?

É quando esses preços e valuations começarem a cair que você saberá que a revolução da IA realmente chegou. No final, o maior impacto da IA pode ser para seus usuários, não para seus investidores ou mesmo para seus inventores.

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Esta coluna não reflete necessariamente a opinião do conselho editorial ou da Bloomberg LP e de seus proprietários.

Tyler Cowen é colunista da Bloomberg Opinion. É professor de economia na George Mason University e escreve para o blog Marginal Revolution. É coautor de “Talent: How to Identify Energizers, Creatives, and Winners Around the World.”

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