Investidor do Botafogo faz aposta de US$ 1 bi e não descarta IPO no futuro

John Textor levou apenas 12 meses para ir de fanático do esporte para empresário com objetivo de “criar um ecossistema de clubes”

Textor está lançando um sistema de reconhecimento facial no Botafogo para que os torcedores possam usá-lo para a emissão de ingressos, entrada no estádio e compras em dias de jogos
Por David Hellier
11 de Agosto, 2022 | 03:22 PM

Bloomberg — John Textor levou apenas 12 meses para passar de fã de futebol, assistindo a centenas de jogos por ano, a um dos maiores investidores do esporte.

Ele adquiriu participações em times que vão de Londres ao Rio de Janeiro, construindo um império do futebol como um negócio para se lançar contra a elite de mega ricos dos jogos. É um segundo ato para Textor, que construiu sua reputação e riqueza ao longo de décadas como investidor em tecnologias digitais disruptivas.

A mudança para o futebol foi rápida, mesmo para o padrão atual dos americanos que se aprofundam no esporte. Ele ainda não terminou a sua jornada, recentemente entrando em negociações para comprar o time francês da Ligue 1 Olympique Lyonnais no que poderá ser a sua maior aposta no jogo até o momento. Se for concluído, o time de futebol de Textor terá um valor de cerca de US$ 1 bilhão, incluindo dívidas.

“Meu plano é criar um ecossistema de clubes cooperativos de primeira linha que se beneficiarão do compartilhamento de uma pegada global de identificação de talentos”, disse Textor, que fica sediado na Flórida, em entrevista.

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A jornada do empresário de 56 anos como dono de empresas do ramo do futebol completou um ano nesta semana, quando ele começou comprando o time da Premier League inglesa Crystal Palace FC. Os investimentos no brasileiro Botafogo e no RWD Molenbeek da Bélgica vieram logo em seguida pelo seu grupo, o Eagle Football Holdings LLC.

O modelo multiclube é o preferido por outros investidores sediados nos Estados Unidos que buscam reduzir os custos de propriedade do futebol. Eles acreditam que, ao compartilhar jogadores entre equipes, a necessidade de gastar milhões de dólares em transferências caras, salários e taxas de agentes será erradicada.

Textor vê a abordagem como uma solução para clubes como Paris Saint-Germain FC, Manchester City FC e Chelsea FC, cujos sucessos recentes foram financiados por estados ricos em energia e bilionários.

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“Ted Lasso pode vencer com o elenco do Manchester City”, disse Textor, referindo-se ao treinador fictício interpretado por Jason Sudeikis no seriado da Apple TV+. “Estou apenas esperando demonstrar que abordagens alternativas à competitividade devem ser exploradas e incentivadas.”

Grandes clubes

Os críticos do modelo multiclube dizem que ele cria “times de fazenda” — termo usado no baseball para se referir a um clube de uma liga menor associado a um time da liga principal, com o único propósito de servir como um atrativo para os investidores. Mas Textor foi ousado com sua escolha de clubes e é improvável que os torcedores do Crystal Palace e do Lyon, em particular, queiram jogar como apoio um para o outro.

Muito pelo contrário: a torcida provavelmente exigirá investimentos em elencos e infraestrutura para ajudar a conquistar troféus e se classificar para competições mais prestigiosas e lucrativas.

O Crystal Palace terminou a temporada passada 45 pontos atrás do campeão Manchester City. A equipe, que não conquistou um troféu importante, começou sua atual campanha na EPL na semana passada com uma derrota por 0-2 para o Arsenal FC. O Lyon, mais acostumado ao sucesso em seu campeonato doméstico, foi superado nos últimos anos pelo PSG, com investimentos do Catar, enquanto o Botafogo busca um retorno à glória após um período de turbulência financeira.

“Se construirmos caminhos controlados e integrados entre países e clubes, podemos ser reconhecidos pelos aspirantes a jogadores em nossos mercados como um ótimo lugar para se desenvolver, permitindo-nos contratá-los antes que os grandes clubes possam comprá-los”, disse Textor. “Desenvolver jogadores é melhor que negociá-los, para o sucesso competitivo e para o nosso negócio.”

Paixão e lucro

Ex-skatista competitivo, a paixão de Textor pelo esporte é fácil de se ver, especialmente nas redes sociais. O usuário assíduo do Twitter já pediu a demissão de um árbitro brasileiro depois que ele marcou um pênalti contra o Botafogo — uma jogada incomum para um dono de clube — e zombou do Olympique de Marseille, rival do Lyon na Ligue 1, brincando que o time nove vezes campeão é um “pequeno clube”.

Enquanto suas primeiras apostas no futebol foram financiadas principalmente com o dinheiro dele e de sua esposa, Textor agora tem outros investidores para animar. O acordo de Lyon tem o apoio da Cannae Holdings, um veículo de investimento controlado por Bill Foley, dono da equipe Vegas Golden Knights NHL. Jamie Salter, chefe da Reebok, de propriedade da Authentic Brands, apoiou o Eagle Football, disse Textor.

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Ao contrário dos tradicionais proprietários de futebol europeu, os investidores norte-americanos têm se mostrado mais focados em gerar retorno sobre o capital no esporte e Textor busca alavancar sua experiência em tecnologia digital para encontrar novas formas de gerar receita dos torcedores de seus clubes.

“O futebol está na idade das trevas quando se trata de engajamento dos fãs”, disse ele. “O público é mais valioso que a equipe.”

Tecnologia a favor

Um dos negócios mais importantes de Textor foi a fusão em 2020 da plataforma de streaming fuboTV, na qual já foi presidente executivo, com o Facebank Group, empresa que ele mesmo fundou. O Facebank é especializado em tecnologia de reconhecimento facial, que, segundo Textor, pode ser usada para aproximar os torcedores dos clubes e, crucialmente, facilitar os gastos com mercadorias.

Ele está lançando um sistema de reconhecimento facial no Botafogo para que os torcedores possam usá-lo para a emissão de ingressos, entrada no estádio e compras em dias de jogos. O plano é oferecer o mesmo no Crystal Palace, onde o Facebank já tem um acordo de patrocínio, e no Lyon no futuro.

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“Com o sistema de engajamento de fãs do Facebank, você pode participar com seu rosto, pagar seu cachorro-quente com seu rosto”, disse Textor.

Mas o histórico de negócios da Textor não está isento de problemas. Dez anos atrás, o Digital Domain Media Group, um grupo de efeitos visuais que ele liderou e que criou gráficos para filmes, incluindo “Titanic”, pediu falência. “Eu não perdi dinheiro com esse negócio”, disse ele. “Mas eu perdi tudo o que importava para mim naquele momento.”

Olhando mais adiante, Textor não descarta investir em mais clubes de futebol ou eventualmente buscar uma oferta pública inicial (IPO) de seu veículo de investimento.

“Como próximo passo, grandes fontes de capital serão introduzidas no Eagle Football”, disse ele. “Vou levar parceiros com uma visão comum.”

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-- Com a assistência de Crystal Tse

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