Conteúdo feito para um pequeno e seleto grupo pode ser a norma no futuro
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Bloomberg Opinion — Será que chegamos ao auge das redes sociais?

Muitas das principais empresas de mídia social dos Estados Unidos, como Snap (SNAP), Twitter (TWTR) e Pinterest (PINS), valem menos do que valiam no dia em que abriram seu capital. As ações da Meta (META) atualmente são negociadas por menos da metade do preço de seu pico mais alto. A empresa anunciou que está mudando seu feed de notícias para enfatizar o conteúdo de seu “mecanismo de descobertas” em vez de publicações de seus amigos e familiares. O Instagram, subsidiária da Meta, anunciou uma mudança semelhante e foi duramente criticado.

A queda no valor de mercado pode ser temporária, e há uma boa chance de o setor se recuperar com a criação de novas empresas e produtos. Ainda assim, a noção de que a mídia social já passou de seu auge não é mais impensável. Como seria um futuro com menos redes sociais?

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Para mim, uma das perguntas mais fundamentais sobre a natureza humana neste momento é o quanto as pessoas gostam de exibir suas vidas a um público mais amplo, seja através de palavras, fotos ou vídeos. Lembro-me do declínio dos blogs, desde sua era dourada (aproximadamente 2001 a 2012) até agora. Ainda há muitos bons blogs, mas eles não têm a ampla relevância cultural que outros tiveram em seu apogeu.

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Por que os blogs acabaram? Consigo pensar em pelo menos três motivos Primeiro, muitas das pessoas que produzem conteúdo preferiram escrever para um público mais restrito ou mais privado, e o fizeram assim que o Facebook se tornou mais popular. Segundo, o YouTube tornou-se mais popular, e muitas das pessoas que consomem conteúdo preferem vídeos a blogs. Por fim, a ascensão do Twitter mostrou que pequenas partes são muitas vezes mais divertidas de ler do que longos posts de blogs.

Vamos deixar este motivo de lado, pois o futuro do Twitter no momento não é exatamente promissor, já que a empresa está presa entre um comprador que parece não querer mais a rede social e uma administração não o dirige muito bem. Espero que o Twitter continue existindo, mas não é o futuro das redes sociais.

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Se eu considerar meu próprio uso das redes sociais, é o WhatsApp (também de propriedade da Meta) que está em constante ascensão, o que é coerente com a tendência de mensagens privadas e em pequenos grupos.

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Portanto, será que escrever para um público privado e seleto vai ofuscar o conteúdo feito para um público mais amplo nas redes sociais? O que significariam mais mensagens e contas privadas em redes sociais para o discurso público?

Os intelectuais públicos ainda podem escrever em redes sociais abertas, mas o setor como um todo se voltaria para formas mais pessoais e íntimas de comunicação. Mais uma vez, isto não é uma previsão. Mas seria uma visão tão implausível do futuro?

Uma das formas mais robustas de rede social são as plataformas de relacionamento, embora estas empresas não tenham os maiores valuations. O percentual de casais que se conheceram online continua aumentando, e essa tendência não deve diminuir em um futuro próximo. Mas as plataformas de relacionamento podem não ter o aspecto “social” de outras redes sociais: as pessoas olham alguns perfis e logo migram para a comunicação privada.

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As comunicações privadas parecem resolver muitos dos problemas citados pelos críticos das redes sociais. Estas não corromperiam tanto o discurso público porque haveria menos discurso público para corromper. E criticar as novas manifestações dessas (antigas?) plataformas de mídia social seria semelhante a criticar a própria comunicação.

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Os vídeos também podem continuar sua ascensão. Mesmo que muitas empresas de mídia social dos EUA diminuam seu valor, o TikTok e seus vídeos curtos são os grandes vencedores nos últimos anos. Independentemente de a empresa manter sua liderança atual no mercado, é fácil imaginar que o vídeo irá se sobrepor cada vez mais ao texto. Mesmo em aviões, venho notando que as pessoas parecem preferir assistir a algo a ler um livro.

Nesse futuro hipotético, as redes sociais podem parecer a boa e velha fofoca. Em vez de fofocar pessoalmente ou ligar para um amigo, as pessoas simplesmente usariam seu serviço de mensagens favorito. Elas podem contar o “bafo” em de forma privada e depois mencioná-lo em público. Ou, mais diretamente, as pessoas usariam as redes sociais apenas para fofocar em vez de debater os assuntos do dia. Muitos vídeos misturam conversa casual e movimento. No TikTok, por exemplo, adereços e mímica são populares em muitos canais.

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Minha opinião sobre essa possível ascensão das fofocas s custas do lado social das redes sociais é conflitante. Durante a última década, centenas de artigos foram publicados sobre como as redes sociais provocarão a morte da democracia e arruinarão a vida das adolescentes. Agora, parece improvável: mesmo válida, essa preocupação pode ficar obsoleta.

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O novo vilão pode ser a fofoca – exacerbada pelo poder das comunicações instantâneas. De muitas maneiras, os problemas do mundo pós-redes sociais podem refletir os do mundo pré-redes sociais. Lá se vai o progresso.

Esta coluna não reflete necessariamente a opinião do conselho editorial ou da Bloomberg LP e de seus proprietários.

Tyler Cowen é colunista da Bloomberg Opinion. É professor de economia na George Mason University e escreve para o blog Marginal Revolution. É coautor de “Talent: How to Identify Energizers, Creatives, and Winners Around the World.”

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