Por que a XP arrematou o aeroporto de Campo de Marte?

Gestora do grupo fundado por Guilherme Benchimol faz proposta única também pelo aeroporto de Jacarepaguá, no Rio de Janeiro

O setor de infraestrutura  é visto por especialistas como uma oportunidade de negócio de longo prazo
18 de Agosto, 2022 | 04:43 PM

Bloomberg Línea — O grupo financeiro XP Inc. (XP) decidiu apostar no setor aeroportuário: adquiriu a concessão por 30 anos de dois aeroportos icônicos da aviação executiva do Brasil: o Campo de Marte, que tem a maior frota de helicópteros do país, na zona norte de São Paulo, e o de Jacarepaguá, no Rio de Janeiro.

A gestora de recursos do conglomerado, a XP Asset, foi a única a apresentar proposta e arrematou o direito de operar os dois ativos por R$ 141,4 milhões, praticamente sem ágio (0,01%) em relação ao preço fixado, em leilão na B3 nesta quinta-feira (18). O leilão transferiu para a iniciativa privada um total de 15 aeroportos, incluindo o de Congonhas (SP), o segundo mais movimentado do país.

O setor de infraestrutura brasileiro é visto por especialistas como uma oportunidade de negócio viabilizando melhores retornos para investimentos em equities. Não é a primeira vez que a XP joga suas fichas no segmento.

“É um motivo de orgulho participar de mais um capítulo das concessões aeroportuárias brasileiras. A XP já vinha investindo no setor através de dívida”, disse Túlio Azevedo Machado, head de infraestrutura da XP Asset, antes de bater o martelo.

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Formalmente, o nome do vencedor dos dois aeroportos foi o fundo de investimento XP Infra IV FI Participações de Infraestrutura. Assumindo o compromisso, a XP terá que fazer investimentos (Capex) de R$ 560 milhões.

Inaugurado em 1920, o Campo de Marte foi o primeiro aeroporto da cidade de São Paulo. Segundo a Infraero (Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária), o aeroporto opera aviação geral, executiva, táxi aéreo e escolas de pilotagem, com mais de 20 hangares para a aviação executiva.

Nos últimos anos, a XP chegou a usar, por exemplo, o acesso à sala VIP de aeroportos (por exemplo, Guarulhos em São Paulo e Galeão no Rio de Janeiro) como uma isca - benefício - para captar clientes para sua linha de cartão de crédito.

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A oferta da XP foi feita em parceria com a francesa Egis Airport Operation, que divide o controle do aeroporto de Viracopos, em Campinas (SP), com a TPI (Triunfo Participações e Investimentos) e a UTC Participações desde 2012.

O leilão ocorre em um momento de expansão da aviação executiva no Brasil. No mês passado, a operadora canadense de capital de investidores árabes AEPM Services assinou um contrato para construir e operacionalizar um terminal VIP no Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos (SP), a partir de 2023, em um investimento estimado de US$ 80,6 milhões.

Outro investimento privado é o Catarina Aeroporto Executivo Internacional, terminal aeroportuário internacional em São Roque, a cerca de 70 km da capital paulista. Inaugurado pela JHSF (JHSF3) no fim de 2019, o local, que já recebeu neste ano até o CEO da Tesla (TSLA), Elon Musk, é um hub aéreo frequentado pela elite do mercado financeiro.

Carro voador

A expectativa de início da operação de “carros voadores”, como são popularmente conhecidos os eVTOLs (aeronaves elétricas de pouso e decolagem vertical), também tem estimulado os investimentos no segmento, principalmente no Sudeste, onde os deslocamentos aéreos entre São Paulo e Rio de Janeiro são mais intensos devido às viagens de negócios.

No começo deste ano, a Flapper, plataforma de fretamento aéreo, líder na América Latina, previu o lançamento das aeronaves de diferentes tecnologias e designs para o intervalo de 2026 e 2030, dependendo do andamento dos projetos e do processo de certificação. A Eve, da Embraer (EMBR3), a Electra, a Jaunt e a MagniX, entre outras, estão na corrida para ampliar a mobilidade aérea urbana na América Latina.

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Sérgio Ripardo

Jornalista brasileiro com mais de 25 anos de experiência, com passagem por sites de alcance nacional como Folha e R7, cobrindo indicadores econômicos, mercado financeiro e companhias abertas.