Bloomberg — Por pouco tempo, alguns dos clientes americanos da exchange FTX acharam que poderiam escapar do pior cenário em meio à crise de liquidez da plataforma de criptomoedas.
Isso porque na quinta-feira (10), a FTX US, uma entidade separada da FTX, publicou no Twitter (TWTR) que ainda estava operacional e que as retiradas estavam sendo processadas normalmente, mesmo quando o resto da empresa desabou.
Mas depois que o império de Bankman-Fried entrou com o pedido de recuperação judicial na sexta-feira (11), os clientes da FTX nos Estados Unidos não conseguiram ficar de fora do evento que abalou a indústria em geral, chocou os investidores e deixou traders de varejo enfrentando uma longa batalha para recuperar o dinheiro investido de volta.
Investidores de criptomoedas na plataforma FTX – que somavam mais de 5 milhões em todo o mundo, no auge – estarão acompanhando de perto o processo de recuperação judicial em busca de qualquer esperança de que possam ser reembolsados. No entanto, muitos estão se conformando com o fato de que seus investimentos podem desaparecer para sempre.
“A empresa e Sam Bankman-Fried pareciam confiáveis”, disse Justin Zhang, engenheiro de 34 anos de Los Angeles. “Achei que a FTX US era diferente por causa de todos os regulamentos estabelecidos, mas não é.”
Enquanto o aplicativo da FTX afirmava que seu resgate havia sido processado, Zhang disse que seu banco lhe informou que não havia recebido a notificação nem os fundos. Ele teme que todos os seus ativos na FTX US, que incluem Bitcoin, Ethereum e a coleção de NFTs Golden Warrior no valor de US$ 11.000, possam ser perdidos para sempre.
O site CoinDesk informou que a FTX US parou de processar saques na sexta-feira (11) após o pedido via Chapter 11. Um porta-voz da FTX não respondeu imediatamente a um pedido de comentário.
Processo de recuperação judicial
Neste sábado (12), os clientes da FTX amanheceram com novas notícias negativas sobre a empresa: foi registrada uma saída misteriosa de cerca de US$ 662 milhões em tokens das unidades internacionais e dos EUA da FTX. O caso foi chamado por Ryne Miller, conselheiro geral do braço americano da empresa, de “anormalidades nos movimentos de carteira”.
Daqui para frente, os clientes da FTX deverão ter novos momentos frustrantes, dado o processo de recuperação judicial em andamento. Os clientes da Voyager Digital e da Celsius Network, duas plataformas de criptomoedas que faliram no início deste ano, ainda estão sem acesso às suas contas e sem saber quanto dinheiro vão recuperar.
Em geral, quanto maior e mais complexa é uma empresa, mais tempo leva para o processo de insolvência se desenrolar – e o colapso da FTX parece ser o maior fracasso corporativo até agora este ano.
Até o momento, a FTX disse pouco sobre como pretende pagar os credores. Os documentos judiciais iniciais quase não oferecem nenhum indício de um plano, e uma declaração do novo CEO da empresa deixou claro que consultores foram contratados apenas muito recentemente.
Essa é uma das razões pelas quais Christ Keuchkerian, de Quebec, está aceitando o fato de que provavelmente nunca mais verá seu dinheiro investido na FTX. Ele tinha aproximadamente C$ 4.500 (ou US$ 3.395) investidos na exchange em tokens como Bitcoin (BTC) e Ethereum (ETH).
“Espero estar errado, mas acabei aceitando que tudo acabou”, disse o investidor de 36 anos. “Não vou receber um centavo de volta.”
Saques congelados
Garv Thakur, um indiano de 22 anos que usa a FTX há mais de um ano, disse que tem cerca de US$ 40.000 presos na exchange – cerca de 80% de suas economias.
Ele retirou algo em torno de US$ 1.000 na terça-feira (8), seguindo conselho de seus amigos, mas diz que deixou a maior parte de seu dinheiro na plataforma. Agora, está no limbo.
Apesar das perdas, Thakur disse que não vai deixar de investir em criptomoedas e que planeja usar a Binance para futuros investimentos em cripto. A FTX, pensou, era uma exchange de “primeira linha”. “Eu nunca esperei isso do Sam”, disse ele.
Tentativas continuam
Alguns clientes ainda estão tentando sacar seu dinheiro da FTX, com pouca sorte. John Pederson, tem cerca de 9.000 euros (ou US$ 9.318) em criptomoedas presas na agora falida exchange.
O jovem de 26 anos, que mora em Dublin, começou a transferir suas participações em pequenas quantias para outras exchanges no domingo (6). Mas, na manhã de terça-feira (8), um pedido de retirada de 2.000 euros em Bitcoin não foi aprovado e as solicitações de novos saques foram paralisadas.
Na quinta-feira (10), a FTX anunciou que permitiria que os usuários sacassem fundos comprando tokens selecionados da rede Tron, que poderiam depois ser trocados para carteiras externas. Pederson comprou tokens TRX logo após o anúncio, que estavam sendo negociados a um preço inflacionado na FTX em comparação com outras grandes exchanges. Ele disse que seus pedidos para transferir os tokens TRX para uma carteira externa ainda não foram processados.
Agora, cerca de um terço de suas participações totais em criptomoedas está preso no limbo. “Acho que nunca verei isso de volta”, disse Pederson. “Esta foi uma lição muito cara.”
-- Com a colaboração de Mackenzie Hawkins.
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